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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Quais os efeitos das eleições nos EUA para a economia do Brasil?

Hillary Clinton e Donald Trump disputam a presidência do país.

Economistas apontam possíveis impactos no câmbio e acordos comerciais.


Karina Trevizan
Do G1, em São Paulo
A democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump disputam os votos dos eleitores nesta terça-feira (7). No Brasil, especialistas apontam que as incertezas sobre o cenário externo podem ter impacto sobre o câmbio no Brasil, o que pode gerar efeitos sobre a inflação e a taxa de juros. Economistas também citam dúvidas sobre acordos comerciais, e apontam que pode haver atraso na retomada do crescimento da economia brasileira.
Veja abaixo as projeções feitas por especialistas ouvidos pelo G1 sobre os efeitos para a economia do Brasil nos dois cenários possíveis:

Em caso de vitória de Hillary
Hillary discursa em Detroit nesta sexta-feira (4) (Foto: Paul Sancya/AP)Hillary discursa em Detroit (Foto: Paul Sancya/AP)
O cenário em que a candidata democrata seja escolhida como substituta de Barack Obama é entendido como continuidade da atual política econômica norte-americana, analisam os especialistas. Eles apontam que isso seria benéfico para o Brasil.
“Hillary é a continuidade. Então, o Brasil se beneficia da estabilidade do cenário. Na situação que nós estamos passando, precisamos de um cenário externo mais estável para o nosso processo de recuperação econômica”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management.

Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, também analisa a vitória da democrata por esse aspecto. “O mundo deixa de ser uma variável que vai gerar barulho. Com Hillary ganhando, o Brasil vai ficar mais voltado para resolver os seus problemas domésticos. ”

Para o mercado, Cortez afirma que o efeito da vitória democrata seria positivo no curto prazo pela “interrupção do ‘risco Trump’, que é percebido como mais significativo”, mas ressalva que ainda há percepção de risco a médio e longo prazo. “A despeito das fortes críticas ao Trump, a Hillary também representa, em um certo sentido, algum risco para a economia, especialmente devido ao atual momento político bastante conturbado norte-americano”.
“No fundo, há também uma incerteza em relação à Hillary. Não é que ela seja percebida como um caminho mais seguro para a retomada do crescimento, não quer dizer que o mercado esteja convencido. Na verdade, uma boa parte do desempenho da Hillary se deve à rejeição do Trump”, pondera Cortez.
Precisamos de um cenário externo estável para o nosso processo de recuperação"
Jason Vieira
Ele cita o risco de maior intervenção na economia norte-americana e maior tributação, o que “pode resultar em efeitos econômicos mais negativos”. “Vai ter um momento em que o mercado vai precisar entender a agenda dela.”
O Fed com Hillary
Sobre o rumo dos juros nos Estados Unidos, Vieira aponta que uma vitória de Hillary “não muda nada”. “Continua a perspectiva de elevação gradual e avaliação da normalização da política monetária norte-americana.”
O mercado monitora pistas sobre a decisão do Federal Reserve (Fed) sobre o rumo dos juros nos Estados Unidos porque taxas mais altas poderiam atrair para o país recursos aplicados atualmente em outros mercados, motivando assim uma tendência de alta do dólar em relação a moedas como o real.
Em caso de vitória de Trump
Donald Trump durante comício em Greeley, Colorado, no domingo (30) (Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP )Donald Trump durante comício em Greeley, Colorado (Foto: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP )
Cortez aponta que uma eventual vitória de Trump teria como efeito imediato um aumento da volatilidade dos mercados e aumento da percepção de risco. “Pode ter um pouco de estresse até o mercado entender o que vai sair do discurso populista e exagerado e vai se transformar em agenda de governo.”

Vieira analisa que o principal temor do mercado em relação a Trump é a incerteza. “Esse excesso de dúvida que ele traz para o mercado é o que talvez assuste mais do que qualquer outra coisa”, analisa. “As ideias dele são muito soltas, o plano econômico é confuso. E ele mesmo não tem domínio do que seria o plano econômico. É difícil entender o que ele quer. ”
O dólar alto pode dificultar a convergência da inflação para o centro da meta"
Rafael Cortez
Para o Brasil, os efeitos de uma vitória de Trump devem ser negativos no que se refere a acordos comerciais, diz Vieira. “A política externa dele seria o mais protecionista possível. E o Brasil está num momento de tentativa alinhar novos acordos comerciais, principalmente com as economias centrais, entre elas os Estados Unidos”, comenta Vieira.

“Um contexto de Donald Trump pode atrapalhar isso muito, em diversos sentidos: não só em relação aos próprios acordos que o Brasil tem a fechar com os EUA, mas também com outras economias centrais. Isso porque elas podem tomar uma posição mais defensiva por conta da situação”, complementa.

Cortez também aponta os possíveis riscos de uma vitória de Trump sobre a inflação e os juros no Brasil. Isso porque, com uma maior percepção de risco do mercado, a tendência é que o dólar suba em relação ao real. “Esse real mais desvalorizado vai dificultar o processo de convergência da inflação para o centro da meta, e isso pode resultar em um Banco Central um pouco mais conservador em relação à política monetária. ”
O Fed com Trump
Sobre o rumo dos juros, Cortez afirma que o aumento da percepção de risco poderia afetar a decisão do Fed sobre os rumo dos juros nos Estados Unidos. “O Fed emite sinais crescentes de que deve fazer o aumento da taxa de juros. Mas, eventualmente, com essa turbulência, pode ser mais conservador. ”

O especialista explica que juros mais altos em um momento de tensão poderiam prejudicar a retomada da economia no país. O Fed, então, tentaria evitar que “a atividade fique enfraquecida nesse momento de crise confiança. Com a taxa de juros um pouco mais apertada, há risco de que esse início de recuperação ainda muito tênue seja revertido”.

Vieira aponta que é “um cenário difícil de se avaliar”. “Não se sabe quanto a pretensa política econômica dele se chocaria com as pretensões do Fed de normalização de juros”, afirma ele, acrescentando que não é possível dizer também “qual o nível de interferência” que Trump teria sobre o banco central norte-americano.

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