Couture pendurou as luvas no UFC 129 |
Por Fernando Zanchetta | Casca Grossa
Randy 'The Natural' Couture rompeu barreiras e se aposentou das competições de MMA após a derrota por nocaute para Lyoto Machida (UFC 129, em abril), com embasbacantes 47 anos de idade. Inovador no sentido literal da palavra, wrestler nato e com experiência de sobra nas principais competições mundiais da modalidade, a longevidade na carreira do MMA, iniciada aos 33 anos, sempre foi envolvida por tom ideológico e ativa em larga escala pelo puro gosto de se manter competitivo.
Ex-campeão dos meio-pesados (até 93kg) e pesados (até 120kg), integrante do criterioso Hall da Fama do UFC, Couture aprimorou sólidas características do padrão de luta com o passar do tempo. Nas entrelinhas, representa um dos últimos suspiros da velha geração do esporte e levanta constantemente a questão do 'quando parar'. Quais seriam os limites?
Ainda há contemporâneos da Randy na ativa, como Dan Henderson (40 anos, campeão meio-pesado do Strikeforce) e a lenda Dan Severn. O primeiro, um exemplo de vivência que impressiona pela devoção e ritmo imprimido nos combates. O segundo é recordista: aos 52 anos, ainda disputa campeonatos menores nos Estados Unidos apenas em busca de marcas inéditas, como a da centésima vitória (está com 99).
Um pouco mais para trás, o ídolo russo Fedor Emelianenko, 34 anos, busca a motivação incessante para tentar voltar aos trilhos. Derrotas recentes para os brasileiros Fabrício Werdum e Antonio 'Pezão' o fazem anunciar afastamento das competições com frequência. Muitos dizem que os dois resultados negativos estão bem longe de abalar qualquer aspecto da carreira brilhante no passado. Mas o que repercute no MMA atual é o imediatismo, muitas vezes cruel. Fedor parece cansado, apático e dá impressão de seguir no jogo (tem combate pré-marcado contra Henderson, pelo Strikeforce, sem data definida) apenas para alimentar resquícios do ego vencedor e incontestável de outros tempos.
Mirko Cro Cop desponta como a controvérsia em pessoa. Bem distante das atuações de gala comuns há alguns anos, o striker croata acumula apresentações monótonas e derrotas no UFC, sempre seguidas de intenções declaradas de parar. Mas bastam alguns dias para o vermos alimentar boatos de quem pode enfrentar este ou aquele oponente e que vai rever aspectos do treino para se sairá melhor na próxima oportunidade.
Os irmãos Nogueira merecem ser citados, mas em outro sentido. Ambos ainda não falam em aposentadoria, mas passam por momentos de recuperação. Ainda em busca de regularidade no Ultimate, Rogério Minotouro provavelmente dará a última cartada no evento contra Rich Franklin (UFC 133, agosto). Minotauro terá pela frente Brendan Schaub no evento seguinte (134, no Rio de Janeiro) e terá de comprovar boas condições após as delicadas cirurgias de quadril e joelho a que se submeteu.
Dentro do contexto moderno, os atletas dificilmente atingirão marcas semelhantes à de Couture e Severn. Prova disso é que, dos atuais sete campeões do UFC, três estão afastados por lesões graves ou processos de recuperação, o que força remodelar frequentemente os cards dos próximos eventos.
Com o aumento frenético da competitividade, a rotina de preparo é cada vez mais massacrante, e quando os resultados esperados não são alcançados, a frustração é inversamente proporcional. O alto nível não dá trégua em qualquer modalidade e o preço a pagar pela evolução do esporte muitas vezes é injusto. No MMA, existe todo aquele clima já tradicional de que 'tudo é possível'. O próprio Couture admitiu esperar que o UFC tente trazê-lo de volta à ativa de alguma forma. Para os fãs mais ardorosos, assistir os mais experientes sempre tem gosto especial e inusitado. Pelo jeito, ainda vai ter muito pano pra manga.
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