Por Alessandra Modzeleski e Fernanda Calgaro, G1, Brasília
Dos 49 projetos aprovados
neste ano pelos deputados, 28 são decretos referentes a acordos de cooperação
entre o Brasil e outros países, segundo dados disponíveis no site da Câmara.
Propostas que geram menos
discussão, causam menos polêmica entre os parlamentares e são votadas mais
rapidamente, esses decretos são aprovados no Congresso somente para ratificar
os acordos.
Esse tipo de projeto costuma
ser votado de maneira simbólica (sem contagem de votos), às quintas-feiras, dia
em que o plenário fica esvaziado porque deputados registram presença logo pela
manhã e viajam para os respectivos estados.
Em ano de eleição, os decretos
passaram a representar a maioria das propostas aprovadas na Câmara porque os
deputados têm evitado votar temas polêmicos e sem consenso no plenário.
Tradicionalmente, a
produtividade dos parlamentares cai em ano de eleição, uma vez que os deputados
dedicam grande parte dos esforços à formação de alianças para as campanhas
políticas.
Diante disso, líderes
partidários ouvidos pelo G1 avaliam que, neste ano, até mesmo
propostas de consenso não avançarão.
Além das eleições, os
deputados apontam outros fatores para travar os projetos: intervenção na
segurança pública do Rio de Janeiro; enfraquecimento da base aliada ao governo;
janela partidária; e obstrução política da oposição contra a prisão do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Projetos aprovados pela Câmara, de fevereiro a abril
Ano
|
PEC
|
Medida Provisória
|
Projeto de Lei Complementar
|
Projeto de Lei
|
Decreto
|
Total
|
2017
|
2
|
2
|
1
|
19
|
37
|
61
|
2018
|
0
|
4
|
0
|
17
|
28
|
49
|
Fonte: Site da Câmara
Produtividade
Desde a volta do recesso
parlamentar, no início de fevereiro, as sessões no plenário têm sido convocadas
normalmente. Porém, se arrastam por horas, algumas vezes até a madrugada, o que
leva ao esvaziamento do plenário e ao encerramento das reuniões sem nenhuma
aprovação.
Para efeito de comparação, em
2017 foram aprovadas 61 propostas no plenário da Câmara de fevereiro a abril.
No mesmo período deste ano, o número de aprovações caiu 20%, para 49 projetos.
A queda no ritmo dos trabalhos
começou quando a intervenção no Rio foi decretada, ainda em fevereiro. Isso
porque o Artigo 60 da Constituição proíbe alterações na Carta enquanto vigorar
algum decreto de intervenção.
Com a decisão, a PEC da
reforma da Previdência, prioridade do governo para este ano, teve a tramitação
suspensa.
Diante disso, o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou que priorizaria projetos relacionados à
área de segurança pública.
Em março, ele até chegou a
pautar o projeto que cria o Sistema Único de Segurança Pública, mas os
deputados só aprovaram decretos internacionais naquele mês. O SUSP foi aprovado
somente em abril.
Desta vez, a principal
proposta parada no plenário é a que altera as regras para o Cadastro Positivo.
A urgência para a tramitação do texto, que deveria dar mais celeridade, chegou
a ser aprovada, mas a proposta não foi votada.
Outro fator que favorece a
lentidão na análise dos projetos pela Câmara é o quórum. Para serem aprovados,
os projetos mais simples precisam de pelo menos 257 votos favoráveis entre os
513 deputados.
Parlamentares contrários à
prisão de Lula, contudo, têm obstruído as sessões, o que, na prática, diminui
ainda mais o quórum.
O
que dizem os deputados
Procurados pelo G1,
parlamentares da oposição avaliam que o ritmo lento nos trabalhos deve
permanecer nos próximos meses. Isso porque, antes mesmo das eleições, também
haverá Copa do Mundo e festas juninas.
O líder do PSOL, Ivan Valente
(SP), por exemplo, comemora a lentidão na Câmara. Para o deputado, alguns
projetos de interesse do governo prejudicam os cidadãos.
"Graças a Deus [a Câmara
está em ritmo reduzido]. [...] Eu quero que não ande mesmo. E uma pauta, como
essa do Cadastro Positivo, que só interessa aos bancos, é uma pauta
cínica", afirmou.
A deputada Érika Kokay
(PT-DF), por sua vez, também afirma que a oposição continuará em obstrução,
acrescentando que, na opinião dela, o governo não conseguirá mobilizar a base
aliada por estar "enfraquecido".
"Apoiar Michel Temer com
projetos que são antipopulares significa impedir a eleição deste parlamentar.
Então, os parlamentares da base do governo não têm feito qualquer tipo de
esforço para dar sustentação a Michel Temer. O parlamentar não vai cometer
suicídio político apoiando e prestando referências a esse governo que o povo
rejeita", afirma.
Apesar de ser um dos
principais críticos ao projeto que altera as regras para o Cadastro Positivo, o
líder do PRB, Celso Russomanno (SP), acredita que os projetos do governo
avançarão. "Sem dúvida nenhuma, eles vão andar ainda neste semestre",
afirmou.
O líder do PSD, Domingos Neto
(CE), por sua vez, atribui à janela partidária o maior impacto na produtividade
da Câmara. Para o parlamentar, como o período acabou recentemente, a Câmara
deverá retomar a agenda prioritária do governo em breve.
"Acho que o maior impacto
que houve foi a questão da janela partidária, porque muitos partidos se
dedicaram a isso. Agora, conseguiremos colocar em votação [os projetos prioritários
para o governo]. Na semana que vem, acho que vamos ter um quórum cheio na
Casa", afirmou.
Pauta
econômica do governo
Ao menos duas propostas
ligadas à pauta econômica são prioridades para Palácio do Planalto e tramitam
na Câmara: a reoneração da folha de pagamento e a privatização da Eletrobras.
Os textos não avançam por
falta de consenso entre os parlamentares, incluindo os da base aliada, e porque
são considerados polêmicos para serem votados em ano eleitoral.
O projeto da reoneração da
folha, por exemplo, já pode ser votado no plenário. No entanto, o relator ainda
negocia alguns pontos para conseguir votos antes de pautar a matéria.
Já a proposta que trata da
privatização da Eletrobras está em comissão especial e enfrenta resistência.
Neste ano, a comissão levou quase um mês para marcar a primeira audiência
pública.
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