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domingo, 5 de junho de 2011

Brasil investe até demais no combate à Aids, defende pesquisador

Programa brasileiro é o melhor, mas outros males precisam de recursos, diz.
Neste domingo (5), primeiro artigo científico sobre a Aids completa 30 anos.

Dennis Barbosa Do G1, em São Paulo
Este domingo (4) marca o 30º aniversário do primeiro relato científico sobre pessoas contaminadas pelo HIV. O trabalho analisava o caso de cinco homens jovens e aparentemente saudáveis que tiveram pneumonia. Dois deles haviam morrido. A deficiência imunológica por eles apresentada viria a ser conhecida como Aids.
Três décadas depois, o Brasil pode se orgulhar de ter adotado o melhor programa público contra a Aids no mundo, na visão do cientista político Eduardo Gómez, da Universidade Rutgers, nos EUA.
Ele fez uma pesquisa comparando as políticas de Brasil e EUA para doenças para as quais os investimentos públicos podem eventualmente não ser bem vistos por determinados setores da sociedade, como Aids, sífilis, obesidade, entre outras.
Eduardo Gómez, da Rutgers, fez um levantamento comparativo entre políticas de saúde nos EUA e no Brasil. (Foto: Arquivo Pessoal)
Eduardo Gómez, da Rutgers, fez um levantamento
comparativo entre políticas de saúde nos EUA e no Brasil.
(Foto: Arquivo Pessoal)
Gómez aponta que, desde o início, nos anos 80, o governo, as organizações e as comunidades de portadores de HIV agiram de forma mais integrada no Brasil que nos EUA. “As comunidades de Aids em San Francisco e Nova York não se comunicavam. Quando a Aids apareceu nos EUA, houve muita discriminação. No Brasil também houve, mas o governo foi mais receptivo”, explica.
O fato de o país estar saindo do governo militar e a aprovação da Constituição de 1988, que menciona que a saúde é "direito de todos e dever do Estado", contribuíram para o forte investimento num programa de combate à doença.
Já nos EUA, o ambiente mais conservador sob os presidente Ronald Reagan e George Bush prejudicaram a adoção de medidas nacionais e agressivas. Grupos religiosos influentes, aponta Gómez, defendiam a ideia de que a Aids era um castigo divino aos gays. “O Brasil sempre foi mais aberto ao tratamento de doenças sexualmente transmissíveis”, diz.
A pressão da comunidade internacional foi outro fator que fez com que o Brasil investisse num programa de Aids. “Conversei algumas vezes com o presidente (Fernando Henrique) Cardoso e ele era muito preocupado com isso. Queria mostrar que o país estava preparado para fazer frente à doença”, conta Gómez.
O resultado foi que atualmente o Brasil oferece medicamentos gratuitamente a todos os infectados, enquanto nos EUA há mais de 8 mil pessoas esperando para receber remédios. Hoje, países africanos, os mais atingidos pelo HIV, tentam replicar a iniciativa brasileira, mas lutam contra a falta de recursos.
Excesso de prioridade
Apesar de destacar o programa brasileiro para Aids como algo positivo, Gómez aponta que a doença no Brasil pode ser considerada sob controle e segue havendo um investimento desporporcional em seu combate.
“É uma má ideia gastar muito dinheiro em Aids e esquecer as outras doenças. Há um problema nessa tendência, que acontece em todo o mundo. O único país que não fez isso é a Rússia. Eles decidiram investir em câncer, alcoolismo, problemas mentais”, explica.
“A tuberculose voltou ao Rio e São Paulo e não recebe os mesmos recursos (que a Aids), aponta o pesquisador. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem dinheiro limitado e precisa responder a todos esses itens: diabetes, problemas do coração, obesidade”, destaca o pesquisador, ao defender que a presidente Dilma Rousseff deveria ter como maior prioridade de seu governo um aumento de recursos para a saúde pública.

Fonte: G1.com

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