Estudantes sem exame veem risco de exclusão do Ciência Sem Fronteiras.
Governo diz que 'não abre mão' de usar teste do ensino médio para seleção.
Apesar da reclamação, o governo afirmou ao G1 que não pretender voltar atrás na nova regra (leia abaixo).
O que é o Ciência sem Fronteiras |
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Lançado pela presidente Dilma Rousseff, em 2011, para tentar
qualificar estudantes de áreas-chaves para o desenvolvimento tecnológico
do país, como engenharia, física e computação, o Ciência sem Fronteiras
pretende enviar, até 2015, 100 mil universitários para cursar parte do
ensino superior fora do Brasil. Os estudantes selecionados pela
iniciativa federal recebem ajuda financeira para pagar o curso, as
despesas da viagem, alimentação e hospedagem. Saiba mais |
Além de estudantes sem exame ou que temem não entregá-lo a tempo, há ainda universitários veteranos que reclamam que essa seria a última oportunidade de conquistar uma bolsa no exterior, já que eles entraram nas faculdades sem ter feito o Enem e estão na fase final da graduação.
Pelas regras do programa federal, só podem disputar as vagas os estudantes que tiverem concluído pelo menos 20% e, no máximo, 90% do currículo da graduação.
“Se já era interesse dos responsáveis [pelo Ciência sem Fronteiras] a utilização do Enem como item obrigatório na seleção dos estudantes, o mínimo que deveria ter sido feito, e que teria demonstrado sinal de respeito aos estudantes, era avisar sobre as mudanças nas regras a tempo de os estudantes terem realizado a edição de 2012 do exame, possibilitando que nós estivéssemos aptos a participar do novo edital”, reclamou ao G1 André Vargas, estudante do sétimo semestre de engenharia mecatrônica da Universidade de Brasília.
Inconformados com a mudança nas regras, muitos universitários passaram a se mobilizar nas redes sociais para pressionar o governo a rever a decisão. Os candidatos ao Ciência sem Fronteiras têm sugerido na rede mundial que a obrigatoriedade do Enem passe a ocorrer somente depois de 2015, ano em que eles supõem que a maioria dos universitários em atividade terá sido submetida ao teste nacional.
Na tentativa de garantir seu acesso à nova edição do programa, que irá enviar estudantes para universidades de Canadá, Alemanha, EUA, Hungria e Japão a partir de 2014, grupos de universitários criaram abaixo-assinados na internet para reivindicar a revogação da norma. Até a noite desta segunda (3), uma das petições eletrônicas já contava com 2.240 assinaturas, de acordo com os organizadores.
Governo quer manter regra
Apesar das críticas à nova exigência, o Executivo não demonstra a intenção de modificar o conteúdo dos editais. Em nota oficial enviada ao G1 nesta segunda, a coordenação do programa enfatizou que pretende manter as regras previamente anunciadas.
“O governo federal não abre mão do Enem como o principal critério de seleção de candidatos à bolsa de estudo no programa Ciência sem Fronteiras, uma vez que o referido exame não é apenas um indicador de qualidade para o ensino médio, mas também um dos instrumentos de política pública voltado a permitir maior democratização das oportunidades de acesso ao ensino superior”, diz o texto.
Outro trecho do comunicado oficial destaca que o Exame Nacional do Ensino Médio também passou a ser utilizado pelas instituições estrangeiras como parâmetro de qualidade para a aceitação e alocação dos estudantes brasileiros em seus cursos.
Mandado de segurança
A sinalização do Executivo de que a nota do Enem será mesmo usada como critério de habilitação às bolsas no exterior tem levado estudantes a avaliarem a possibilidade de recorrer à Justiça Federal para participar da seleção. Nos fóruns virtuais, os universitários discutem alternativas para evitar que os concorrentes que não fizeram o exame do ensino médio fiquem de fora do processo seletivo.
Aluno do curso de Engenharia da Computação da UnB, o universitário Alexandre Lucchesi, 21 anos, disse ao G1 que irá ingressar, até a próxima semana, com um mandado de segurança requisitando que o Judiciário assegure que os estudantes que realizarem o Enem neste ano não serão eliminados do Ciência sem Fronteiras devido a eventuais atrasos na divulgação das notas.
“Sou totalmente contra esse critério. O Enem é um exame de avaliação do ensino médio e eles [governo] estão usando como critério de seleção para bolsas do ensino superior. Apesar de ser contra, se o governo está exigindo uma nota mínima de 600 pontos, não me custa tirar essa nota. Estou disposto a fazer o exame, mas quero uma garantia de que vou conseguir aproveitar a nota do Enem na seleção para as vagas do programa”, ponderou Lucchesi.
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