Com apoio do Supremo e das Forças
Armadas, mas sem reconhecimento da Assembleia Nacional e de diversos países,
Nicolás Maduro assume nesta quinta-feira mandato que deve durar até 2025. Em
maio de 2018, ele venceu eleições com quase 70% dos votos.
Por G1
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, durante entrevista coletiva
no Palácio Miraflores, em Caracas, na quarta-feira (9) — Foto: Yuri Cortez/AFP
Nicolás Maduro assume nesta quinta-feira (10) seu segundo
mandato como presidente da Venezuela, quase oito meses após
vencer, com quase 70% dos votos, uma eleição
fortemente boicotada pela oposição e acusada de
irregularidades.
Seu novo mandato não terá o
reconhecimento da Assembleia Nacional venezuelana e de
diversos países, entre eles os EUA, o Canadá, e do Grupo de Lima,
do qual o Brasil faz parte. O Peru, outro membro do grupo,
chegou a proibir a
entrada de Maduro, seus familiares e da cúpula de seu governo no
país.
Nicolás
Maduro deve tomar posse para 2º mandato na Venezuela nesta quinta (10)
Bom Dia Brasil
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Nicolás Maduro deve tomar posse para 2º mandato na Venezuela nesta
quinta (10)
Ele conta, porém, com o apoio do Supremo venezuelano, que irá conduzir
sua posse em uma cerimônia a partir das 12h (horário de Brasília), e a
“lealdade absoluta” da Força Armada Nacional Bolivariana, declarada pelo
ministro da Defesa, Vladimir Padrino.
Contrariando a Constituição, a posse não terá um juramento do presidente
perante a Assembleia Nacional: assim como o órgão não reconhece a legitimidade
de sua eleição, ele também não aceita sua autoridade, e considera que o
parlamento, controlado pela oposição, está em “situação de desacato”.
O novo mandato tem duração prevista até 2025.
Nicolás Maduro, no dia de sua primeira posse como presidente da
Venezuela, em 19 de abril de 2013, ao lado de Cilia Flores — Foto: Ariana
Cubillos/AP
Primeiro mandato
O ex-motorista de ônibus Nicolás Maduro se tornou presidente interino da
Venezuela em 2012, durante os últimos meses de vida de Hugo Chávez, de quem é
considerado herdeiro político e foi chanceler e vice-presidente.
Indicado por Chávez, ele venceu sua primeira eleição presidencial em 14
de abril de 2013, 40 dias após a morte do líder.
Naquela ocasião, venceu por uma
margem de 1,59 ponto percentual o candidato oposicionista
Henrique Capriles, que não reconheceu a derrota e pediu recontagem de votos.
Sua primeira posse
foi em 19 de abril do mesmo ano.
Crise
Mas, além de não ter o mesmo carisma e apelo popular de Chávez, Maduro
também enfrenta problemas que seu antecessor não conheceu, graças
principalmente à crise do petróleo que afetou profundamente o país. A Venezuela
tem as maiores reservas de petróleo do mundo -- e o recurso é praticamente a
única fonte de receita externa do país.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ao lado de seu então
vice-presidente, Nicolás Maduro, em dezembro de 2012 — Foto: Marcelo Garcia /
Miraflores Press / AP Photo
Como lembra a BBC, entre 2004 e 2015, nos governos de Hugo Chávez e no
início do de Nicolás Maduro, o país recebeu US$ 750 bilhões provenientes da
venda de petróleo. O governo chavista aproveitou essa chuva dos chamados
"petrodólares" para financiar de programas sociais a importações de
praticamente tudo que era consumido no país.
Mas, em 2014, o preço do
petróleo desabou. Além de receber menos dinheiro por seu
principal produto, a Venezuela também teve uma queda significativa na produção.
O Estado ainda viu seus gastos públicos aumentarem para conseguir manter
os programas sociais. A dívida externa aumentou em cinco vezes.
Ao tentar supervalorizar a moeda venezuelana, o governo provocou
distorções de valores que, além de causarem a crise de desabastecimento,
contribuíram para um cenário de hiperinflação.
Para tentar conter uma inflação prevista de 1 milhão por cento ao ano,
em agosto de 2018 o governo lançou um pacote
econômico, incluindo entre as medidas o corte de cinco zeros da
moeda local, que passou a se chamar bolívar soberano, e um novo câmbio, que
previa 96% de desvalorização da moeda do país.
Nicolás Maduro mostra nota de bolívar soberano, moeda que passou a valer
na Venezuela em 2018 — Foto: Miraflores Palace/Handout via Reuters
Em novembro, Maduro aumentou o salário mínimo mensal em 150%, para 4,5
bolívares, menos de US$ 10 na taxa de câmbio do mercado negro. Os cidadãos
reclamaram que não podiam pagar itens básicos, apesar de um aumento de 60 vezes
no valor do salário mínimo em agosto.
