Para moradores, valores oferecidos estão abaixo de preços de imóveis.
Casas no Morumbi serão desapropriadas para as obras do Metrô.
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O cantor, compositor e pianista Benito di Paula, de 71 anos, e o filho Rodrigo Vellozo, de 30 anos, terão sua casa no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, desapropriada para as obras da Linha 17-Ouro do Metrô. Ele e outros quatro vizinhos do mesmo quarteirão reclamam do valor pago pelos imóveis que, segundo os moradores, está abaixo do preço de mercado.
A construção da Linha 17-Ouro começou em março de 2012. O primeiro trecho será uma ligação com 7,7 km do Aeroporto de Congonhas até a Estação Morumbi da Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Quando estiver totalmente concluída, a linha terá 18 km de extensão, ligando o bairro do Morumbi ao Jabaquara, com 18 estações.
A propriedade onde o artista vive há 28 anos está no trajeto previsto do monotrilho. O imóvel tem 391 m² de área construída e um terreno com área total de 538 m², com piscina e quarto para empregados. Segundo ele, o valor de mercado da casa é muito superior ao oferecido pelo Metrô e estaria em torno de R$ 2,5 milhões.
“Recebi um comunicado dizendo que ia ser desapropriado no valor de 500 e poucos mil. O que eu compro com R$ 500 mil? Não compro nada. Aí eles melhoraram e o valor passou para R$ 1,1 milhão”, contou o artista. O Metrô de São Paulo foi procurado pelo G1 e até as 8h desta quarta-feira (11) não havia se posicionado sobre o caso.
Di Paula recebeu o comunicado da desapropriação no 2º semestre de 2012 e, desde então, vem procurando negociar com o Metrô, através de seu advogado, para aumentar o preço oferecido pela casa. “Eu realmente não tenho condições de sair daqui por esse valor. A não ser que eu compre um apartamentozinho para os meus filhos, um negócio ridículo, e eu vou morar na rua”, disse.
Segundo o cantor, um perito em imóveis enviou um fotógrafo para registrar imagens de sua casa. Ainda de acordo com ele, o perito não chegou a avaliar pessoalmente o imóvel. “Eu espero poder dialogar com eles, e com conversa educada, porque não é só mandar papelzinho e vir o cara e olhar e fotografar, dar a opinião dele como se a casa fosse dele, como se eu não valesse nada, como se eu não fosse um cidadão”, desabafou.
Di Paula afirmou ainda estar preocupado com o sustento de sua família, que inclui Rodrigo e seus outros dois filhos, de 28 e 29 anos, para quem ainda pretende comprar apartamentos. “Eu trabalhei muito mesmo para comprar esta casa. Aqui eu tenho meus sonhos, aqui nasceram meus filhos, aqui eu tenho a minha história, aqui eu tenho tudo”, disse.
Dentro do imóvel também funciona o estúdio musical de Di Paula. Uma das maiores preocupações do cantor é conseguir um outro imóvel com espaço suficiente para sua aparelhagem e, principalmente, para o piano, que tem lugar de destaque na sala de estar da casa.
“Eles deviam chegar e falar: olha, sua casa vale tanto, nós só podemos pagar isso. Mas tem que ser uma coisa condigna. Óbvio que eu não estou querendo o valor que paguei na casa, mas ao menos algo que me dê alguma condição de moradia”, disse. “Eu sou de acordo com o progresso, com a construção do Metrô, mas as coisas precisam ser feitas direito.” De acordo com o artista, o Metrô não forneceu um prazo para que a casa seja esvaziada. Ele ainda não tem planos de comprar outra casa e aguarda um aumento do valor oferecido pela desapropriação para procurar outro imóvel.
Outros casos
Outras casas do quarteirão onde mora Benito di Paula também serão desapropriadas para as obras da linha de Metrô. É o caso do microempresário Ismar Sampaio, de 53 anos, que ainda não foi informado do valor que será oferecido por sua residência, que tem 391 m² de área construída, com uma piscina, um canil e ofurô.
Sampaio já procurava outro imóvel para comprar mesma região, onde também funciona sua empresa. Ele contou que foi instruído por seu advogado a deixar o imóvel em no máximo 90 dias. Segundo o advogado, um oficial de Justiça deve fazer o requerimento do local dentro desse período. Sampaio comprou o imóvel há apenas quatro anos e recebeu a notícia da desapropriação já em 2011. “Com certeza não é uma sensação boa. Você compra a casa há pouco tempo e espera que vai ficar para sempre”, disse.
O microempresário pretendia iniciar uma reforma no local, mas desistiu após o aviso do Metrô. “Desisti de gastar dinheiro com isso. Se for comprar outro na região do Morumbi mesmo, vou ter que gastar uns R$ 3 milhões”, contou.
Segundo os moradores do quarteirão, o local ficou desvalorizado depois que a Prefeitura derrubou um muro que separava as casas de uma favela. Sampaio ainda disse que o valor dos imóveis na região deve aumentar em torno de 30% após a instalação do metrô. “Mas não estaremos mais aqui para aproveitar isso”, afirmou.
Na mesma região, a casa da produtora de eventos Cláudia Modesto, de 49 anos, foi avaliada em R$ 898 mil. O imóvel, com 350 m² de área construída, possui quatro suítes, dois escritórios, seis vagas na garagem e sete banheiros, além de lareira e piscina. Na casa, vivem ela e o marido, o microempresário Guilherme Smith de Vasconcellos, de 60 anos, além dos filhos de 17 e 22 anos.
“Não tenho nada contra me mudar daqui, mas quero receber o valor de mercado”, disse Cláudia. Ela contou que seu advogado conseguiu nesta terça-feira (10) o direito a uma nova avaliação do valor do imóvel, onde vive há 10 anos com a família.
Cláudia não encontrou nenhuma casa no mesmo bairro que pudesse ser comprada pelo valor que o Metrô ofereceu. “A única coisa boa dessa história é que passei a conhecer meus vizinhos, com quem nem falava. Agora converso com eles sobre essa situação quase todos os dias”, disse.
Durante a entrevista para o G1, Cláudia conversou pelo telefone com a aposentada Nize Ferraz, outra moradora que terá a casa desapropriada. O imóvel, onde vive com o marido tem 341 m² de área construída. “Me ofereceram R$ 850 mil pela casa. No começo foi um choque. Mas sou muito otimista, tenho muita alegria. Já estamos procurando imobiliárias”, disse a aposentada. Nize está pesquisando imóveis na região do Itaim Bibi, onde também moram suas duas filhas.
Segundo Nize, ela e o marido são os moradores mais antigos da rua e vivem no local há 40 anos. Também de acordo com ela, o morador da casa vizinha já se mudou, após a casa ser avaliada no valor de R$ 2,5 milhões.
Para a arquiteta Maria Coppolla, de 68 anos, que vive com o marido em um imóvel que também será desapropriado no quarteirão, o mais importante é o valor sentimental da casa. “A avaliação é tão ínfima que não dá para comprar nem na favela”, disse. “Mas esse não é o maior problema. O problema é que não queremos sair daqui.”
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