Com mudança de sistema, figura do primeiro-ministro passaria a existir.
Apesar de defender alteração, OAB diz que é preciso discutir impeachment.
Em nota divulgada nesta sexta-feira (11), o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado Coêlho, sugeriu a mudança do sistema de governo atual para o semipresidencialismo. A mudança, de acordo com o texto, poderia ser adotada no próximo mandato presidencial, em 2018. Para a OAB, o sistema atual, o presidencialismo de coalizão, é um modelo esgotado.
De acordo com Coêlho, o semipresidencialismo reúne características importantes dos sistemas presidencialista e parlamentarista. Apesar de defender a mudança no sistema atual, o presidente da OAB ressalta que este debate "não impede a saudável e válida discussão a respeito do impeachment" que, segundo ele, deve ser feito até que todas as dúvidas jurídicas sejam "dirimidas" e se chegue a uma conclusão sobre o afastamento ou não da presidente Dilma Rousseff.
"A OAB propõe um debate sobre soluções para o país e sugere que o próximo governo, não importa qual, já funcione sob um novo sistema político, o semipresidencialismo, que aumenta a participação e o controle do povo sobre as decisões tomadas nas altas esferas do governo federal", diz a nota da Ordem.
"O que se pretende é assegurar um modelo em que os problemas típicos do presidencialismo de coalizão brasileiro sejam amortizados, com a experimentação de um novo arranjo, que permita a resolução das principais fontes de instabilidade política dos governos, reforçando a legitimidade democrática das maiorias eleitas", explica o texto.
De acordo com o semipresidencialismo, o presidente da República é eleito e tem as mesmas atribuições do sistema atual. O que difere é a figura do primeiro-ministro, nomeado pelo presidente com aval do Legislativo, que chefia o gabinete formado por todos os outros ministros de Estado.
"Caso os rumos do governo não estejam de acordo com o que a maioria da população espera, seus representantes no Congresso poderão destituir o gabinete, obrigando o presidente a nomear um novo primeiro-ministro que, por sua vez, escolherá novos ministros", explica a nota.
Ao final da nota, o presidente da OAB explica que a proposta para mudar o sistema atual deve ser submetida a um referendo popular.
Leia abaixo a nota da OAB:
Uma proposta para o Brasil
O Brasil sofre, neste momento, as amargas consequências de uma crise econômica, política e institucional, sem vislumbrar uma solução consistente para o problema. Duas alternativas se colocam: aprovar o impeachment da presidente da República ou mantê-la em seu cargo. Seja qual for a decisão final, a crise não desaparecerá automaticamente. As instituições não deixarão de ser tão vulneráveis quanto foram nos últimos anos e são hoje.
A OAB propõe um debate sobre soluções para o país e sugere que o próximo governo, não importa qual, já funcione sob um novo sistema político, o semipresidencialismo, que aumenta a participação e o controle do povo sobre as decisões tomadas nas altas esferas do governo federal.
É uma proposta que mira os problemas do arranjo institucional brasileiro, um remédio contra a paralisia das instituições em momentos de crise e estimulador da governabilidade. Ou seja: não se trata de um paliativo, mas de um verdadeiro aprimoramento para a democracia brasileira.
O debate sugerido pela OAB a respeito da adoção de um novo sistema de governo não impede a saudável e válida discussão a respeito do impeachment, que deve ser feita até que todas as dúvidas jurídicas sejam dirimidas e se chegue a uma conclusão sobre o afastamento de Dilma Rousseff. A OAB acompanha a matéria com o compromisso de ver respeitada e exigir o respeito da Constituição Federal.
Modelo adotado pela França, o semipresidencialismo reúne características importantes dos sistemas presidencialista e parlamentarista. Nele, o presidente da República é eleito e exerce as funções da mesma maneira como ocorre no sistema atual. Só pode ser derrubado por um impeachment ou golpe de Estado. Uma novidade é a figura do primeiro-ministro, nomeado pelo presidente com aval do Legislativo e que passará a encabeçar o gabinete formado por todos os outros ministros de Estado. Caso os rumos do governo não estejam de acordo com o que a maioria da população espera, seus representantes no Congresso poderão destituir o gabinete, obrigando o presidente a nomear um novo primeiro-ministro que, por sua vez, escolherá novos ministros.
Vimos, desde a redemocratização, ideias de impeachment serem levantadas contra todos os presidentes – apenas um foi alijado do poder, Fernando Collor. Mas Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula tiveram que, em algum momento, enfrentar a questão. Agora, Dilma. A Constituição estabelece que impeachment é punição cabível a uma lista limitada de crimes praticadas pelo chefe do Executivo. No entanto, não são apenas esses crimes que motivam a insatisfação da população para com o governo. Por isso, ampliar o controle popular, por meio do Legislativo, é uma forma de garantir que crises sejam ceifadas de forma mais rápida e democrática. Não se trata de instaurar no Brasil, novamente, o parlamentarismo, repetindo a experiência que reduziu os poderes de João Goulart na década de 1960. Trata-se de um modelo em que as instituições brasileiras sejam aprimoradas e a condução do governo mais democratizada.
O que se pretende é assegurar um modelo em que os problemas típicos do presidencialismo de coalizão brasileiro sejam amortizados, com a experimentação de um novo arranjo, que permita a resolução das principais fontes de instabilidade política dos governos, reforçando a legitimidade democrática das maiorias eleitas.
Para tanto, pretende-se que a proposta seja submetida a referendo popular, após ampla discussão pela sociedade brasileira, e, oportunamente, possa haver a combinação desse modelo com o sistema distrital misto, como solução necessária para a superação da crise política, que demonstra o esgotamento do modelo de presidencialismo de coalizão.
Marcus Vinicius Furtado Coêlho, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil
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