CÂMARA DE IBICARAÍ

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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Gari troca a vassoura por sapatilha e vira professor de balé em São Vicente

Nilton Costa aprendeu a dançar ainda jovem, no Rio de Janeiro.

Após dançar na rua como gari, prefeito trocou a função do concursado.

Mariane RossiDo G1 Santos
Um gari de São Vicente, no litoral de São Paulo, resolveu trocar a vassoura pelas sapatilhas e dar aulas de ballet para crianças carentes. Ainda jovem, Nilton Costa teve que abandonar os palcos para se dedicar a limpeza das ruas já que não conseguia sobreviver apenas da dança. Com a vassoura na mão, ele dançava no meio da rua e revelou o seu verdadeiro talento. Após descobrir a história de Nilton, o ex-prefeito da cidade Tércio Garcia mudou a função dele e lhe deu a oportunidade de ensinar o balé para dezenas de pessoas.

Na Baixada Santista, ele casou e teve filhos. Costa também conheceu várias companhias de dança para continuar no balé. “Meu pai é português e dizia que eu não ia viver da dança, que eu tinha que estudar”, conta. Por isso, ele começou se dedicar aos estudos e fazer concursos públicos. Em fevereiro de 2001, Costa foi classificado no concurso da Prefeitura de São Vicente e passou a trabalhar como gari na cidade litorânea.
Nilton Costa nasceu no Rio de Janeiro, onde morava com a mãe e os irmãos em Duque de Caxias. Ainda criança, ele iniciou no balé. “Eu comecei a dançar com oito ou nove anos. Era uma grande dificuldade. Eu tinha que pegar um ônibus para ir à academia. Ali eu descobri que tinha um potencial grande como bailarino”, conta Costa. Aos 20 anos, ele mudou-se para São Paulo para tentar uma vida melhor. “Eu tinha uma situação muito precária no Rio de Janeiro, era muito difícil, eu não podia viver só da dança. Cismei de sair do Rio de Janeiro e vim morar com o meu pai”, diz ele.
Costa como gari e como bailarino (Foto: Arte/G1)Costa como gari e como bailarino
(Foto: Mariane Rossi / G1)
Apesar de realizar o trabalho como gari com gosto e prazer, a vontade de ser bailarino ainda estava presente. Ele conta que, nas ruas, sentia como se estivesse em um palco, dançando balé. Certo dia, a paixão pela dança falou mais alto. “Deu a louca na minha cabeça. Eu parei em frente a um bingo, que tinha o espelho bem grande, e começou a tocar uma música. Eu peguei a vassoura e comecei a dançar”, conta ele. O prefeito de São Vicente, na época, era Tércio Garcia, que passou pelo local naquela hora. “Todo mundo achava que iam me mandar embora, por causa daquele preconceito, o homem fazendo balé. A rua toda parou para me ver dançando e eu com aquela roupa de gari, dançando um ‘balezão’. Foi até a música do Titanic. Foi uma loucura”, diz ele.

Depois de alguns dias, o prefeito entrou em contato com Costa e o transferiu de setor. Ele saiu da função de gari para dar aulas de balé no Centro de Convivência e Formação (Cecof) para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos, na Vila Margarida, uma região carente da cidade. “Eu percebi que quando você tem um sonho você tem que correr atrás”, explica.
Costa dá aulas para crianças de 6 a 17 anos (Foto: Mariane Rossi/G1)Costa dá aulas para crianças de 6 a 17 anos (Foto: Mariane Rossi/G1)
Como professor, ele tirou vários jovens das ruas e ensinou os passos da dança clássica e contemporânea. Jonathan de Sena Rodrigues, que faz balé há sete anos, foi um deles. “Cheguei aqui e conheci o Nilton. Ele é muito bom professor e eu fiquei impressionado que ele largou a vida de gari para cuidar da gente. Eu aprendi muitas coisas, alongamento, técnica, por exemplo”, diz o menino, que não abandonou a dança apesar do preconceito da família e dos amigos. Aos 14 anos, ele se tornou uma das revelações do balé de São Vicente após ganhar uma bolsa de estudos e fazer um curso na Rússia. ”Meu desejo é ser um grande bailarino, ir para fora, dançar com o meu professor querido e conquistar a minha família. O mundo não é só de preconceito”, fala.

A história de Jonathan representa bem a responsabilidade que Costa assumiu quando se tornou um professor de balé. Ele diz que se preocupa muito com as crianças, como se fossem seus filhos, e acredita no potencial de cada um. Na comunidade, a dificuldade financeira é latente. Quando a família não pode pagar um figurino para um espetáculo de balé, por exemplo, ele paga do próprio bolso mas não tira a felicidade da criança em dançar no palco. “Aqui tem bailarino para as melhores companhias do mundo. Eles só precisam de uma porta. Não importa se são pobres ou ricos, são crianças que vivem da dança, que amam. O que está dificultando é alguém que abrace, acredite no talento daquela criança”, diz.

Após ter deixado a profissão de gari há 15 anos, ele diz que não se arrepende do tempo que realizou a limpeza das ruas de São Vicente. E, se precisasse ser gari novamente, Costa voltaria com o maior prazer, mas nunca deixaria o balé de lado. “Eu tenho o maior orgulho de falar da Codesavi, dos funcionários que trabalhavam comigo. Balé e gari não são muito diferentes. Vou carregar os dois para o resto da minha vida”, afirma ele.
Costa dá aulas no Cecof da Vila Margarida (Foto: Mariane Rossi/G1)Costa dá aulas no Cecof da Vila Margarida (Foto: Mariane Rossi/G1)

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