Presidente Dilma Rousseff assinou 81 MPs em 2011 e 2012.
No mesmo período do primeiro mandato, Lula editou 129.
O número de medidas provisórias (MPs) editadas nos dois primeiros anos
do governo da presidente Dilma Rousseff diminuiu 37% em relação ao mesmo
período do primeiro mandato do antecessor dela, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2012, Dilma assinou 81 medidas
provisórias; Lula editou 129 entre janeiro de 2003 e dezembro de 2004.
Até o momento, a média mensal de MPs de Dilma é de 3,3; a de Lula, no
período equivalente, é de 5,3.
Mesmo com uma ampla base de apoio ao seu governo no Congresso Nacional,
Dilma, a exemplo de seus antecessores, tem optado por recorrer à
criação das MPs para driblar o tempo de discussão dos temas no
Legislativo, mesmo em relação a assuntos que, aparentemente, podiam ter
sido analisados pelos parlamentares antes de serem colocados em prática.
Nº de MPs na metade do mandato | |||
---|---|---|---|
Presidente/ Período |
FHC | Lula | Dilma |
1º ano | 51 | 58 | 36 |
2º ano | 19 | 71 | 45 |
Média/mês (*) | 2,9 | 5,3 | 3,3 |
(*) considerando a soma dos dois anos do primeiro mandato | |||
Fonte: Portal da Legislação / Palácio do Planalto |
Segundo a Constituição, as MPs devem ser utilizadas apenas em questões
de caráter urgente e relevante. A partir de sua publicação, ela passa a
ter eficácia imediata e tem prazo de até 120 dias para ser votada na
Câmara e no Senado.
Publicada em 10 de outubro de 2012, a MP 584 implementou medidas
tributárias referentes à realização, no Rio de Janeiro, dos Jogos
Olímpicos e das Paralimpíadas. A medida retira impostos federais da
produção de troféus e medalhas para os eventos que irão ocorrer somente
em 2016.
Já a MP 593, de 5 de dezembro, instituiu o Programa Nacional de Acesso
ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Entre outras iniciativas, o
dispositivo ampliou o rol de beneficiários da Bolsa-Formação Estudante.
Em outros casos, as medidas provisórias publicadas na gestão Dilma
serviram tanto para abrir linhas de crédito extraordinárias para
ministérios quanto para conceder à iniciativa privada a administração de
portos, aeroportos e rodovias.
Em 2012, duas medidas provisórias se destacaram por tentar reverter
derrotas do Executivo na votação de projetos de lei polêmicos no
Congresso. A solução encontrada por Dilma Rousseff foi vetar regras aprovadas por senadores e deputados, compensando-as com MPs.
Foi assim em maio, na sanção do novo Código Florestal, em que o
Executivo alargou por MP as faixas de reflorestamento exigidas em
desmatamentos nas margens de rio, entre outras regras mais duras para
agricultores. Em dezembro, o Executivo lançou medida para aplicar na
educação royalties arrecadados com a produção de petróleo, o que havia
sido derrubado na Câmara.
Descompasso
Líder do governo na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) atribui o excesso de MPs editadas pela Presidência da República a um descompasso entre as prioridades do Legislativo e do Executivo. Segundo Chinaglia, "há um conflito inerente aos papéis dos dois poderes".
Líder do governo na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) atribui o excesso de MPs editadas pela Presidência da República a um descompasso entre as prioridades do Legislativo e do Executivo. Segundo Chinaglia, "há um conflito inerente aos papéis dos dois poderes".
"Como vivemos em um regime presidencialista, o Parlamento nem sempre
compartilha das responsabilidades e dos prazos exigidos do governante",
analisa.
Na visão de Chinaglia, o governo federal precisa de mecanismos mais
ágeis do que o rito legislativo para garantir o funcionamento da máquina
pública.
"O Parlamento tem seu ritmo próprio. Cada projeto passa por duas, três
comissões antes de ser votado em plenário. Mas é preciso mudar alguma
coisa [em relação ao alto número de MPs editadas pelos presidentes da
República]", ressalta o petista.
Excesso
À frente da bancada do PSDB na Câmara, o deputado Bruno Araújo (PE) avalia que as medidas provisórias foram utilizadas de forma "excessiva" pelos últimos governos, inclusive, diz o líder tucano, pela gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
À frente da bancada do PSDB na Câmara, o deputado Bruno Araújo (PE) avalia que as medidas provisórias foram utilizadas de forma "excessiva" pelos últimos governos, inclusive, diz o líder tucano, pela gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Ao longo dois oito anos em que esteve no comando da Presidência, FHC
publicou 334 MPs. É o segundo presidente que mais recorreu ao
instrumento desde a redemocratização. O primeiro foi Lula, com 414 MPs
em oito anos de governo.
Quantidade de MPs por presidente | |||||
---|---|---|---|---|---|
Presidente/ Período |
Sarney (1985-1990) |
Collor (1990-1992) |
Itamar (1992-1995) |
FHC (1995-2003) |
Lula (2003-2011) |
Número de MPs | 125 | 89 | 142 | 334 (160 no primeiro mandato e 174 no segundo) | 414 (239 no primeiro mandato e 175 no segundo) |
Fonte: Portal da Legislação / Palácio do Planalto |
"A edição das medidas provisórias e a não apreciação dos vetos têm
colocado o Legislativo de joelhos na correlação de forças com o
Executivo. As MPs deixam o Congresso pautado pela iniciativa do governo,
transformando algo que deveria ser excepcional como uma rotina da
administração pública", pondera Araújo.
O líder do PSDB critica, por exemplo, a edição da medida provisória que
liberou R$ 42,5 bilhões em investimentos para compensar a não votação
do Orçamento de 2013 em dezembro. Ele ressalta que a Constituição veda o
uso das MPs para tratar de matérias orçamentárias.
O deputado pernambucano também reclama de uma prática que se tornou
comum no Congresso: o uso das MPs para enxertar propostas sem relação
com o objeto principal do projeto de lei, batizadas pelos parlamentares
como "árvores de natal".
Em dezembro de 2012, uma semana antes de entrar em recesso, o Senado
aprovou uma MP que permite a intervenção da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) em distribuidoras de energia com dificuldades para
manter a prestação de serviços.
De olho nos atalhos percorridos no Legislativo pelas medidas
provisórias, parlamentares das duas Casas e o próprio Planalto pegaram
carona no projeto relatado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), que devia
se limitar às alterações no setor energético, para garantir isenção do
imposto de importação de semicondutores, prorrogar até 2016 a isenção do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para taxistas e,
inclusive, elevar o teto do programa federal Minha Casa, Minha Vida de
R$ 85 mil para R$ 100 mil.
"A medida provisória perdeu completamente seu objetivo inicial. Era
para resolver questões urgentes, que não houvesse tempo de aguardar
análise do Congresso. Ela virou um instrumento de interesse do
governante, que ele julga urgentes e relevantes. Nos Estados Unidos, por
exemplo, os decretos presidenciais são usados apenas em períodos de
crises ou situações muito urgentes, como guerras", destaca o cientista
político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB).
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