Por
Andréia Sadi
O presidente Jair Bolsonaro e, ao fundo, seu filho Flávio Bolsonaro
(PSL-RJ) deputado estadual e senador eleito — Foto: Adriano Machado/Reuters
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu negar nesta sexta-feira (1º)
um pedido do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) para
suspender as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) a
partir de movimentações financeiras consideradas "atípicas" pelo
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
O senador eleito Flávio Bolsonaro disse, por meio de sua assessoria, que
não vai se pronunciar por ora, mas que deve se manifestar no Senado sobre a
decisão na tarde desta sexta-feira (1º). Flávio havia pedido a suspensão do
procedimento investigatório com o argumento de que uma vez eleito senador, a
competência para autorizar investigação seria do STF, por causa do foro
privilegiado.
Em entrevista ao blog há duas semanas, Marco Aurélio já tinha sinalizado que
rejeitaria o pedido da defesa do senador eleito. "Tenho negado seguimento
a reclamações assim, remetendo ao lixo”, afirmou o ministro na ocasião.
Com a decisão de Marco Aurélio, a investigação do MP-RJ pode ser
retomada. O ministro também determinou o fim do sigilo do caso.
Na decisão, Marco Aurélio afirma que a competência da Corte "está
delimitada, de forma exaustiva, na Constituição Federal", e que cabe ao
STF julgar deputados e senadores por crimes cometidos no exercício do mandato.
"Reitero o que sempre sustentei: a competência do Tribunal é de
Direito estrito, está delimitada, de forma exaustiva, na Constituição Federal.
As regras respectivas não podem merecer interpretação ampliativa. A Lei Maior,
ao prever cumprir ao Supremo julgar Deputados e Senadores, há de ter
abrangência definida pela conduta criminosa: no exercício do mandato e
relacionada, de algum modo, a este último", disse o ministro.
Marco Aurélio disse, ainda, que a Corte não pode servir de
"elevador processual".
"A situação jurídica não se enquadra na Constituição Federal em
termos de competência do Supremo. Frise-se que o fato de alcançar-se mandato
diverso daquele no curso do qual supostamente praticado delito não enseja o
chamado elevador processual, deslocando-se autos de inquérito, procedimento de
investigação penal ou processo-crime em tramitação", afirmou o ministro.
Investigação
Flávio Bolsonaro e seu ex-motorista Fabrício Queiroz são alvos de procedimento
investigatório do Ministério Público do Rio de Janeiro iniciado a partir de
relatórios do Coaf. O conselho identificou uma movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz e
também na conta de Flávio Bolsonaro – em um mês, foram 48 depósitos em dinheiro, no total de R$
96 mil, de acordo com o Coaf.
Os depósitos, concentrados no autoatendimento da agência bancária que
fica dentro da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), foram feitos sempre no
mesmo valor: R$ 2 mil.
A investigação faz parte da Operação Furna da Onça, desdobramento da
Lava Jato no Rio de Janeiro que prendeu dez deputados estaduais.
De acordo com o Coaf, nove funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro
na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro transferiam dinheiro para a conta de Fabrício Queiroz em
datas que coincidem com as datas de pagamento de salário.
O filho do presidente Jair Bolsonaro tem dito estar à
disposição da Justiça para prestar esclarecimentos, mas não atendeu aos convites do Ministério Público para
apresentar as explicações.
Recurso ao Supremo
Ainda durante o recesso do Judiciário, o ministro Luiz Fux, do
STF, mandou suspender provisoriamente o
procedimento investigatório do MP-RJ atendendo a pedido de Flávio Bolsonaro,
até que o relator do caso, ministro Marco Aurélio pudesse decidir.
Na reclamação ao STF, Flávio Bolsonaro argumentava que o Ministério
Público requereu ao Coaf informações sobre dados sigilosos de sua titularidade
e que as informações do procedimento investigatório foram obtidas de forma
ilegal, sem consultar a Justiça.
Segundo Flávio, houve usurpação de competência da Corte para decidir
sobre o precedimento investigatório, uma vez que foi confirmada sua eleição
como senador e que só o Supremo poderia decidir neste caso.
Ele alegou, ainda, que "o Ministério Público do Rio se utilizou do
Coaf para criar atalho e se furtar ao controle do Poder Judiciário, realizando
verdadeira burla às regras constitucionais de quebra de sigilo bancário e
fiscal".
Flávio Bolsonaro pediu a suspensão de todos os atos da investigação em
curso até que se decida a respeito da competência do Supremo para processar e
julgar e ainda o reconhecimento da ilegalidade das provas e de todas as
diligências de investigação determinadas a partir delas.
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