Moradores de São Caetano do Sul aproveitam tarde
de segunda-feira no parque da Avenida Kennedy e
elogiam segurança da cidade
(Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
Morar em São Caetano do Sul, na Região Metropolitana de São Paulo,
cidade mais uma vez líder no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) do país, não
será tarefa fácil nos próximos anos. Para manter a qualidade dos
serviços municipais, o prefeito do município afirma que está
“desestimulando” as construtoras de empreendimentos residenciais a
construírem na cidade. “Não queremos ser cidade dormitório”, afirma
Paulo Pìnheiro.
O IDH mede o nível de desenvolvimento humano de determinada região. O estudo do
Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) foi divulgado nesta
segunda-feira (29) intitulado "Atlas do Desenvolvimento Humano no
Brasil 2013".
O IDH dos municípios vai de 0 a 1 e considera indicadores de
longevidade (saúde), renda e educação. São Caetano, que tem 149.263
habitantes, segundo dados do IBGE, tem índice de 0,862 e está entre os
44 municípios do país a registrar desenvolvimento humano "muito alto"
(acima de 0,800). O IDHM do Brasil é 0,727, considerado "alto" (entre
0,700 e 0,799).
Entre 2000 e 2010, o que mais cresceu em termos absolutos no município
foi educação (com crescimento de 0,071), seguida por renda e por
longevidade. O prefeito Paulo Pinheiro (PMDB) comemora os índices, mas
afirma que, para manter a qualidade de vida para a população, a cidade
deverá priorizar os prédios comerciais.
“Não queremos novos moradores, realmente. Se não, aumenta muito a
quantidade de moradores e o orçamento da prefeitura é o mesmo. Então
todos esses serviços que a gente gasta a mais com essa família é muito
mais do que o IPTU que ela paga para o município. Por isso que a gente
quer prédios comerciais”, diz.
Na
Avenida Presidente Kennedy, uma das principais de São Caetano do Sul,
há uma ciclovia com projeto paisagístico próprio, que ocupa todo o
canteiro central. É possível andar de bicicleta e fazer caminhadas. (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
Qualidade tem preço
Os moradores elogiam a cidade, mas afirmam que a qualidade "tem preço".
“Aqui é muito calmo, tranquilo. Tem saúde, educação. Nós viemos por
causa do trabalho dos nossos maridos. A terceira idade tem muitas
regalias, programas de natação, ginástica. Minha sogra faz dança, viaja
em grupo”, afirma a moradora Michele Rosa de Souza, de 27 anos. "Mas é
tudo mais caro. A gente sai e vai para Santo André [cidade vizinha no
ABC Paulista] comprar tudo, roupa, comida. É muito mais caro que em
outras cidades", diz, enquanto brinca no parque da Avenida Kennedy com a
filha no bairro Olímpico.
“Pela qualidade dos serviços que a cidade tem, aí encarece. O aluguel
aqui é mais caro, o metro quadrado do que as cidades vizinhas. Mas vale a
pena. É compensador”, diz o prefeito.
Nos bairros principais, há pontos de ônibus novos
com cobertura (Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
É a terceira vez que o órgão da ONU realiza o levantamento. Nesta
edição, a pior avaliação é do município de Melgaço, no Pará. São
Caetano, que faz divisa com a capital paulista, teve também o melhor
IDHM em 2003 e em 1998.
Segurança
“Também tem cursos de inglês, as escolas são muito boas. Mas nas
entradas da cidade, principalmente na divisa com Santo André, anda meio
perigoso”, critica Liliane Sales, de 36 anos, que mora há dois no bairro
Barcelona.
“Aumentou um pouco o assalto mesmo. Meu cunhado foi assaltado no sinal
às 9h perto da Avenida [Almirante] Delamare”, complementa Michele. A
avenida fica próxima ao bairro de Heliópolis, a maior favela da capital
paulista. “Ali já teve arrastão e nada muda.”
Apesar disso, os moradores afirmam que a cidade tem muitos pontos
positivos, entre eles pontos de ônibus novos, ruas asfaltadas e nenhuma
favela. “Aqui é tudo de bom”, diz Iracema Conceição, que saiu do bairro
do Ipiranga para ir ao médico em São Caetano. “Minhas irmãs moram aqui.
Se eu pudesse, morava também. Favela você não vai achar não, difícil”,
diz. “Mas aqui é muito caro para mim.”
"Aqui nunca teve favela, é uma cidade que é rodeada de favela, mas que
não tem favela”, afirma o prefeito. As favelas do entorno, como
Heliópolis, no entanto, acabam aumentando os índices de criminalidade do
município, afirma.
“Isso prejudica a qualidade da segurança da cidade. E a expectativa
também. Nós estamos atuando. Já fui conversar com o secretário de
Segurança Pública, que já mandou viaturas permanentemente, e o índice
melhorou bastante, embora exista”, diz Pinheiro.
Moradora há quase 40 anos do bairro Barcelona,
em São Caetano, Suely Panov, 64, diz saúde já foi
melhor. 'Nenhuma cidade está livre de problemas.
(Foto: Rosanne D'Agostino/G1)
Longevidade
Em São Caetano do Sul, a esperança de vida ao nascer aumentou 6,1 anos
nas últimas duas décadas, passando de 72,1 anos em 1991 para 78,2 anos
em 2010. Naquele ano, a esperança de vida ao nascer média para o Estado
era de 75,7 anos e, para o país, de 73,9 anos.
Moradora há quase 40 anos do bairro Barcelona, em São Caetano, Suely
Panov, de 64 anos, diz que não sai mais de lá, nem por Porto Alegre, sua
cidade natal. “A parte médica é muito boa, educação, saúde. Aqui eu
brinco com as crianças no parque, é seguro”, conta.
A professora aposentada, no entanto, pede melhorias. “Não pode
reclamar, tem lugares piores. Mas claro que sempre pode melhorar. Acho
que a saúde, por exemplo, já foi melhor.”
Nenhuma cidade está livre de problemas. Nós fazemos a nossa parte, e eles têm que fazer a deles"
Suely Panov, 64, professora aposentada
Suely trabalha como voluntária em um lar que abriga mulheres. “Eu acho
que em qualquer cidade a gente tem problemas. Essas mulheres em situação
de rua, por exemplo, a prefeitura deveria ajudar, mas nós que ajudamos.
Nenhuma cidade está livre de problemas. Nós fazemos a nossa parte, e
eles têm que fazer a deles.”
Renda e educação
A renda per capita média de São Caetano do Sul cresceu 84,53% nas
últimas duas décadas, passando de R$ 1.107,53 em 1991 para R$ 2.043,74
em 2010. A extrema pobreza passou de 1,35% em 1991 para 0,09% em 2010.
São as famílias que recebem menos de R$ 70 per capita (por pessoa).
Com relação aos índices de renda, o prefeito afirma que a cidade tem
focado na distribuição de renda para pessoas mais necessitadas, “para
não ter desigualdade, tentar equalizar, para que a cidade não tenha
nenhum miserável”. “Estamos abrandando essa situação."
Ainda segundo o prefeito, na educação, em todas as faixas etárias houve
aumento de fluxo escolar, em percentuais superiores à média nacional.
“A população aumentou e nós absorvemos essas crianças. Já na saúde, nós
temos cinco hospitais, compatíveis com a população, em número de leitos,
de médicos suficientes. Na área da saúde somos autossuficientes. Temos
um hospital de emergências com volume
grande. Vem muita gente de fora ser socorrida na área de emergência”, afirma Pinheiro.