Medida afeta quatro indiciados por briga com mortes de palmeirenses.
Sentença deve ser cumprida um mês e três jogos depois de ser expedida.
O presidente da Gaviões da Fiel, Donizete,
quando foi solto (Foto: Roney Domngos/G1)
Um mês e três jogos depois de a medida judicial ter sido expedida,
quatro membros da torcida organizada Gaviões da Fiel devem ficar dentro
de um quartel da Polícia Militar (PM) durante o período em que o
Corinthians entrar em campo. Nesta quarta-feira (4), quando o time
enfrenta o Boca Juniors, na final da Taça Libertadores, os torcedores
indiciados por brigas estão intimados pela Justiça a comparecer ao local
duas horas antes da partida e só poderão sair de lá duas horas depois.quando foi solto (Foto: Roney Domngos/G1)
A decisão afeta o presidente da Gaviões da Fiel, Antonio Alan Souza Silva, o Donizete, e outros três torcedores da maior torcida organizada do clube. Ela foi tomada pela juíza Laura Mattos Almeida, da 2ª Vara do Júri, do Fórum de Santana, na Zona Norte, que determinou a medida cautelar no dia 1º de junho. Entretanto, somente nesta terça-feira (3), a PM indicou o Regimento de Polícia Montada 9 de Julho, na Luz, região central da cidade, para os corintianos ficarem.
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A aplicação da medida, segundo a Justiça, visa a evitar que novas
brigas de torcidas ocorram. Além de Donizete, a medida afeta o
ex-presidente da Gaviões Douglas Deungaro, o Metaleiro, e mais dois
integrantes da agremiação, Reinaldo Gilberto Alves, o Ade, e Mário
Batista, o Magoo. Eles foram indiciados pela Polícia Civil pela
participação na morte de dois palmeirenses durante confronto entre a
Gaviões e a Mancha Alviverde em março deste ano na Zona Norte. Eles
foram apontados como os líderes do conflito. Chegaram a ficar presos
temporariamente, mas foram soltos por decisão judicial.Em seu despacho, a magistrada decidiu que a restrição seja cumprida sempre nos dias em que o Corinthians jogar na cidade de São Paulo. Quando não houver jogos na capital paulista, os corintianos citados judicialmente não poderão sair, no entanto, das cidades onde moram. A medida cautelar vale até o fim do processo.
Imbróglio
Apesar de essa decisão da Justiça ter sido divulgada no início de junho, somente na terça a PM indicou um local onde os torcedores deveriam ficar. Procurada, a corporação alegou que não havia sido comunicada da medida até a presente data. O Tribunal de Justiça contesta e diz que enviou ofícios para a PM duas vezes desde a determinação judicial.
O juiz José Augusto Nardy Marzagão, que substituiu Laura Almeida, que deixou a 2ª Vara em Santana, informou só ter recebido a indicação do quartel pela PM após as 17h de terça. Após isso, expediu os mandados para que os corintianos fossem intimados a comparecer ao Regimento de Polícia Montada nesta quarta.
Em todo o mês passado até agora, o Corinthians já jogou três vezes em São Paulo, sendo duas pelo Campeonato Brasileiro e uma pela Libertadores, todas as partidas no Pacaembu. O time também recebeu o Figueirense em 7 de junho, Santos, no dia 20, e Palmeiras, 24.
Presidente da GaviõesO advogado Ricardo Cabral, que defende o presidente da Gaviões, afirmou ao G1 que a PM não indicou um quartel para seu cliente ficar nos jogos do Corinthians em junho como a juíza havia pedido. Mesmo assim, ele orientou Donizete a comparecer a um batalhão da PM anexo ao 9º Distrito Policial, no Carandiru, para evitar problemas futuros com a Justiça.
“Donizete foi para lá nos dois primeiros jogos do Corinthians na capital no mês passado. O batalhão anotou os horários de entrada e saída dele. Mas como lá não tinha TV, ele não viu os jogos. Contra o Palmeiras, a juíza determinou que ele visse o jogo na casa dele e isso foi cumprido”, afirmou Ricardo Cabral.
Até as 17h de terça, o advogado ainda não havia sido comunicado oficialmente sobre a indicação da cavalaria da PM pela Justiça. “Como ainda não fomos informados sobre qual o quartel que ele deverá ir, Donizete vai assistir à final na quadra da Gaviões. A própria juíza nos garantiu que ele só vai a um quartel nos dias de jogos do Corinthians se a PM indicar qual será o quartel. Até agora isso não foi feito”.
O G1 não conseguiu localizar os advogados de Metaleiro, Ade e Magoo para comentarem o caso.
MP permite televisão“A medida cautelar não é uma punição. É uma prevenção. Os quatro torcedores poderão assistir ao jogo se tiver uma televisão lá dentro do quartel ou eles levarem a deles. O objetivo é eles não entrarem em contato com os demais torcedores para articular confrontos. O importante é eles ficarem isolados”, disse a promotora Claudia Ferreira Mac Dowell. Até a publicação desta reportagem a PM não havia respondido ao G1 se há televisão na sala da companhia onde os corintianos irão ficar.
Indiciados por crimeOs quatro torcedores chegaram a ser presos temporariamente, mas foram soltos pela Justiça e respondem em liberdade por duplo homicídio, lesão corporal e formação de quadrilha. Apesar de negarem os crimes, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) concluiu que os quatro membros da Gaviões incitaram o confronto de 25 de março deste ano contra torcedores da Mancha, na Avenida Inajar de Souza, na Freguesia do Ó.
Na ocasião, os palmeirenses Andre Lezo e Guilherme Moreira morreram com traumatismo craniano após receberem golpes de barras de paus e de ferros na cabeça. Um outro sócio da Mancha foi baleado na perna, mas sobreviveu.
A briga de março teria sido marcada pela internet para vingar o assassinato do corintiano Douglas Karin Silva, em 2011. O corpo dele foi encontrado no Rio Tietê após confronto agendado entre corintianos e palmeirenses.
A Decradi ainda procura outros quatro corintianos suspeitos de participar da briga de março: Wagner Costa, o BO, vice-presidente da Gaviões; Damião Rogério Fagundes Oliveira, o Pererê; Marcelo Eduardo Rodrigues Sales, o Ninja, e Carlos Roberto de Brito Júnior, o Neguinho, tem mandados de prisão temporária expedidos pela Justiça contra eles.
Palmeirenses indiciados
O presidente e o vice-presidente da Mancha, respectivamente, Marcos Ferreira, o Marquinhos, e Antonio Rafael Scarlatti Felippe, e outros dois sócios da torcida organizada já haviam sido indiciados por formação de quadrilha por participação na briga de março. Segundo a Decradi, eles também tinham conhecimento do confronto. Apesar disso, a polícia não pediu nesta terça à Justiça a prisão deles, que respondem ao inquérito em liberdade.
O inquérito que apura os responsáveis pela morte de Douglas Silva já tinha sido concluído, mas voltou para a Decradi após pedido do Ministério Público para mais diligências. Três palmeirenses foram indiciados pelo homicídio, entre eles, o então vice-presidente da Mancha, Lucas Lezo, e o seu irmão, Tiago Lezo - gêmeo de Andre, morto em março. Lucas está preso por outro crime, posse ilegal de arma. Já Tiago foi solto.
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