Reforço de 100 PMs foi enviado à cidade, que fica a 250 km de Salvador.
Morte de criança revoltou população e resultou em uma série de ataques.
O efetivo de policiais militares saiu de 43 para 143 homens no município de Amargosa, depois da revolta que ocorreu na noite da última quarta-feira (16) na cidade por causa da morte de um bebê durante uma ação policial.
Na ocasião, 30 motos, 18 carros e um ônibus foram incendiados, a delegacia foi invadida e presos foram foram libertados por um grupo que promoveu o caos na cidade.
De acordo com a assessoria da Secretaria de Segurança Pública, o reforço só retornará aos seus postos originais depois que a ordem for restaurada na região, e acrescenta que, após a situação se normalizar, 16 novos policiais militares e seis policiais civis incrementarão o efetivo permanente da cidade.
Na quinta-feira (17), o policial civil suspeito de atirar e matar a criança prestou depoimento na Corregedoria da Polícia Civil, em Salvador. O policial militar que estava com ele durante a ação também foi ouvido pela delegada Andreia Cardoso. Ele nega ter atirado na criança e a Polícia Civil informa que só a perícia vai poder constatar a origem do disparo.
O suspeito informou que perseguia um homicida foragido da Justiça. Ele relatou que, antes, recebeu um telefonema que denunciava a presença do traficante "Bolacha" no bairro Catiara.
Segundo a Polícia Civil, a denúncia recebida informava que o traficante estava desmontando uma motocicleta furtada do Fórum da cidade. Ao se dirigir ao local, a equipe policial teria visto o traficante, de prenome Ricardo, acompanhado de dois homens. O policial informou que ele escondia uma arma sob a camisa e reagiu à abordagem atirando.
O policial afirmou que atirou duas vezes em direção ao suspeito em via pública, negando ter disparado dentro da casa ou no quintal. Afirmou que o traficante entrou na casa e que uma mulher já saía de um dos cômodos com uma criança ferida nas mãos. O policial alega ainda que socorreu a criança.
A versão é contrária aos relatos dos familiares e dos moradores, que negaram ter tido troca de tiro, apontando a ocorrência de apenas três disparos. O pai da criança, Luis Carlos Silva, de 22 anos, disse que uma pessoa entrou na casa e um padeiro disse que essa pessoa era ele. Familiares confirmaram que os policiais prestaram socorro, mas depois de insistência. "Eles só deram socorro e levaram minha filha para o hospital porque a população chegou em cima", disse o pai.
A assessoria da Polícia Civil informa que o relato do investigador vai ser apurado e que só a perícia vai confirmar a origem do disparo que matou a criança. O enterro aconteceu durante a tarde e foi acompanhado por grande número de pessoas.
Segundo a polícia, após os ataques realizados na cidade, a delegacia local corre risco de desabar. De 14 presos que fugiram, dois já haviam sido recapturados e três se entregaram nesta quinta-feira;
O secretário da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), Maurício Barbosa, se reuniu com diversas autoridades na tarde desta quinta-feira. Entre elas, a prefeita Karina Silva.
"A verdade vai ter que aparecer. A verdade que os policiais estão dizendo ou a verdade que as pessoas que testemunharam o fato venham a dizer. Tudo leva a crer que, de fato, o que houve, se não foi um acidente, foi imprudência, uma imperícia. Houve o dolo de matar a criança, houve a vontade explícita? Nós temos que apurar isso tudo para que uma injustiça não leve a uma outra", relatou o secretário.
Sofrimento da família
Muito abalado e amparado por amigos, o comerciante Luis Carlos Silva, de 22 anos, chegou por volta das 15h para o velório da única filha, de apenas um ano e um mês. A menina foi baleada na cabeça no momento em que estava no colo do pai, no sofá. "Estava com minha filha no braço, vendo televisão, ela me dando beijo, quandos os dois policiais entraram e atiraram. Ela foi baleada no meu colo. Eles nem ligaram para dar socorro, mandaram eu ir para a desgraça", disse.
Ele conta que os dois policiais entraram na casa e tentaram balear um homem, que teria fugido e invadido a residência momentos antes. "Ela morreu no hospital mesmo", disse. O crime também foi presenciado pela mãe de criação, que disse que tentou conversar com os dois policiais. "Eles viram minha sobrinha atingida e disseram que estavam acostumados com isso", afirma Letícia santos, tia da criança.
De acordo com o delegado titular da 4ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin/ Santo Antônio de Jesus), Paulo Roberto Guimarães, durante o conflito, a delegada, o juiz e o promotor do município se refugiaram em um hotel da cidade. Ele afirmou que as autoridades se hospedaram no local por motivo de segurança, já que a sede da delegacia da região foi completamente destruída pelos bandidos.Caos
Trinta motos, 18 carros e um ônibus foramincendiados na ação de um grupo de moradores na cidade. Além disso, o grupo ainda invadiu a delegacia, roubou todas as armas, liberou os presos, destruiu e queimou o local.
Durante a ação do grupo, todo o armamento da delegacia local foi roubado entre a noite de quarta-feira e a madrugada desta quinta-feira. Segundo o coronel Aldemário Xavier, que atua na cidade, 18 pessoas foram ouvidas pela polícia e liberadas. Xavier ainda informou que o caos estabelecido na cidade está controlado na manhã desta quinta-feira.
Caos
Após a morte da menina de um ano de idade, um grupo de pessoas invadiu e destruiu a delegacia da Polícia Civil.
Segundo uma moradora, que não quis se identificar, o grupo circulou pela cidade virando e incendiando carros e fazendo ameaças a todos. "Eles passaram aqui na frente, encapuzados, dizendo que iam colocar fogo em tudo. Nós estamos apavorados. Apagamos as luzes e estamos calados em casa para não perceberem que estamos aqui. A cidade está isolada", afirma.
Ela conta que entrou em contato com a Polícia Militar, mas foi informada que não havia militares sufucientes no momento para conter a ação dos criminosos. Porém, um reforço de mais de 30 homens do 14º Batalhão da PM de Santo Antônio de Jesus foi enviado para a cidade.
O G1 conversou com a assessoria da Polícia Civil, que informou que "as ocorrências teriam iniciado possivelmente após uma criança ter sido atingida durante uma troca de tiros, e que foram tomadas todas as medidas de corregedoria para saber qual a extensão do envolvimento do policial civil no caso". Além disso, uma equipe de delegados está a caminho de Amargosa, para colher depoimentos das testemunhas.
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