O Comitê de Política Monetária (
Copom)
do Banco Central se reuniu nesta quarta-feira (30) e decidiu baixar os
juros de 9% para 8,5% ao ano. Com isso, o ritmo de corte da taxa básica
da economia brasileira diminuiu para 0,50 ponto. Em março e abril, o
Copom havia sido mais agressivo, ao promover reduções de 0,75 ponto
percentual. A decisão foi unânime.
Mesmo assim, a taxa Selic atingiu o menor patamar já registrado em toda
a série histórica do Banco Central, que começa em 1986. Antes desta
data, segundo a autoridade monetária, não existia uma "taxa de juros
oficial". Até o momento, a menor "meta" para taxa de juros já registrada
na economia brasileira vigorou entre julho de 2009 e abril de 2010
(8,75% ao ano). A taxa de mercado, por sua vez, oscila ao redor da
"meta" fixada pelo BC. Em 2009 e 2010, o piso dos juros ficou em 8,65%
ao ano.
Com a queda da Selic a 8,5%,
a
caderneta de poupança passa a render, para as aplicações feitas de 4 de
maio em diante, menos de 6% ao ano pela primeira vez na história,
segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e
Contabilidade (Anefac). Pelas novas regras definidas pelo governo
federal, o rendimento da poupança passa a ser atrelado aos juros básicos
da economia, rendendo 70% da aplicação, mais a Taxa Referencial, sempre
que a Selic for de 8,5% ou menos.
Explicação do BC
Ao fim do encontro do Copom, foi divulgada a seguinte explicação: " O
Copom considera que, neste momento, permanecem limitados os riscos para a
trajetória da inflação. O Comitê nota ainda que, até agora, dada a
fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido
desinflacionária. Diante disso, dando seguimento ao processo de ajuste
das condições monetárias, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para
8,50% a.a., sem viés".
Expectativa do mercado financeiro
A decisão do Banco Central confirmou a expectativa da maior parte dos
economistas do mercado financeiro. A previsão dos analistas dos bancos é
de que o Copom promova um novo corte dos juros em sua reunião de 10 e
11 de julho, desta vez para 8% ao ano - patamar no qual a taxa
terminaria 2012. O mercado também estima, até o momento, que os juros
voltarão a subir a partir de abril do próximo ano para conter pressões
inflacionárias.
Sistema de metas de inflação
Pelo sistema de metas de inflação, que vigora no Brasil, o BC tem de
calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por
base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para 2012 e
2013, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de
tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja
formalmente descumprida. O BC busca trazer a inflação para o centro da
meta de 4,5% neste ano, visto que, em 2011, a inflação ficou em 6,5% –
no teto do sistema de metas.
O Copom tem argumentado que a crise financeira internacional possui
"viés desinflacionário" e que, por isso, tem sido possível reduzir a
taxa básica de juros sem comprometer o controle da inflação. Já foram
feitos sete cortes consecutivos, desde agosto do ano passado.
"A economia mundial está bastante mal. Isso gera um processo
desinflacionário no mundo. Você tem um mundo diferente. Olhando há algum
tempo atrás, você acharia que a atividade estaria se recuperando agora,
por conta da defasagem da política monetária [cortes de juros já feitos
desde agosto do ano passado]. Isso não está acontecendo", avaliou
Rodrigo Melo, economista da Mauá Investimentos.
Juros reais próximos de 2% ao ano
Com a taxa básica em 8,5% ao ano, o Brasil passou a ter juros reais
(após o abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses) de
2,8% ao ano, segundo levantamento do economista Jason Vieira, da
corretora Cruzeiro do Sul, em parceria com Thiago Davino, analista de
mercado da Weisul Agrícola.
Com isso, a taxa real de juros brasileira ficou perto da meta da
presidente Dilma Rousseff (2% ao ano), patamar que também é mais próximo
da média internacional. A taxa real de juros de 40 países pesquisados
pelos economistas está negativa em 0,5% ao ano.
"Com uma elevação em algumas projeções de inflação e diversos cortes de
juros, inclusive do Brasil, o país ocupa agora e em todos os cenários o
terceiro lugar do ranking como o melhor pagador de juros reais do
mundo", informa Jason Vieira em seu estudo. Segundo ele, o primeiro
lugar no ranking é ocupado pela Rússia (4,3% ao ano), seguida pela China
(3,1% ao ano).
Votos dos diretores do BC
Outra novidade desta reunião é que, pela primeira vez, desde que foi
criado o Copom, em 1996, são conhecidos os votos dos diretores do Banco
Central na definição dos juros. Até o momento, tinham acontecido 166
reuniões do Copom sem detalhamento dos votos dos diretores da autoridade
monetária. A mudança ocorre por conta da nova Lei de Acesso à
Informação. Nesta quarta-feira, o BC informou que a decisão de baixar os
juros para 8,5% ao ano foi unânime.
O Banco Central informava, até o momento, apenas o "placar" da reunião.
Essas informações serão divulgadas no comunicado, publicado logo após à
reunião, e na ata das reuniões, divulgada normalmente uma semana
depois. Na reunião do Copom de março deste ano, por exemplo, quando os
juros recuaram para 9,75% ao ano, não houve unanimidade. Na ocasião, o
BC informou: "Nesse contexto, dando seguimento ao processo de ajuste das
condições monetárias, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 9,75%
a.a., sem viés, por cinco votos a favor e dois votos pela redução da
taxa Selic em 0,5 ponto percentual".