Texto tem pontos defendidos por ruralistas que haviam caído no Senado.
Projeto agora vai para sanção da presidente Dilma, que tem direito de vetar.
A Câmara dos Deputados concluiu na noite desta quarta-feira (25) a
votação do projeto que modifica o Código Florestal, com pontos
defendidos por ruralistas e sem as mudanças feitas a pedido do governo
na versão que havia sido aprovada no Senado.
O texto agora não volta mais para o Senado. Dos 14 destaques (que
poderiam mudar pontos específicos), quatro foram aprovados. A proposta
segue agora para a sanção da presidente Dilma Rousseff, que tem direito de vetar o projeto na íntegra ou em partes.
O texto-base foi aprovado com 274 votos a favor, 184 contra e duas
abstenções. O relator, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), retirou pontos que
tornavam o texto "ambientalista", na visão dos ruralistas.
A principal vitória do governo foi a manutenção de um ponto aprovado no
Senado que previa a recomposição de mata desmatada nas margens de rios.
Pelo texto aprovado, os desmatadores deverão recompor uma faixa de, no
mínimo, 15 metros de mata ciliar ao longo das margens.
Umas das principais modificações para atender ao setor agropecuário
está na exclusão do artigo 1º do texto aprovado pelo Senado, que definia
uma série de princípios que caracterizam o Código Florestal como uma
lei ambiental.
Ambientalistas protestam nas galerias da Câmara (esq.); deputados ruralistas comemoram (Fotos: Reuters)
Para o PV e o PT, ao rejeitar esse dispositivo, o relator reforçou a
tese de que o Congresso está transformando o Código Florestal em uma lei
de consolidação de atividades agropecuárias ilegais, ou uma lei de
anistia, o que contraria o governo.
Ficaram de fora, por exemplo, orientação para que o Brasil se
comprometesse com a preservação das florestas, da biodiversidade, do
solo, dos recursos hídricos e com a integridade do sistema climático.
Também foi eliminado princípio que reconhecia "função estratégica" da
produção rural para a recuperação e manutenção das florestas. Outro
princípio excluído dizia que o Brasil iria seguir modelo de
desenvolvimento ecologicamente sustentável, para conciliar o uso
produtivo da terra com a preservação.
PT
O PT tentou convencer os parlamentares a rejeitar a versão de Piau e aprovar o texto do Senado na integralidade, mas não obteve maioria. Isso porque o PMDB, segunda maior bancada da Câmara, e a bancada ruralista votaram em peso pelo relatório de Piau.
O PT tentou convencer os parlamentares a rejeitar a versão de Piau e aprovar o texto do Senado na integralidade, mas não obteve maioria. Isso porque o PMDB, segunda maior bancada da Câmara, e a bancada ruralista votaram em peso pelo relatório de Piau.
"Anuncio 76 votos do PMDB para o texto do Piau. O Código Florestal deve
proteger, querem que criminalize [o produtor]", disse em discurso no
plenário o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Em vão, o líder do PT, Jilmar Tatto (SP), fez um apelo para que os
deputados aprovassem o texto do Senado, que previa maiores garantias de
proteção ao meio ambiente. "Não queremos crescimento que degrada e que
depreda, como está acontecendo com a China. Queremos um crescimento
sustentável. Um crescimento com água limpa, mananciais para que região
urbana possa ser abastecida e que a região rural possa ter água para
irrigar", disse.
Para Tatto, o texto de Piau significa um retrocesso na lei ambiental.
"Esse relatório é um retrocesso. Vamos votar o relatório do Senado e
vamos fazer ajustes, mas ajustes que dialogam com o setor ambiental e
com o governo", pediu.
Reflorestamento
Para o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), o relator contrariou o regimento da Casa ao excluir trecho do texto aprovado pelo Senado que exigia dos produtores a recomposição de, no mínimo, 15 metros de vegetação nativa nas margens de cursos d'água com até 10 metros. O artigo prevê ainda que, para os rios com leitos superiores a 10 metros, a faixa de mata ciliar a ser recomposta deveria ter entre 30 e 100 metros de largura.
Para o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), o relator contrariou o regimento da Casa ao excluir trecho do texto aprovado pelo Senado que exigia dos produtores a recomposição de, no mínimo, 15 metros de vegetação nativa nas margens de cursos d'água com até 10 metros. O artigo prevê ainda que, para os rios com leitos superiores a 10 metros, a faixa de mata ciliar a ser recomposta deveria ter entre 30 e 100 metros de largura.
A recomposição vale para quem desmatou até julho de 2008 e é uma
alternativa ao pagamento de multas aplicadas aos produtores que
produziram em APPs.
O relator tentou deixar os percentuais de recomposição para
regulamentação posterior, a cargo da União e dos estados. No entanto, o
presidente da Câmara disse que o trecho não poderia ter sido excluído
porque já tinha sido aprovado pelo Senado e também pela Câmara, na
primeira votação da matéria, em maio de 2011. Desse modo, Maia restituiu
o artigo do Senado que previa os limites de recomposição da área
desmatada.
Diante da exigência de Maia, Piau decidiu incorporar ao seu texto o
parágrafo 6ª do artigo 62, que estabelece que a exigência de
recomposição em APPs para pequenos produtores "não ultrapassará o limite
da reserva legal estabelecida para o respectivo imóvel". A reserva
legal é o percentual de mata nativa que deve ser preservado nas
propriedades privadas, a depender de cada região. O artigo de Piau visa
evitar que a área de recomposição se torne muito maior do que a
propriedade que poderá ser mantida pelo produtor.
