Números do IBGE mostram perda de
ritmo na recuperação do setor e vendas estagnadas no 3º trimestre. Em 12 meses,
avanço desacelerou de 3,3% em agosto para 2,8% em setembro.
Por Daniel Silveira e Darlan Alvarenga, G1 —
Rio de Janeiro e São Paulo
Comércio de Campina Grande, Paraíba — Foto: Junot Lacet Filho/Jornal da
Paraíba/Arquivo
As vendas do comércio varejista brasileiro tiveram uma queda de 1,3% em
setembro na comparação com agosto, informou nesta terça-feira (13) o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com setembro do ano
passado, houve alta de 0,1%.
De acordo com a gerente da pesquisa, Isabella Nunes, trata-se do pior
setembro da série histórica da pesquisa, iniciada em 2000. Além disso, foi o
resultado mais negativo desde março de 2017, quando houve queda de 1,9% na
comparação com o mês imediatamente anterior.
Os números do IBGE mostram um perda de ritmo na recuperação do setor.
Com a queda de setembro, o varejo passou a acumular alta de 2,3% no ano. Em 12
meses, o avanço desacelerou de 3,3% em agosto, para 2,8% em setembro.
Vendas no comércio - mensal
Comparação com o mês imediatamente anterior, em %
0,80,8-0,6-0,60,90,9-0,5-0,50,80,8000,90,91,11,1-1,2-1,2-0,2-0,2-0,4-0,422-1,3-1,3Set/17Out/17Nov/17Dez/17Jan/18Fev/18Mar/18Abr/18Mai/18Jun/18Jul/18Ago/18Set/18-1012-23
Fonte: IBGE
A queda das vendas acontece após uma alta expressiva de 2% em agosto –
resultado que foi revisado após leitura inicial de alta de 1,3% divulgada anteriormente.
"A base de comparação elevada traz um impacto para este mês de
setembro", ponderou Isabella. Ela lembrou também que no ano passado, no
mesmo período, havia ainda a liberação de recursos do FGTS e do PIS, o que
promoveu maior consumo das famílias.
No consolidado do 3º trimestre, o setor apresentou estabilidade
(estagnação) no comparativo com trimestre imediatamente anterior, após alta de
0,8% no segundo trimestre e de 1% nos primeiros três meses do ano. Já na
comparação com o 3º trimestre do ano passado, houve avanço de 1%.
00:00/01:13
Vendas do comércio caem 1,3% e setor tem pior setembro desde 2000. E eu
com isso?
Perda de fôlego
O resultado veio pior que o esperado pelo mercado. A expectativa em
pesquisa da Reuters era de baixa de 0,20% na comparação mensal e de avanço de
1,60% sobre um ano antes.
Desde abril, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros, os resultados
acumulados no ano e em 12 meses perderam ritmo de forma sistemática,
apresentando ligeira recuperação em agosto, mas voltando a cair em setembro.
"Mas a leitura continua a mesma, de uma trajetória de recuperação.
Apesar da perda de fôlego na passagem de agosto para setembro, os resultados
acumulados continuam positivos", destacou a pesquisadora.
Com o resultado de setembro, o comércio ficou 7,3% abaixo do seu nível
recorde, alcançado em outubro de 2014. Segundo o IBGE, o patamar atual é
equivalente ao do que era observado em novembro de 2015. Em agosto, estava 6,1%
abaixo do pico.
Vendas no comércio - acumulado em 12 meses
Em %
-0,7-0,70,30,31,11,12,12,12,42,42,92,93,83,83,73,73,73,73,63,63,23,23,33,32,82,8Set/17Out/17Nov/17Dez/17Jan/18Fev/18Mar/18Abr/18Mai/18Jun/18Jul/18Ago/18Set/18-1012345
Fonte: IBGE
Maiores quedas
No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e motos e
materiais de construção, as vendas caíram ainda mais em setembro: 1,5%.
Segundo o IBGE, 6 das oito atividades pesquisadas registraram queda em
setembro. O que mais pesou no resultado negativo de setembro foram as vendas de
combustíveis e nos supermercados, que recuaram, respectivamente, 2% e 1,2%, na
comparação com agosto. Os dois grupamentos foram também os mais pressionados
pela inflação no período.
Vendas do comércio por segmento:
·
Combustíveis e lubrificantes: -2%
·
Hipermercados, supermercados,
produtos alimentícios, bebidas e fumo: -1,2%
·
Tecidos, vestuário e calçados: 0,6%
·
Móveis e eletrodomésticos: 2%
·
Artigos farmacêuticos, médicos,
ortopédicos, de perfumaria e cosméticos: -0,4%
·
Livros, jornais, revistas e
papelaria: -1%
·
Equipamentos e material para
escritório, informática e comunicação: -0,2%
·
Outros artigos de uso pessoal e
doméstico: -1%
·
Veículos e motos, partes e peças:
-0,1%
·
Material de construção: -1,7%
A pesquisadora do IBGE destacou que a deterioração do mercado de
trabalho tem relação direta com o baixo desempenho do comércio. Embora a massa
de rendimento esteja aumentando, ela se dá por meio da ocupação informal, já
que não têm sido gerados postos de trabalho com carteira assinada.
"Enquanto a gente não reverter essa situação fica muito difícil da
gente ter um volume maior de vendas no varejo. Obviamente, o trabalhador com
renda informal não tem tanto poder de consumo como aquele que tem assegurado
benefícios", disse.
Vendas caem em em 16 das 27 unidades
da Federação
Na passagem de agosto para setembro, as maiores quedas nas vendas
ocorreram na Paraíba (-6,4%), Minas Gerais (-3,1%) e Goiás (-2,0%). Por outro
lado, houve altas em 11 das 27 Unidades da Federação, com destaque para
Rondônia (8,4%), Tocantins (2,9%) e Acre (2,1%).
Perspectivas
Com o desemprego ainda elevado, a economia brasileira tem mostrado um
ritmo de recuperação ainda lento em 2018, mas nos últimos meses melhorou o
otimismo dos empresários.
A confiança do comércio subiu em outubro e atingiu o maior nível em cinco meses,
voltando para níveis anteriores à greve dos caminhoneiros, sugerindo que o pior
momento do setor começa a ficar para trás.
Após divulgação de alta de apenas 0,2% no PIB no 2º trimestre, analistas
do mercado passaram a projetar um crescimento de pouco mais de 1% em 2018.
Segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, a expectativa do mercado é que a economia cresça 1,36% em
2018, menos da metade do que era esperado do começo do ano.
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