O presidente Michel Temer disse que seria "admissão de culpa" renunciar ao mandato. "Se quiserem, me derrubem", afirmou o pemedebista em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" publicada nesta segunda-feira (22).
'Renunciar seria admissão de culpa. Se
quiserem, me derrubem', diz Temer a jornal
Presidente afirmou em entrevista à 'Folha de S. Paulo' que irá
demonstrar força política durante as próximas semanas.
Por
G1
22/05/2017 07h05 Atualizado
há 10 minutos
Michel Temer reafirma que não
pretende renunciar, em entrevista à Folha de S. Paulo
O presidente
Michel Temer disse que seria "admissão de culpa" renunciar ao
mandato. "Se quiserem, me derrubem", afirmou o pemedebista em
entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" publicada nesta segunda-feira
(22).
“Agora,
mantenho a serenidade, especialmente na medida em que eu disse: eu não vou
renunciar. Se quiserem, me derrubem, porque, se eu renuncio, é uma declaração
de culpa”, afirmou.
Alvo de um
inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de suspeita de
corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa, Temer enfrenta
a maior crise política de seu mandato. Neste fim de semana, a Ordem dos
Advogados do Brasil decidiu
apresentar pedido de impeachment ao Congresso, onde a
oposição já lidera um movimento pela saída do presidente. Além disso, informou
o colunista do G1 Gerson Camarotti, os articuladores políticos
do governo foram avisados que parte da base aliada quer a renúncia do
pemedebista.
O inquérito
contra Temer tem como base as delações dos donos da JBS, Joesley e Wesley
Batista. Joesley gravou uma conversa com o presidente numa reunião em 7 de
março na residência oficia do Palácio do Jaburu. Segundo o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, a conversa indica "anuência"
de Temer ao pagamento de propina mensal, por Joesley, para
comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba
pela Operação Lava Jato.
O presidente
afirmou que a regra que ele próprio estabeleceu, de afastar ministro que virar
réu, não vale para ele. “Não, porque eu sou chefe do Executivo. Os ministros
são agentes do Executivo, de modo que a linha de corte que eu estabeleci para
os ministros não será a linha de corte para o presidente”.
Conversa foi induzida
Temer afirmou
que "num primeiro momento" não sabia que Joesley Batista era
investigado, embora a JBS tenha sido alvo de três operações recentes do
Ministério Público Federal e da Polícia Federal – a Cui Bono?, a Sespis e a
Greenfield.
Para Temer, a
gravação de Joesley foi uma tentativa de induzir uma conversa. “Tenho
demonstrado com relativo sucesso que o que o empresário fez foi induzir uma
conversa. Insistem sempre no ponto que avalizei um pagamento para o ex-deputado
Eduardo Cunha, quando não querem tomar como resposta o que dei a uma frase dele
em que ele dizia: ‘olhe, tenho mantido boa relação com o Cunha’. [Eu disse]
‘mantenha isso’”, disse referindo-se a parte da ‘boa relação’.
O presidente
negou que tenha prevaricado [deixado de agir] ao ouvir um empresário dentro de
casa relatando crimes – no encontro, Joesley disse que vinha usando juízes e um
procurador da República em seu benefício.
“Eu ouço
muita gente, e muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta.
Muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta. Ele foi
levando a conversa para um ponto, as minhas respostas eram monossilábicas”.
Sobre o encontro
ter ocorrido fora da agenda oficial, à noite, o presidente afirmou ser tratar
um hábito que não é ilegal. “Não é ilegal porque não é da minha postura ao
longo do tempo. Talvez eu tenha de tomar mais cuidado. Bastava ter um detector
de metal para saber se ele tinha alguma coisa ou não, e não me gravaria."
Perguntado sobre
qual era sua culpa no caso, Temer respondeu ser a "ingenuidade".
"Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento."
O presidente Michel Temer durante
pronunciamento no Palácio do Planalto, em Brasília (Foto: Evaristo Sá/AFP)
Montagem
Temer foi
questionado sobre seu assessor, Rodrigo Rocha Loures, que foi filmado
com uma mala com R$ 500 mil entregue por um executivo da
JBS. No encontro no Alvorada, dias antes, Temer havia dito que Joesley podia
tratar de "tudo" com Rocha Loures.
