O Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central deve promover, nesta quarta-feira
(16), um novo corte no juro básico da economia, a Selic, de 6,5% ao ano para
6,25% ao ano, de acordo com aposta que é quase consenso entre os analistas do
mercado financeiro.
A previsão dos
economistas no novo corte ocorre apesar da disparada do dólar nas últimas
semanas, que pode pressionar a inflação no Brasil (leia mais
abaixo neste texto).
Se a estimativa
se confirmar, a taxa Selic atingirá novo piso da série histórica do Banco
Central, que tem início em 1986. A decisão será anunciada após as 18h desta
quarta.
Taxa Selic
em % ao ano, considerando as datas de reunião do Copom
em %taxa de
jurosout/12jan/13abr/13jul/13out/13jan/14abr/14jul/14out/14jan/15abr/15jul/15out/15jan/16abr/16jul/16out/16jan/17abr/17jul/17out/17fev/186810121416
Fonte: BC
Além de apostar
na nova redução, o mercado também prevê que deve ser a última do atual ciclo,
que começou em outubro de 2016. Nesse período, o Copom promoveu 12 cortes
seguidos na Selic, em um cenário de recuperação lenta da atividade econômica
que tem resultado em inflação bem comportada.
O mercado
financeiro avalia ainda que os juros devem permanecer em 6,25% ao ano até o fim
de 2018. Para o fim de 2019, porém, a estimativa dos economistas para os juros
básicos está em 8% ao ano. Ou seja, a expectativa é de alta nos juros no ano
que vem.
Desempenho
fraco de economia deve confirmar corte de juros
Alta do dólar e decisões do Copom
A definição da
taxa de juros pelo BC tem como foco o cumprimento da meta de inflação, fixada
todos os anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para 2018, a meta central
de inflação é de 4,5%.
Quando as
estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o BC reduz os juros -
é o que vem acontecendo nos últimos meses. Para 2018, o mercado estima um IPCA
de 3,45%.
A recente alta
do dólar, porém, tem potencial para gerar pressões inflacionárias no Brasil.
Isso porque os produtos, insumos e serviços importados ficam mais caros
conforme a moeda norte-americana se valoriza.
Se a inflação
está alta e foge da meta ou as estimativas indicam isso, o BC tende a elevar a
Selic. A expectativa é que os juros cobrados pelos bancos também subam e que
isso leve as pessoas a consumir menos, o que normalmente gera queda da inflação
(além de afetar a economia e gerar desemprego).
O professor da
Universidade de São Paulo (USP) Heron do Carmo, especialista em inflação,
observou que, apesar da recente alta do dólar, há números que indicam que a
inflação deve continuar baixa no Brasil, o que justifica a aposta do mercado no
novo corte da Selic.
Carmo apontou
que a inflação em 12 meses até
abril ficou em 2,76%, bem abaixo do piso da meta de inflação do
Banco Central para este ano, que é de 3%. Além disso, avaliou ele, a
recuperação da economia brasileira, que também poderia pressionar a alta dos
preços, ocorre de maneira "muito lenta", e o chamado repasse da alta
do dólar para a inflação é pequeno.
"Atualmente,
em uma conta grosseira, 100% de alta do dólar deve dar menos de 5% de inflação.
E também precisa ver se esse movimento [de valorização] do dólar se
mantém", disse Carmo.
O professor da
USP lembrou que o próprio Banco Central tem instrumentos para tentar conter a
alta da moeda norte-americana, como os contratos de "swap cambial" -
que funcionam como uma venda de moeda no mercado futuro, com reflexos no
mercado à vista -, além de leilões de linha (venda de dólar no mercado, com
compromisso de recompra).
Por fim, Carmo
observou que o IPCA, índice utilizado no sistema de metas de inflação
brasileiro, é menos sensível ao dólar.
"No IPCA,
a participação maior é de serviços. E temos um desemprego muito grande na
economia brasileira", concluiu ele.
Rendimento da poupança
Se confirmado o
novo recuo da Selic nesta quarta, o rendimento da poupança também deverá cair a
partir desta quinta-feira (17).
Isso porque a
regra atual, em vigor desde maio de 2012, prevê corte nos rendimentos da
poupança sempre que a Selic estiver abaixo de 8,5%.
Nessa situação,
a correção anual das cadernetas fica limitada a um percentual equivalente a 70%
da Selic, mais a Taxa Referencial, calculada pelo BC. A norma vale apenas para
depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012.
A medida visa
evitar que a poupança fique mais atrativa que os demais investimentos, cujos
rendimentos caem junto com a Selic. Sem o redutor, a poupança passaria a atrair
recursos de grandes poupadores, que deixariam de comprar títulos públicos.
Se o juro
básico da economia recuar para 6,25% ao ano, a partir desta quinta a correção
da poupança passará a ser de 70% desse valor - o equivalente a 4,375% ao ano,
mais Taxa Referencial.
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