O Roçado que cresceu e virou cidade.
FONTE Bolog História de Ibicaraí http://historiadeibicarai.blogspot.com/2012/06/do-desbravamento-emancipacao.html?m=1
O território onde hoje está localizada a
cidade de Ibicaraí começou a ser desbravado no início do século passado, quando
ao abrir uma clareira na parte central da Mata Atlântica, especificamente 40 km
a oeste da cidade de Itabuna, o desbravador Calisto Roxo deu início ao plantio
das primeiras sementes de café na região. Não se sabe ao certo se o Convênio de
Taubaté teve alguma influência na escolha do produto. No
entanto, Calisto Roxo, após alguns anos labutando com a monocultura cafeeira,
decidiu desfazer-se das terras, que foi arrematada pelo valor de Cr$ 400,00
(quatrocentos cruzeiros) pelo agricultor Manoel Marques dos Santos Primo, lá
pelo ano de 1916.
Vários motivos podem ter sido influenciados
para que Calisto Roxo se desfizesse de suas terras, dentre estes motivos estão
os frequentes relatos das inconvenientes visitas de indígenas que circulavam
pela região, Adonias Filho em seu livro SUL DA BAHIA: CHÃO DE CACAU escreve que
“Manoel Marques e Calisto Roxo lutam em Ibicaraí, às margens do Rio Salgado, um
dos afluentes do Cachoeira, para pacificar índios, certamente pataxós.”
Não se sabe exatamente se a presença constante
dos índios foi ou não motivo para a concretização do negócio entre Calisto Roxo
e Manoel Marques, no entanto, ao adquirir as terras de Calisto, Manoel passou a
construir uma nova história na região e, sem querer perder tempo, Manoel
Marques transferiu-se com sua família para o roçado e passou a cultiva a
cultura cacaueira. O fato acarretou na imigração de diversos moradores para a
região, no qual, Manoel e sua família foram acolhedores e distribuíram sesmaria.
As poucas famílias que chegavam anualmente
foram se aglomerando e não demorou muito para que o roçado logo se
transformasse num pequeno povoado. No local onde hoje está situada a Praça
Olintho Matos, foi construído um barracão, onde homens que desbravavam a Mata,
para introduzir o plantio de diversas culturas, se reuniam e colocavam as
conversas em dias. Muitos deles aproveitavam para negociar o que produziam em
suas terras. Devido as frequentes palestras que os homens proferiam quase que
diariamente no Barracão, o povoado foi batizado com o nome de PALESTRA.
O fato é que Palestra crescia pujantemente e a
população que se estabelecia desordenadamente no local, logo necessitou de um
especialista para a demarcação das terras. No ano de 1920, o Sr. Saturnino
Marques, pai de Manoel Marques, trouxe o engenheiro Aurélio Caudas para realizar
a demarcação das terras e, ao deparar-se com o território fértil, o engenheiro
afirmou que ali era uma “Terra Santa”. O termo foi recebido pelos moradores do
povoado como elogio, que passou a chamar o local de PALESTINA, numa referência
à “Terra Sagrada” do povo judeu.
Neste momento surge a figura do comerciante e
fazendeiro Francisco Assis Araújo, que se destacou entre os moradores do
vilarejo. Ele foi responsável pelo primeiro cinema de Palestina, numa época de
muitos obstáculos. Waldyr Montenegro diz que “Quando Palestina já contava com 3
(três) mil habitantes, Assis Araújo montou um cinema com a maior dificuldade
para transportar todo material pesado em ombros de homens fortes, que
percorreram 48 km entre Itabuna e Palestina, em estrada de pedestre de má
qualidade”. Além do cinema Assis Araújo montou a primeira escola e trouxe as
primeiras professoras. Ele foi premiado pela prefeitura de Itabuna com o valor
de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) após ter realizado uma grande venda de
fumo e algodão de alta qualidade para o exterior, além ter sido considerado um
dos maiores produtores de cacau da região. Por seu intermédio foi construída a
primeira igreja, inaugurada no ano de 1928, numa missa realizada pelo Mons.
Moisés Gonçalves Colto. Este fato, no entanto, acarretou a sua decadência,
quando, ao se desentender com o pároco João do Prado, buscou apoio da
população, e este lhe foi negado. Decepcionado, Assis Araújo se desfez de tudo
que havia construído em Palestina e retornou a sua terra natal no recôncavo
baiano.
No ano de 1937, Ibicaraí deixou de ser um
simples povoado tornando-se distrito de Itabuna. Neste período
Palestina/Ibicaraí teve 12 (doze) administradores sendo eles: José tito de
Lima, Obner Alves Assis, Bianor Marques Gonçalves de Lima, Henrique
Pimentel Sampaio, João Ferreira Araújo, Justino Marques, Tescon B.
Miranda, Manoel Caxingó, Porfírio Tavares Sousa, Raimundo Ribeiro, Manoel
Carvalho de Batista e Almir Barbosa Menezes. Sendo que, Justino
Marques e Porfírio Tavares foram administradores em duas oportunidade.
No ano de 1943, por força do decreto-lei de n°
141, Palestina passou a se chamar IBICARAÍ, que na língua Tupi quer dizer: Ibi
= Terra - Karaú = Sagrado. A essa altura, a considerada alta sociedade do
distrito, já se mobilizava para lutar pela emancipação, fato que só foi
concretizado no dia 22 de outubro de 1952, através da Lei Estadual de n° 491,
assinada pelo governador Regis Pacheco, sob a presença da Comissão
Emancipacionista liderada por Dagmar Pinto e demais políticos de Ibicaraí, além
dos políticos de Floresta Azul, Santa Cruz da Vitória, Firmino Alves, Itaiá e
Itororó, que fizeram acordos com os políticos ibicaraienses, para emanciparem
suas localidades nos anos seguintes.
O fato é que o prefeito de Itabuna se recusou
a perder todo aquele território e impetrou recurso no intuito de invalidar o
Decreto de Regis Pacheco. Entretanto, em dezembro de 1954, o governo federal
autorizou a realização das eleições, que acabou sendo disputada entre Dr. Henrique
Sampaio, Amir Menezes e Manoel Batista. Dr. Henrique acabou se
tornando o primeiro prefeito do Município de Ibicaraí.
Nos primeiros 40 (quarenta) anos após a
emancipação, o município de Ibicaraí passou por diversas fazes de crescimento.
No entanto, entre o final do século passado, para o início deste século, a
cidade que crescia vigorosamente acabou entrando em colapso, tanto no
setor agrário como no industrial. A população que em 1979, segundo o IBGE,
atingiu a marca de 33.110 habitantes, no senso de 2010 não passou dos 24.272
tornando-se uma agravante para o município.
Durante este tempo, o município teve quinze
eleições para prefeito, no qual, Henrique Oliveira aparece em destaque, por ter
administrado a cidade em quatro oportunidades. (confira a lista
de prefeitos de Ibicaraí).
Na atualidade há um clima instável, ou seja,
há uma incógnita se a situação irá melhorar ou não. No senso de 2010, por
exemplo, Ibicaraí atingiu um dos maiores índices de desigualdade do estado, um
fato agravante para quem precisa crescer. O prefeito Lenildo Santana, que
tentará a reeleição este ano, ainda não divulgou nenhuma medida para mudar a
situação. Porém, planos do governo federal e do estado como a abertura de uma
agência do INSS e o asfaltamento e melhoramento do saneamento básico de algumas
ruas da cidade, tem demonstrado que de alguma forma Ibicaraí esta
mudando.