Preso nesta sexta-feira (25), tucano
tentou influenciar depoimentos de testemunhas na Lava Jato, segundo a Justiça.
Defesa disse que ainda não teve acesso ao processo.
Por
Malu Mazza, Helena Kruger e Thais Kaniak, RPC Curitiba e G1 PR
Beto Richa, ex-governador do Paraná, é preso
O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) foi preso em casa, em
Curitiba, por volta das 7h desta sexta-feira (25), de acordo com a Justiça
Federal, na deflagração da 58ª fase da Operação Lava Jato. A investigação que
originou o mandado de prisão apura supostos crimes na concessão de rodovias do
estado. É a segunda vez que o tucano é detido.
A prisão é preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. Dirceu Pupo
Ferreira, contador da família Richa, é outro alvo de prisão preventiva. Segundo
fontes do G1 Paraná, ele também foi preso.
Na decisão, o juiz Paulo Sérgio Ribeiro, da 23ª Vara Federal de
Curitiba, justificou a prisão alegando que Richa e Pupo tentaram influenciar os
depoimentos de testemunhas da investigação. O despacho é de terça-feira (22).
O Ministério Público Federal (MPF) sustenta que Pupo, a mando de Richa,
pediu a um corretor de imóveis que ocultasse os pagamentos com dinheiro por
fora caso fosse intimado a depor. Essa era uma tentativa de esconder o esquema
de lavagem de dinheiro, segundo os procuradores.
“Ficou comprovado o empenho dos investigados em influir na prova a ser
produzida, destacando episódio de turbação/obstrução da investigação, no
contexto em que Dirceu Pupo Ferreira tentou convencer uma testemunha a alterar
a verdade sobre fatos da investigação acerca do patrimônio da família Richa”,
diz trecho do despacho.
Os pedidos de prisões foram feitos pelo MPF em um desdobramento da
Operação Integração II – que foi a 55ª fase da Lava Jato. A ação investigou a concessão de rodovias no Paraná.
Beto Richa e Dirceu Pupo Ferreira foram presos por policiais federais.
Os dois foram levados para a Superintendência da Polícia Federal (PF), na
capital paranaense.
O ex-governador é investigado pelos crimes de corrupção, lavagem de
dinheiro e associação criminosa.
A defesa de Beto Richa disse que os fatos que levaram à prisão do
ex-governador são antigos e que o pedido de prisão de baseia em ilações do
MPF. *Leia a nota, na íntegra, no fim da reportagem.
O G1 espera o retorno do advogado de Dirceu Pupo
Ferreira.
Conforme o MPF, Beto Richa se beneficiou com, pelo menos R$ 2,7 milhões,
em propinas pagas em espécie pelas concessionárias de pedágio do Paraná e por
outras empresas que mantinham interesses em atos do governo.
Beto Richa é ex-governador do Paraná — Foto: J.F.Diorio/Estadão Conteúdo
Lavagem de dinheiro
De acordo com os procuradores, parte deste valor, cerca de R$ 142 mil,
foi lavada por meio de depósitos feitos em favor da empresa Ocaporã
Administradora de Bens.
A empresa, segundo o MPF, era controlada por Beto Richa, apesar de estar
no nome de Fernanda Richa e dos filhos do casal.
O MPF explicou que, para ocultar a origem ilícita dos recursos, o
contador solicitava que os vendedores lavrassem escrituras públicas de compra e
venda por um valor abaixo do que havia sido firmado entre as partes.
A diferença entre o valor da escritura e o acordado era paga em espécie,
com propinas, conforme os procuradores.
Até o momento, a investigação identificou três imóveis que foram pagos
em espécie por Dirceu Pupo Ferreira para a Ocaporã.
De acordo com o MPF, e-mails apreendidos durante a investigação
comprovaram que Beto Rihca tinha a palavra final sobre as atividades da empresa
referentes a compra e venda de imóveis.
Os imóveis
·
Um apartamento em Balneário
Camboriu (SC), adquirido em outubro de 2010. O
valor declarado foi de R$ 300 mil, pago integralmente em dinheiro pelo contador
ao vendedor de forma parcelada durante 2011. O laudo de avaliação do imóvel
apontou que, na época, o imóvel valia R$ 700 mil.
