Júri de Giselma Campos começa nesta terça-feira (24) em São Paulo.
'Tenho rezado bastante e pedido discernimento', afirmou estudante ao G1.
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Filho do empresário Humberto de Campos Magalhães, executivo da Friboi morto a tiros em dezembro de 2008, o estudante de administração Carlos Eduardo Magalhães aproveitou uma viagem de estudos a Nova York, nos Estados Unidos, em agosto deste ano, para fazer uma homenagem ao pai e um protesto contra a demora no julgamento do caso. O júri da mãe dele, Giselma Carmen Campos, acusada de mandar matar o ex-marido, começa nesta terça-feira (24) no Fórum da Barra Funda, em São Paulo.
Carlos Eduardo disse ao G1 nesta segunda-feira (23) que tem rezado bastante e pedido discernimento para enfrentar o início do julgamento em que será a principal testemunha de acusação contra sua mãe. "Tenho rezado bastante e pedido discernimento neste momento. Estou acreditando que estou fazendo o melhor para o meu pai. Então, isso me ajuda muito", disse.
A ideia surgiu após ele ver protestos de pessoas nuas pintadas apenas com tinta corporal, mas sem nenhum propósito. Ele afirma que se convenceu após uma conversa com o artista Danny Seatiawan. As fotos foram feitas por Juliana Santana de Souza, uma amiga brasileira que ele conheceu em Nova York.Durante o protesto, o estudante apareceu sem camisa na Times Square e em frente ao Central Park com o corpo pintado com palavras como "justiça" e "paz espiritual".
"Quando eu estava andando por lá, eu vi que ele fazia essas pinturas nas pessoas, mas sem nenhum propósito aparente. Era mais uma coisa de choque de valores. Foi aí que tive a ideia. Falei: 'acho que posso fazer uma coisa nesse sentido para, de certa forma, colocar para fora o que estou sentido e também fazer uma homenagem para o meu pai. Mostrar para mim mesmo que ainda estou aqui e que ainda estou lutando por ele. Que tudo que ele fez por mim, de alguma forma, estou podendo hoje honrar'", contou.
Carlos Eduardo disse que o protesto foi bem recebido. "Muitas pessoas pessoas ficavam chocadas de saber como as coisas funcionam aqui. Teve bastante gente que achou super legal e teve gente que só passou e não deu opinião a respeito. De forma geral, foi muito bom porque as pessoas se aproximavam de mim para conversar sobre qualquer coisa", afirmou.
Na frente do corpo de Carlos Eduardo, o artista escreveu, em um braço, "justica", e, no outro, "paz espiritual". Nas costas de Carlos Eduardo, o artista escreveu: "pelo que você luta?". A resposta estava escrita nos braços: "justiça" e "paz espiritual". Segundo Carlos, que também é professor de inglês, as pessoas escreviam à caneta em suas costas os objetivos de suas lutas.
Morte do executivo
Humberto de Campos Magalhães foi morto a tiros por um motoqueiro em uma rua da Zona Oeste da capital paulista em 4 dezembro de 2008. Carlos Eduardo e a mãe deverão ficar frente a frente na sala no Tribunal do Júri no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste. Ele tem certeza de que ela é culpada: "Foi ela que mandou matar meu pai", disse ele ao Fantástico. Além de Giselma, também deverá ser julgado o irmão dela, Kairon Valfer Alves.
Giselma viveu durante 20 anos com o executivo. Segundo a polícia, depois da separação, ela passou a planejar o assassinato do ex-marido. O celular do filho mais velho do executivo foi usado no crime. A acusação diz que Giselma entregou o telefone a um pistoleiro. O assassino ligou para o executivo, dizendo que o filho dele estava passando mal, no meio da rua. Humberto foi até o local e bateu de casa em casa, à procura de notícias do filho. Quando entrou no carro, um motoqueiro se aproximou e depois de uma rápida discussão disparou dois tiros, um dos quais atingiu o executivo.
O celular usado para atrair a vítima ajudou a esclarecer o crime. O aparelho foi encontrado na casa de Kairon, irmão de Giselma, no Maranhão. Segundo a polícia, Kairo contratou dois pistoleiros na Cracolândia, região central de São Paulo. A investigação mostrou que Giselma pagou ao irmão e aos assassinos R$ 30 mil para que o ex-marido fosse assassinado.
Humberto Magalhães, de 43 anos, era de origem humilde. Começou como açougueiro e virou o maior executivo da empresa. O empresário se casou com Giselma e teve dois filhos: Carlos Eduardo era o mais novo. As brigas constantes do casal levaram ao fim um relacionamento de 20 anos, mas, segundo o filho, Giselma nunca aceitou a separação. “Sempre foi uma relação muito dificil entre os dois, de discussões dentro de casa, gritaria de virar a madrugada discutindo”, diz Carlos Eduardo.
Humberto saiu de casa no fim de 2007 e namorou outras mulheres. “Primeiramente a polícia imaginou se tratar de um latrocínio, mas no porta-malas do carro tinha uma valise com cheque, dinheiro e cartões”, disse o promotor do júri, José Carlos Cosenzo. Logo nos primeiros dias da investigação, Giselma começou a apresentar um comportamento suspeito, de acordo com a Promotoria.
Cosenzo afirma que quando saiu o mandado de busca e apreensão para apreender os computadores e telefones, a empresária recebeu a polícia, mas tentou jogar um chip de telefone na privada. “De repente ela disse: ‘estou com vontade de ir no banheiro’. Abaixou, tirou o chip do celular e jogou na privada”, conta o promotor.
A investigadora conseguiu puxar o chip de dentro da bacia da privada. A partir dele, os investigadores rastrearam uma rede de ligações telefônicas. E identificaram a quadrilha responsável pela morte de Humberto Magalhães.
Segundo a Promotoria, Giselma contratou Kairon, que é ex-presidiário. Kairon contratou Osmar que era uma pessoa que trabalhava como segurança. E Osmar contratou Paulo, apontado como executor. No primeiro momento, Giselma negou conhecer Kairon. Mas, ao comparar os documentos dos dois, a polícia teve uma surpresa. “Foi verificado que eles eram irmãos. De pais diferentes, mas era a mesma mãe”, disse o promotor.
“Acredito que ela mandou assassinar o meu pai por interesse financeiro. Ela não queria dividir o patrimônio que ela tinha com o meu pai com outra pessoa”, diz Carlos Eduardo. Descoberta, Giselma tentou incriminar o próprio filho. “Ela, através das ligações que fazia para pessoas, meio que tentava jogar culpa para mim. Dizia que tinha medo porque eu talvez pudesse estar envolvido”, diz Carlos Eduardo.
A polícia chegou a suspeitar do filho do empresário, mas o rastreamento do aparelho celular dele levou à prisão de Kairon, que entregou todo o esquema.
Giselma ficou presa preventivamente por um ano e seis meses na Penitenciária Feminina de Santana, na Zona Norte de São Paulo. A decisão pela soltura de Giselma foi do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Celso de Mello concedeu a liminar no dia 27 de setembro, após analisar o pedido de habeas corpus impetrado pelo advogado da ré, Ademar Gomes.
O Fantástico tentou falar com Giselma, mas ela não atendeu às ligações. Carlos Eduardo tem pouco contato com a mãe. Se falam raramente e só para tratar da venda de bens da familia. Os dois homens contratados para matar o empresário já foram condenados: pegaram 20 anos de cadeia cada um. Carlos Eduardo espera que Giselma seja condenada pela morte do pai dele. "Infelizmente foi ela que mandou fazer isso. O que eu queria realmente era não ter uma mãe que fosse uma assassina", afirmou
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