A delação de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora Odebrecht, vai mostrar que ele foi, inicialmente, “severamente” contra a construção do estádio do Corinthians, em Itaquera.
O executivo está preso em Curitiba desde junho de 2015, acusado de corrupção pela Operação Lava Jato – já foi condenado a 19 anos de prisão em uma das ações penais. Marcelo, 48, fez acordo de delação premiada, e as obras de estádios tocadas pela Odebrecht para a Copa-2014 estão no pacote do que os investigadores querem saber sobre os negócios da empresa.
A empreiteira levantou do zero o estádio corintiano, em São Paulo, que recebeu a abertura do Mundial, e a Arena Pernambuco, próxima a Recife. Também participou das reformas do Maracanã, no Rio, e da Arena Fonte Nova, em Salvador.
Especificamente no caso do estádio em Itaquera, Marcelo Odebrecht era contra sua empresa realizar a obra em 2010, quando o projeto foi fechado para que a capital paulista pudesse receber a abertura do Mundial. Questões políticas, principalmente, fizeram com que o Morumbi saísse da pauta.
Dois eram os motivos que faziam Marcelo Odebrecht não querer que sua empresa assumisse a construção. Primeiro era o valor orçado para levantar a arena, de R$ 820 milhões.
A interlocutores ele dizia, na época, ser inviável fazer o estádio por essa quantia – no final, a Odebrecht gastou R$ 985 milhões, mas o valor definitivo, com juros que o Corinthians terá de pagar dos empréstimos feitos, ultrapassará o R$ 1,2 bilhão.
Mas havia outra questão ainda relacionada ao preço: a reforma do Maracanã. O estádio da final da Copa seria, como foi, bastante modificado para o Mundial, mas não deixaria de ser reforma, não construção do zero, como Itaquera, e mesmo assim teria um valor superior.
Na época, a modificação do Maracanã estava orçada em R$ 808 milhões, mas já se projetava algo acima do R$ 1 bilhão, o que acabou se concretizando: R$ 1,21 bilhão é o valor final oficial, segundo o site Transparência 2014.
Quem vai pagar?
O segundo ponto que incomodava Marcelo Odebrecht era de que, diferentemente dos outros projetos do Mundial, que a empresa trataria diretamente com entes públicos, o estádio em Itaquera seria construído para um clube de futebol.
Toda a questão girava em torno de como se pagaria a obra. Clubes de futebol têm dificuldade para conseguir crédito, e o principal financiador dos projetos das arenas da Copa foi o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), via linha especial que emprestava R$ 400 milhões.
A tese de Marcelo, na época, era de que haveria dificuldade para o empréstimo cair na conta. O que de fato aconteceu. E não só isso: os incentivos fiscais concedidos pela prefeitura de São Paulo para bancar o restante da obra, teoricamente R$ 420 milhões, também empacaram.
Resultado: a Odebrecht tirou do bolso boa parte do dinheiro para levantar o estádio antes de receber o pagamento, como temia seu dono seis anos atrás.
No final, prevaleceu a vontade do pai de Marcelo, Emilio Odebrecht, e a empresa assumiu a construção do estádio em Itaquera, clube de coração do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, o Corinthians tem uma grande dívida que lidar nos próximos anos.
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