O presidente
indica que houve uma montagem desses fatos.
"Vou
esclarecer direitinho. Primeiro, tudo foi montado. Ele [Joesley] teve
treinamento de 15 dias [para fazer a delação], vocês que deram [refere-se à
Folha], para gravar, fazer a delação, como encaminhar a conversa", disse
Temer. "O que [Joesley] fez? A primeira coisa, orientaram ou ele tomou a
deliberação 'Grave alguém graúdo'. Depois, como foi mencionado o nome do
Rodrigo, certamente disseram: 'Vá atrás do Rodrigo'. E aí o Rodrigo certamente
foi induzido, foi seduzido por ofertas milaborantes e irreais".
Temer admitiu
que Rocha Loures "errou, evidentemente" e que receber R$ 500 mil não
é um gesto "aprovável", mas disse não se sentir traído, e considerou
o o assesso como alguém "de muito boa índole". O presidente
argumentou que ao dizer "tudo", se referia a matérias administrativas,
e ressalta que os problemas da JBS no BNDES e no Cade que supostamente seriam
resolvidos por intermédio de Rocha Loures, não o foram.
Temer desviou do
assunto quando perguntado sobre áudios de executivos dizendo que ele pediu
caixa 2 em 2010, 2012 e 2016.
Perda de apoio
O presidente
falou sobre a perda de apoio. Na quinta-feira (18), o ministro da Cultura,
Roberto Freire (PPS) deixou o cargo. No sábado, o PSB decidiu deixar a base
governista e pedir a renúncia de Temer – o ministro das Minas e Energia,
Fernando Coelho Filho, do partido, permanece no cargo.
“O PSB eu não
perdi agora, foi antes, em razão da Previdência. No PPS, o Roberto Freire veio
me explicar que tinha dificuldades. Eu agradeci, mas o Raul Jungmann, que é do
PPS, está conosco”, argumentou Temer. Já o PSDB – prinicipal partido da base
aliada – vai manter a fidelidade até "31/12 de 2018", disse Temer.
O presidente
afirmou que a crise não afetará o plano do governo em aprovar reformas. “Eu vou
revelar força política precisamente ao longo dessas próximas semanas com a
votação de matérias importantes. Tenho absoluta convicção de que consigo. É que
criou-se um clima que vai ser um desastre, de que o Temer está perdido. Eu não
estou perdido”.
Temer disse
acreditar que o caso não irá afetar o julgamento da chapa Dilma-Temer no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode resultar na cassação do mandato do
presidente. “Acho que não. Os ministros se pautam não pelo que acontece na
política, mas pelo que passa na vida jurídica”.
Por fim, o
presidente se declarou surpreso pela decisão da OAB de pedir o impeachment.
“Lamento
pelos colegas advogados. Eu já fui muito saudado, recebi homenagens da OAB. Tem
uma certa surpresa minha, porque eles que me deram espada de ouro, aqueles
títulos fundamentais da ordem, agora se comportam dessa maneira. Mas reconheço
que é legítimo.”
Entenda a crise
Na semana
passada, foram divulgadas as informações prestadas pelos empresários Joesley e
Wesley Batista, donos da JBS, ao Ministério Público Federal, no acordo de
delação premiada fechado por eles no âmbito da Operação Lava Jato.
Aos
investigadores, os irmãos Batista entregaram documentos, fotos e vídeos como
prova das informações fornecidas. As delações deles e de outros executivos da
JBS já foram
homologadas pelo Supremo Tribunal Federal e o conteúdo, divulgado na
última sexta-feira (19).
Com base no que
foi relatado pelos delatores, o ministro do STF Luiz Edson Fachin, relator da
Lava Jato, autorizou a abertura de
inquérito para investigar Temer e outros políticos, entre
os quais o senador Aécio Neves
(PSDB-MG), afastado do mandato parlamentar por determinação
do Supremo.
Temer
investigado pelos crimes de corrupção passiva, obstrução à Justiça e
organização criminosa. O presidente tem negado em pronunciamentos e em notas à
imprensa todas as acusações e já pediu ao Supremo
para suspender o inquérito.
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