Ainda assim, em dezembro, a Assembleia Nacional informou que os preços
ao consumidor haviam subido 1,3 milhão por cento no ano.
Nicolás Maduro atribui a maior parte dos problemas econômicos da
Venezuela a sanções e boicotes dos Estados Unidos e seus aliados. Na
terça-feira (8), inclusive, o governo venezuelano enviou à
Organização Mundial de Comércio (OMC) uma reclamação formal, na
qual diz que os EUA “impuseram certas medidas coercitivas de restrição comercial
com a República Bolivariana da Venezuela, no contexto de tentativas de
isolamento econômico da Venezuela”.
Protestos e eleições
O governo de Maduro enfrenta protestos praticamente desde seu início e
reponde violentamente: em 2014, 43 pessoas
morreram entre fevereiro e junho e o líder oposicionista
Leopoldo López foi preso.
Guardas venezuelanos confrontam manifestantes anti-governo em protesto
em Caracas, em foto de 12 de abril de 2014 — Foto: Carlos Garcia
Rawlins/Reuters
Em 2015, o chavismo perdeu o controle do Parlamento e em 2016 o Supremo
declarou que a Câmara estava “em desacato”. Desde então, Maduro não presta
contas aos deputados, enquanto o restante dos poderes públicos, próximos do
Poder Executivo, não levam em conta as decisões do Legislativo.
Em março de 2017, o Tribunal Supremo de Justiça retirou do Congresso o
poder de legislar. Foi também em 2017 que o país teve o auge de seus protestos:
iniciados em abril e com mais de 100
dias de duração, deixaram um saldo de ao menos 100 mortos.
Nicolás Maduro proibiu todas as
manifestações públicas e realizou eleições para uma nova
Assembleia Constituinte, com atribuições
quase ilimitadas, mas que não foi reconhecida por boa parte da
comunidade internacional.
Mulher carrega um cartaz com a mensagem ‘Não à fraude eleitoral com um
Conselho Eleitoral Nacional viciado. Não vote’ durante protesto contra as
eleições presidenciais em Caracas, na Venezuela, em 16 de maio de 2018 — Foto:
AP Photo/Ariana Cubillos
Mais oposicionistas foram presos, os protestos perderam intensidade e a
população passou a boicotar ainda mais os processos eleitorais. Os índices de
abstenção são cada vez maiores – o voto não é obrigatório na Venezuela:
chegaram a 54% nas eleições presidenciais de maio de 2017 e, sem números
oficiais, tiveram estimativas ainda mais altas nas votações para prefeito em
dezembro do mesmo ano (nas quais muitos partidos foram proibidos de concorrer)
e para vereador em dezembro de 2018.
Êxodo
Mesmo os venezuelanos que têm emprego não conseguem adquirir produtos
básicos há anos. Em alguns lugares, pessoas chegam a comprar
carne estragada para consumir proteína, a escassez de
medicamentos em hospitais alcança 88% e é difícil até enterrar ou
cremar os mortos.
Em fevereiro de 2018, uma pesquisa mostrou que nove em cada dez
venezuelanos viviam abaixo da linha da pobreza, e mais da metade deles estavam
no patamar da pobreza extrema.
De acordo com a Pesquisa sobre Condições de Vida (Encovi), realizada
anualmente pelas principais universidades da Venezuela, os venezuelanos
perderam em média 11 quilos em 2017. Seis em cada dez admitiam
já terem ido dormir com fome por falta de comida.
Mais preocupados do que em votar e tentar mudar o país, muitos têm
decidido simplesmente ir embora.
Ponte que liga San Antonio del Táchira, na Venezuela, a Villa Del
Rosario, do lado colombiano, se tornou símbolo do êxodo de venezuelanos — Foto:
Carlos Eduardo Ramirez/Reuters
De acordo com agências da ONU, cerca de três milhões de venezuelanos
vivem no exterior, dos quais pelo menos 2,3 milhões deixaram a Venezuela a
partir de 2015. A maioria deles viajou para a Colômbia e o Peru.
No Brasil, vivem
atualmente mais de 30 mil venezuelanos - cerca de 10 mil
deles cruzaram a fronteira apenas nos seis primeiros meses de 2018.
De acordo com as estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM),
cerca de 5.500 pessoas deixaram o país por dia em 2018.
A ONU calcula ainda que, até o final de 2019, haverá 5,3 milhões de
refugiados e migrantes venezuelanos.
Venezuelanos recebem pão e copo de suco servido por missionárias
católicas no Centro de Boa Vista — Foto: Emily Costa/G1 RR
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