·
Um terreno de luxo, em
Curitiba, no bairro Santa Felicidade,
adquirido em outubro de 2012. O valor real de venda desse terreno era de R$ 1,9
milhão. Contudo, a escritura foi declarada por R$ 500 mil, referentes a uma
permuta com dois lotes em Alphaville. Além dos lotes dados como parte do
pagamento, Dirceu Pupo Ferreira entregou R$ 930 mil em espécie, que foram
ocultados dos documentos da transação. Depois, esse terreno foi vendido pela
empresa Ocaporã por R$ 3,2 milhões.
·
Conjuntos comerciais no
Edifício Neo Business, em Curitiba,adquiridos
em novembro de 2013. O valor declarado na escritura pública foi de R$ 1,8
milhão. Porém, houve o pagamento de R$ 1,4 milhão por fora.
A obstrução
Segundo o MPF, a mando de Beto Richa, Dirceu Pupo Ferreira procurou em
agosto de 2018 um dos corretores de imóveis que intermediou a negociação das
salas comerciais. O contador pediu ao vendedor que, se fosse intimado a depor,
ocultasse os pagamentos em dinheiro por fora.
A tentativa de influenciar o depoimento do corretor foi praticado,
conforme o MPF, para impedir a descoberta do esquema de lavagem de dinheiro.
Por essa razão, o juiz avaliou a necessidade de decretrar a prisão
preventiva. O procurador da República Diogo Castor explicou que a influência no
depoimento de possíveis testemunhas é fundamento clássico para a prisão
preventiva, com a finalidade de garantir a instrução criminal.
Beto Richa foi preso pela primeira vez em 11 de setembro de 2018 pelo
Gaeco — Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo
Preso no ano passado
Em 2018, Beto Richa foi preso pelo Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em Curitiba, no âmbito
da Operação "Rádio Patrulha".
Essa investigação apurou esquema de superfaturamento de contratos para
manutenção de estradas rurais e pagamento de propina para agentes públicos.
Em 11 de setembro de 2018, dia da prisão, ele foi alvo de duas
operações: a do Gaeco, pela qual foi preso, e outra da Polícia Federal (PF), em
uma etapa da Lava Jato, em que foi alvo de busca e apreensão.
Quatro dias depois, Beto Richa foi solto após decisão do ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.
Conforme a decisão que decretou novamente a prisão de Beto Richa, o
salvo conduto concedido pelo ministro do STF "não tem o alcance de impedir
a análise do pedido de prisão preventiva com base na hipótese legal da
conveniência da instrução ciminal".
"Passo a analisar, portanto, os pedidos de prisão preventiva de
Carlos Alberto Richa e Dirceu Pupo Ferreira por conveniência da instrução
criminal, em decorrência da identificação de evento concreto em que os
investigados atuaram no sentido de influenciar o depoimento de
testemunhas", afirma o juiz federal.
Leia a nota da defesa de Beto Richa
na íntegra
"1- Os fatos que conduziram à prisão do ex-Governador são antigos.
Sobre eles, todos os esclarecimentos foram por ele devidamente esclarecidos,
não restando qualquer dúvida quanto à regularidade de todas as condutas
praticadas, no exercício de suas funções.
2- Mais do que isso. Os fatos ora invocados já foram anteriormente
utilizados, na decretação das medidas cautelares expedidas contra o
ex-Governador. Cumpre registrar que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar referidas
medidas, reconheceu a flagrante ilegalidade na ordem prisão decretada.
3- Na realidade, a prisão requerida pelo Ministério Público Federal
afronta o quanto decidido pelo Supremo Tribunal Federal, com o evidente
objetivo de desrespeitar os julgamentos proferidos pela Suprema Corte, sobre o
tema.
4- No mais, o pedido se lastreia em ilações do MPF, exclusivamente
suportadas em falsas e inverídicas informações prestadas em sede de colaboração
premiada, por criminosos confessos.
5- Em síntese, a prisão se baseia em fatos absolutamente requentados,
carentes de qualquer comprovação e sobre os quais o Supremo Tribunal Federal já
decidiu, no sentido de que os mesmos não justificam a decretação de prisão.
6- A defesa confia que o Poder Judiciário reverterá a ordem de prisão,
que não atende a qualquer dos pressupostos exigidos em lei."
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