Em entrevista a Oprah Winfrey, ex-ciclista conta que vivia num mundo
perfeito, mas não verdadeiro, e diz que não teria vencido sem drogas
E Lance Armstrong disse "sim". Em sua primeira entrevista após perder
os sete títulos da Volta da França e ser banido do esporte, o
ex-ciclista admitiu que as vitórias que inspiraram o mundo foram
construídas a base de doping. As declarações foram dadas na madrugada
desta sexta-feira, noite de quinta-feira nos Estados Unidos, na primeira
das duas partes da entrevista à apresentadora Oprah Winfrey - a segunda
vai ao ar nesta sexta. Perguntado se havia tomado EPO (eritropoetina,
substância que gera um aumento de glóbulos vermelhos no sangue, o que
melhora a troca de oxigênio e deixa a pessoa mais resistente ao esforço
físico), se tinha feito transfusões de sangue e usado outras substâncias
ilícitas, Lance respondeu por três vezes.
- Sim.
E foi além: acredita que sem as drogas não teria vencido a Volta da França entre 1999 e 2005.
- Não, em minha opinião.
Diante de Oprah Winfrey, Lance Armstrong admite que tomou drogas para vencer (Foto: AP)
Lance contou que começou a se dopar em meados dos anos 90. E que vivia em um mundo perfeito.
- Repeti várias vezes. Enquanto estava neste processo nos últimos anos,
a verdade não estava lá. Esta história foi perfeita durante muito
tempo. Tinha um casamento perfeito, belos filhos, uma história perfeita e
mítica. Mas não era verdade.
O ano de 2005 foi o último em que Lance diz ter se dopado. Após o sétimo título da Volta da França, ele se aposentou. Anunciou seu retorno em 2009, quando terminou a prova em terceiro lugar. No ano seguinte, chegou em 23º e parou de vez. Nestes dois anos, o americano jura que estava limpo.
O ano de 2005 foi o último em que Lance diz ter se dopado. Após o sétimo título da Volta da França, ele se aposentou. Anunciou seu retorno em 2009, quando terminou a prova em terceiro lugar. No ano seguinte, chegou em 23º e parou de vez. Nestes dois anos, o americano jura que estava limpo.
O ex-ciclista alegou que não inventou a cultura do doping, pregressa
das duas décadas anteriores. Disse ter perdido o controle sobre tudo e
assumiu as decisões e escolhas que tomou.
- Não fui forçado a nada. Não tive acesso a nada que todos tenham tido.
Sou profundamete imperfeito, todos temos falhas. Por causa das minhas
ações, eu paguei o preço e mereço isso. Me desculpo por isso.
Uso de drogas
"Eu enxergava tudo de forma muito simples. Nós tinhamos drogas para
aumentar a capacidade do oxigênio. Era tudo o que precisávamos. Meu
coquetel era apenas EPO, mas não muito mais. Eu tinha pouca testosterona
por causa do câncer. Não havia testes em 99 e não houve muitos testes
fora da competição. Era uma questão de programação não ser pego no
doping. Nunca fui reprovado. Houve testes retroativos, então fui
reprovado. Mas nas cententas de testes que fiz, passei porque não havia
nada no meu organismo".
Companheiros de equipe forçados a se dopar
"Ninguém foi forçado a usar, não é verdade. Não houve norma para tomar
caso quisesse fazer parte da equipe. Era uma época muito competitiva.
Mas algumas escolheram ficaram fora. Não é verdade que demiti Christian
(Vande Velde, ciclista americano cuja suspensão de seis meses por doping
acaba em 1º de março deste ano). Esperavámos que todos estivessem em
forma. Havia uma expectativa. Mas não fiz isso".
Armstrong diz que vai passar o resto da vida se desculpando com seus fãs (Foto: AP)
Intimidações
"Intimidava as pessoas no sentido de tentar controlar as narrativas.
Quando não gostava de alguém, eu tentava controlar a situação. Fiz isso a
minha vida toda. Fui criado com muita gente guerreira. Eu, minha mãe.
Antes do dignóstico do câncer, eu era um competidor, mas não feroz.
Depois, fiquei assim. Tinha que fazer de tudo para sobreviver, o que foi
bom. Peguei isso e coloquei no ciclismo. A situação de agora é a
segunda em que não consigo controlar o resultado. A primeira foi o
câncer".
Fãs traídos
"Na epóca não me sentia errado, e isso é assustador. Não me sentia
trapaceando. É mais assustador ainda. Não era trapaça, mas sim ter
vantagem sobre o adversário. Eu estava igualando as condições. Falar
hoje é fácil. Eu não compreendia a magnitude da adoração das pessoas. O
mais importante é que estou começando a entender. Vejo raiva nas
pessoas. E traição. Pessoas que me apoiaram e acreditaram em mim. Vou
passar o resto da minha vida tentando recuperar a confiança e pedindo
desculpas a elas".
Armstrong e a medalha de bronze nas Olimpíadas
de 2000, cassada nesta quinta (Foto: Getty Images)
de 2000, cassada nesta quinta (Foto: Getty Images)
Doações à UCI
"Doei porque eles pediram. Não houve um acordo (para que Lance não
fosse pego no doping). É impossivel dar uma resposta que alguém vá
acreditar. Não sou fã da UCI (União Internacional de Ciclismo). Houve
coisas irregulares, e essa foi uma delas. Eu apenas tinha dinheiro e
disse Ok".
Motivos para se arriscar
Motivos para se arriscar
"Fui motivado pelo desejo indomável de vencer a todo custo. Isso me
ajudou durante a doença. Mas o nível que chegou é uma falha. E aquele
orguho, a atitude, aquela arrogancia, não dá para negar. Eu olho e
penso: 'Olha que cretino e arrogante'. Isso não é bom".
Futuro contra as drogas
"Amo o ciclismo. Abusei do meu poder e desrespeitei as regras. Não
tenho moral para falar em limpar o ciclismo. Mas se houver uma
reconciliação e eu for convidado, vou ser o primeiro a chegar".
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