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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Lama de barragem adentra mais de 10 km no mar do ES, diz instituto

Rejeito de mineração chegou ao mar neste domingo (22).

Peixes mortos começaram a ser enterrados na praia de Povoação.

Naiara Arpini
Do G1 ES

Barragem (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Lama da barragem da Samarco no mar, em Linhares (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
A lama da barragem da Samarco, cujos donos donos são a Vale a anglo-australiana BHP Billiton, já adentrou mais de 10 quilômetros no mar do Espírito Santo, de acordo com o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema). Nesta segunda-feira (23), a prefeitura de Linhares, no Norte do Espírito Santo, orientou a população para que não entre em contato com a água.

Ainda segundo o Iema, a lama já se espalhou por uma extensão de 40 quilômetros pelas praias de Regência e Povoação.

Pescadores contratados pela Samarco enterraram peixes mortos na praia de Povoação, em Linhares, segundo a agência de notícias Reuters. Questionada sobre o enterro dos peixes na praia, a Samarco não respondeu e disse apenas que eles estão sendo armazenados em bombonas (tambores).
Pescadores contratados pela mineradora Samarco, cujos donos são a Vale e a australiana BHP, enterram peixes mortos da praia de Povoação, no Espírito Santo. O local foi inundado por lama após o rompimento de barragens da empresa em Minas Gerais (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Pescadores contratados pela mineradora Samarco enterram peixes mortos da praia de Povoação, no Espírito Santo. O local foi inundado por lama após o rompimento de barragens da empresa em Minas Gerais (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
A lama de rejeitos de minério que vazou da barragem da Samarco em Mariana (MG) chegou ao mar neste domingo (22), após passar pelo trecho do Rio Doce no distrito de Regência, em Linhares, segundo o Serviço Geológico do Brasil.
Resgate de peixes no rio
O Iema informa que os peixes encontrados nas águas, agora barrentas, do rio Doce já não têm mais condições de contribuir para o repovoamento do Doce, de seus afluentes e lagoas próximas. Esses organismos já estão debilitados pela condição severa da água misturada a lama de rejeitos e, provavelmente, não sobreviverão ao transporte e também à diferença de condições que encontrarão nas lagoas, segundo o instituto.

Biólogo
O biólogo Marcos Vago explicou que as substâncias contidas na lama que avança pelo mar podem ser transferidas de um peixe para outro, por meio da cadeia alimentar.

"O problema maior da lama no mar é que essa lama contém metais pesados, e esses metais serão distribuídos em cadeias alimentares e aí acontece a transferência dessa substância. Esses metais são acumulativos e podem chegar até o homem, que se alimenta de animais marinhos", diz o biológo.
Ainda segundo Marcos, além do risco da contaminação, os metais presentes da lama podem prejudicar a respiração dos peixes. “A quantidade de minério é muito grande, ele acumula nas brânquias dos animais e pode impedir que eles façam a troca gasosa”, explicou.
“Muitos animais têm a região de Regência como berçário. A maioria das espécies vêm para poder se reproduzir na foz, onde há água salobra. Esses animais são os mais ameaçados”, disse.
Foz do Rio Doce é tomada por lama de mineração (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Foz do Rio Doce é tomada por lama de mineração
(Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
Associação de pescadores
De acordo com a Associação de Pescadores de Regência, peixes mortos estão sendo retirados do mar. “A empresa está pagando pescadores para recolher os peixes mortos e levar para análise, para saber porque morreu, qual é a substância que está no corpo do peixe”, explicou o presidente da Asper, Leoni Carlos.

Ele também comentou a situação dos pescadores da vila. “Está crítica, péssima. Não tem como mais sobreviver do Rio Doce. O pescador hoje que não tem uma esposa empregada ou os filhos empregados não tem como colocar comida na mesa. Tenho 68 anos e criei meus filhos da pesca. Hoje meu neto me pergunta ‘vovô, cadê o Rio Doce?’”, contou.
Leoni Carlos também falou sobre a expectativa em relação ao futuro dos pecadores da região. “Eu não tenho mais esperança. Talvez daqui a uns 10 anos a situação melhore, mas até lá eu já morri”, lamentou
.

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