O bispo afastado
de Formosa, dom José Ronaldo Ribeiro, listou o Papa Francisco, o núncio
apostólico no Brasil, Giovanni D’Aniello, e o cardeal Dom João Braz de Aviz
entre as 31 testemunhas de defesa no processo que investiga o desvio de mais de
R$ 2 milhões em dízimos da Diocese de Formosa. O advogado dele, Lucas Rivas,
disse que as escolhas foram técnicas. Ele defende a inocência do padre.
Além dele,
outras dez pessoas — incluindo o juiz eclesiástico Tiago Wenceslau, o
vigário-geral Epitacio Cardozo e mais três padres — estão entre os acusados de
participar do esquema. O Ministério Público apurou que eles usaram o dinheiro
para comprar uma fazenda de gado, uma casa lotérica e carros de luxo.
"Ficou bem
evidente desde a busca da soltura dos religiosos por meio de habeas corpus, que
a estratégia dos acusados é adiar o máximo que puderem o julgamento do caso, de
forma a se beneficiarem do transcurso do tempo, que virá acompanhado de um
pretendido esquecimento e da prescrição", disse o promotor responsável
pelo caso, Douglas Chegury.
O G1 tentou
contato com a Nunciatura Apostólica no Brasil (que funciona como embaixada da
Santa Sé) ao longo de quarta-feira (9), mas não recebeu retorno.
À reportagem, a
assessoria do "interventor" nomeado pelo Papa após o escândalo, Dom
Paulo Mendes Peixoto, disse que ele está escrevendo um parecer, juntamente com
outros responsáveis, para enviar para a Santa Sé e, a partir deste documento, a
Igreja tomará as devidas medidas. Ainda não há nada definido.
Desde a soltura,
Dom José Ronaldo está ficando na casa episcopal (casa do bispo da Diocese),
porém não está exercendo nenhuma função administrativa.
Bispo e padres suspeitos de desviar
dízimo deixam a cadeia (Foto: TV Anhanguera/Reprodução)
Operação Caifás
Deflagrada pelo
MP-GO, a Operação Caifás apura o desvio de R$ 2 milhões pela Diocese de
Formosa. No último dia 19 de março, nove pessoas foram presas. Além
do dízimo, a apuração apontou que o grupo se apropriava de dinheiro oriundo de
doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como
batismos e casamentos.
As investigações sobre o desvio começaram no ano passado,
após denúncias de fiéis. Eles afirmaram que as despesas da
casa episcopal subiram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde a chegada do bispo Dom
José Ronaldo, em 2015. Na ocasião, o clérigo negou haver irregularidades nas
contas da Diocese de Formosa.
Escutas
telefônicas autorizadas pela Justiça foram usadas na apuração. O grupo teria comprado uma fazenda de
gado, carros de luxo e uma lotérica com os recursos. A operação culminou com
apreensões em Formosa, Posse e Planaltina. Durante as apreensões, foi encontrado dinheiro escondido em fundo falso de
armário (assista abaixo).
Vídeo mostra dinheiro em fundo falso
de armário de clérigo; MP apura se valor foi desviado
Após menos de um
mês detidos em uma ala isolada do
recém-inaugurado presídio da Formosa, os presos foram liberados por habeas
corpus concedidos pela Justiça. Na saída da cadeia, o bispo Dom José Ronaldo,
outros quatro clérigos e dois empresários foram recebidos com festa por parentes e amigos.
Bloqueio de bens
O juiz Fernando
Oliveira Samuel, da 2ª Vara Criminal de Formosa, determinou em 27 de março o bloqueio de bens dos seis clérigos, dois empresários e do
secretário da Cúria. O limite é de até R$ 1 milhão
por cada. Também foi autorizada a quebra do sigilo bancário e fiscal dos
acusados.
Gestor
temporário da Diocese de Formosa nomeado pelo Papa Francisco e arcebispo de
Uberaba (MG), Dom Paulo Mendes Peixoto criticou o bispo preso e disse que recebeu "caixa vazio e com dívida". Ele
auxiliará nas atividades da paróquia da região até que seja nomeado um novo
bispo.
Dom Paulo Mendes Peixoto auxilia nas
atividades da diocese de Formosa (Foto: CNBB/ Divulgação)
A polícias apura
outras acusações que surgiram contra o bispo fora do processo. Entre elas, está
o uso de cartões da Igreja para compra de bebidas
alcoólicas. De acordo com boletim de ocorrência,
houve gasto de R$ 4 mil indevidamente.
No processo do
MP-GO constam documentos que apontam que alguns dos religiosos acusados de
desvios de dízimos reconheceram a ausência de R$ 910 mil nos caixas das
igrejas. O órgão acredita que o padre Waldson José de Melo,
de Posse, o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira e o bispo Dom José Ronaldo
embolsavam os valores declarados como “desaparecidos”.
Além disso,
fiéis afirmam que Dom José Ronaldo aumentou em até 400% taxas de casamento
quando assumiu a administração, em 2014. As mesmas informações chegaram ao
MP-GO) por meio do depoimento de um dos padres que denunciou o esquema, mas,
segundo o promotor, ainda não compõem uma apuração específica.
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