APP em área urbana
Ao ler o relatório nesta quarta, Piau fez uma modificação no texto que foi admitida por Marco Maia. O relatório preliminar, entregue na terça aos deputados, suprimia completamente referências às Áreas de Preservação Permanente (APP) em região urbana.
Piau resolveu resgatar trecho do texto do Senado que contém a previsão das APPs. No entanto, o relator retirou a última frase do artigo que restringia o limite das faixas de beira de rio. Pelo texto de Piau, os estados e municípios poderão delimitar livremente as áreas de preservação em cursos d’água de regiões urbanas.
"Quando você amarra nestas faixas, você está ajudando a confundir mais. Imagina Petrolina e Juazeiro, onde passa o rio São Francisco ali, fica engessado na sua área de expansão. Você limita e tira a autonomia dos municípios de tomar a decisão", afirmou o deputado.
A alteração foi questionada por parlamentares do PV e do PSOL. Segundo eles, pelo regimento, Piau não poderia mudar a redação do texto do Senado. No entanto, o presidente da Câmara disse que Piau, como relator, pode suprimir trechos acrescentados pelo Senado que não tenham sido aprovados na Câmara.
O relatório
Ao todo foram feitas 21 mudanças no substitutivo aprovado pelo Senado no ano passado. Muitas foram apenas correções de redação e exclusão de artigos repetidos. Outras trataram de pontos importantes para produtores rurais e ambientalistas.
O texto de Piau excluiu da versão do Senado os artigos que regulamentavam as áreas de criação de camarões, os chamados apicuns, que considerou excessivamente detalhados. Apenas partes dos artigos que tratavam do uso restrito de solo foram mantidas, deixando claro que as criações dependem do zoneamento ecológico e econômico da zona costeira.
Também foi retirado o artigo que exigia a adesão de produtores ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) em até cinco anos para o acesso ao crédito agrícola. Segundo o relator, o cadastro depende do governo, o que poderia prejudicar os produtores.
APP em área urbana
Ao ler o relatório nesta quarta, Piau fez uma modificação no texto que foi admitida por Marco Maia. O relatório preliminar, entregue na terça aos deputados, suprimia completamente referências às Áreas de Preservação Permanente (APP) em região urbana.
Piau resolveu resgatar trecho do texto do Senado que contém a previsão das APPs. No entanto, o relator retirou a última frase do artigo que restringia o limite das faixas de beira de rio. Pelo texto de Piau, os estados e municípios poderão delimitar livremente as áreas de preservação em cursos d’água de regiões urbanas.
"Quando você amarra nestas faixas, você está ajudando a confundir mais. Imagina Petrolina e Juazeiro, onde passa o rio São Francisco ali, fica engessado na sua área de expansão. Você limita e tira a autonomia dos municípios de tomar a decisão", afirmou o deputado.
A alteração foi questionada por parlamentares do PV e do PSOL. Segundo eles, pelo regimento, Piau não poderia mudar a redação do texto do Senado. No entanto, o presidente da Câmara disse que Piau, como relator, pode suprimir trechos acrescentados pelo Senado que não tenham sido aprovados na Câmara.
O relatório
Ao todo foram feitas 21 mudanças no substitutivo aprovado pelo Senado no ano passado. Muitas foram apenas correções de redação e exclusão de artigos repetidos. Outras trataram de pontos importantes para produtores rurais e ambientalistas.
O texto de Piau excluiu da versão do Senado os artigos que regulamentavam as áreas de criação de camarões, os chamados apicuns, que considerou excessivamente detalhados. Apenas partes dos artigos que tratavam do uso restrito de solo foram mantidas, deixando claro que as criações dependem do zoneamento ecológico e econômico da zona costeira.
Também foi retirado o artigo que exigia a adesão de produtores ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) em até cinco anos para o acesso ao crédito agrícola. Segundo o relator, o cadastro depende do governo, o que poderia prejudicar os produtores.
Destaques aprovados
O plenário aprovou destaque do bloco PSB-PCdoB para que apicuns e salgados não sejam considerados como áreas de preservação permanente (APPs). Apicuns e salgados são áreas situadas ao longo do litoral, que podem ser utilizadas para o cultivo de camarão. Ambientalistas argumentam que essas áreas são parte integrante do manguezal e deveriam ser preservadas.
O plenário aprovou destaque do bloco PSB-PCdoB para que apicuns e salgados não sejam considerados como áreas de preservação permanente (APPs). Apicuns e salgados são áreas situadas ao longo do litoral, que podem ser utilizadas para o cultivo de camarão. Ambientalistas argumentam que essas áreas são parte integrante do manguezal e deveriam ser preservadas.
Os deputados aprovaram ainda destaque do PT ao Código Florestal que
retira regularização de empreendimentos de carcinicultura e de salinas
com ocupação irregular ocorrida até 22 de julho de 2008. Desse modo, as
produções nessas áreas continuam irregulares.
Os deputados também aprovaram destaque de autoria do DEM, que retira do
texto a obrigação de divulgar na internet os dados do Cadastro
Ambiental Rural (CAR). O dispositivo excluído pelo destaque daria maior
transparência à regularização de imóveis rurais. O CAR é o registro
cartográfico dos imóveis rurais junto à Secretaria de Meio Ambiente. O
objetivo do registro é facilitar o controle e monitoramento das
produções agropecuárias, e a fiscalização de desmatamentos.
O quarto destaque aprovado pelos deputados, de autoria do DEM, retira a
obrigatoriedade de recompor 30 metros de mata em torno de olhos d’água
nas áreas de preservação permanente ocupadas por atividades rurais
consolidadas até 22 de julho de 2008.
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