Por José Claudio Pimentel, G1 Santos
Homens armados
invadiram o navio ‘Grande Francia’, de bandeira italiana, a 15 quilômetros do
acesso ao Porto de Santos, no litoral de São Paulo. Tripulantes estrangeiros
foram rendidos, e o comandante pediu socorro via rádio. A bordo, estava 1,3
tonelada de cocaína, informou a Polícia Federal nesta segunda-feira (13). Uma
investigação foi aberta para determinar se o grupo embarcou a droga.
A invasão
ocorreu no domingo (12), enquanto o navio, da armadora Grimaldi, estava no
Fundeadouro 4. Trata-se de uma área, na Barra de Santos, onde os cargueiros
aguardam ancorados a liberação para acessar o cais e atracar em um terminal.
Pelo menos
quatro homens com armas em punho conseguiram subir ao convés (cobertura
superior) do navio. A suspeita é que eles tenham utilizado uma corda com um
gancho, que foi lançada e ficou presa a uma das grades das aberturas
localizadas na área frontal (proa).
Diferentemente
da maioria dos navios, as laterais do ‘Grande Francia’ são seladas, uma vez que
a embarcação (do tipo Ro-ro) é destinada ao transporte de veículos. Entretanto,
esse cargueiro também movimenta contêineres, que foram os alvos dos criminosos.
O embarque do
grupo ao navio foi flagrado depois das 2h por parte da tripulação, que estava
acordada e se refugiou no passadiço (sala de comando e controle). Os
marinheiros perceberam que o bando se movimentava com armas em punho e avisaram
o capitão.
"Imediatamente
quando percebeu a situação, o comandante disparou o alarme de pânico e trancou
o passadiço. O aviso serviu de alerta para os demais tripulantes também se
trancarem onde estavam", explicou a delegada da Polícia Federal, Luciana
Fuschini.
A tripulação,
refugiada em diversos compartimentos a bordo, pediu socorro enquanto a invasão
ocorria. O capitão solicitou, em canal aberto de rádio, ajuda às autoridades
brasileiras, e alertou os oficiais das demais embarcações no entorno sobre o
que estava acontecendo.
Segundo
informações da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), pelo menos 60
navios estavam nos fundeadouros do porto, que possui 100 quilômetros quadrados
de área. Nenhum outro solicitou apoio ou reportou eventual invasão naquele momento.
A equipe da
Praticagem de São Paulo atendeu ao chamado de socorro do capitão do ‘Grande
Francia’ e acionou o Núcleo Marítimo da Polícia Federal (Nepom). Militares do
recém-ativado Grupamento de Patrulha Naval Sul-Sudeste, da Marinha, também
foram mobilizados.
Entretanto, a
agitação marítima impediu a operação ofensiva. Ondas de mais de 2,5 metros,
segundo dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec), do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registradas durante
madrugada na região.
"Ficamos de
prontidão e nos comunicando com o capitão via telefone e rádio a todo o
momento. Eles estavam assustados, mas todos da tripulação estavam em locais
seguros e não havia ninguém machucado", informou a delegada responsável
pelo caso.
O G1 apurou
que a ação criminosa, inédita na história recente do Porto de Santos, durou,
aproximadamente, duas horas. Os criminosos fugiram da mesma maneira que
chegaram ao navio: em uma embarcação rápida de alumínio, de cinco metros de
comprimento.
No amanhecer e
ciente de que não havia mais nenhum clandestino a bordo, o capitão informou às
autoridades brasileiras que havia localizado dois contêineres abertos e
revirados. Até então, não se sabia se tinha sido uma ação de roubo ou tentativa
de contrabando.
O navio estava
sem previsão para atracar no Porto de Santos, mas foi autorizado para entrar no
cais às 16h. Ele foi escoltado por militares no Aviso-Patrulha 'Barracuda' até
o cais do Saboó, na Margem Direita, onde foi vistoriado pela Polícia Federal e
pela Receita Federal.
"Verificamos,
na verdade, que os contêineres abertos e revirados eram uma distração para
todos. Em outros dois contêineres, encontramos 41 bolsas pretas, algumas ainda
molhadas [pelas ondas ou chuva], que estavam com mais de 1,2 mil tabletes de
cocaína", conta Luciana.
As autoridades
não sabem informar, ainda, se todas as bolsas localizadas foram içadas a bordo
na ocasião da invasão. Toda a droga foi descarregada e o navio foi retido. Ao
final da contagem, na madrugada de segunda-feira, foram contabilizados 1.322 kg
de cocaína apreendida.
Na terça-feira
(7), câmeras
flagraram quando narcotraficantes içaram 1,2 tonelada de cocaína ao navio
‘Grande Nigéria’, durante a madrugada. Trata-se também de
uma embarcação da Grimaldi, e que estava no mesmo terminal para o qual o
‘Grande Francia’ foi destinado.
"Ainda é cedo
para afirmamos, mas é certo que os casos podem estar ligados e ser a mesma
quadrilha atuando. Eles tentaram despistar a ação da polícia levando a droga
até o mar, mas conseguimos localizar e apreender, mais uma vez", fala a
delegada da Polícia Federal.
Nas duas
ocorrências, ninguém foi preso. Um inquérito também foi aberto para apurar a
identidade dos envolvidos, cujo paradeiro era desconhecido até a manhã desta
segunda-feira. A cocaína, se não fosse interceptada, tinha como destino o Porto
de Antuérpia, na Bélgica.
O ‘Grande
Francia’ foi construído em 2002, tem 214 metros de comprimento, 32 de largura
(boca) e faz escalas rotineiras em portos da América Latina, Europa e África.
Segundo a Codesp, ele movimenta, em Santos, 200 toneladas, entre embarques e
desembarques.
Ao longo de todo
o domingo, o G1 tentou contato com a agência que representa a
armadora no Porto de Santos, mas ninguém atendeu aos telefonemas. Segundo a
Alfândega da Receita Federal, até esta segunda-feira, foram interceptados no
cais 13,6 toneladas de cocaína neste ano.
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