Conheça o jovem tenente de fala precisa que tem levado o resultado do trabalho dos militares em Brumadinho para o país e para o mundo.
Por Raquel Freitas, G1 Minas —
Brumadinho
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A bordo da primeira aeronave do Corpo de Bombeiros que levantou voo rumo
a Brumadinho, na última sexta-feira (25), estava o jovem tenente Pedro Aihara.
Como porta-voz da corporação, o belo-horizontino de 25 anos, que fez curso de
prevenção de desastres no Japão, é o responsável por apresentar o resultado do
trabalho incansável dos militares que atuam dia e noite na busca por vítimas do
rompimento da barragem da Vale.
Por meio das declarações do tenente, grande parte das informações sobre
a tragédia tem chegado aos quatro cantos do país e também do mundo. Nesta
terça-feira (29), sua lista de pedidos de entrevista, além da imprensa local e
nacional, incluía até uma emissora de televisão da China.
“O que eu faço é apenas transmitir o trabalho destes grandes heróis.
Esses, sim, merecem todo o reconhecimento e todo tipo de aplauso. Porque, se eu
faço um trabalho minimamente bem feito, não é mérito meu, e, sim, mérito do
próprio trabalho que é realizado por outras pessoas”, diz.
Entrevista à emissora chinesa — Foto: Raquel Freitas/G1
Apesar da feição jovem, o tenente que representa a imagem do Corpo de
Bombeiros de Minas Gerais tem chamado a atenção por sempre transmitir as
informações de forma precisa, sem titubeios.
Especialista em prevenção de desastres pela Universidade de Yamaguchi,
no Japão, o oficial – na intimidade, apelidado de Japa – encara com
tranquilidade, mesmo diante de tensão e cansaço, e precisão câmeras, microfones
e uma maratona de entrevistas, que, por vezes, se prolongam por mais de duas
horas seguidas.
Na primeira noite em Brumadinho, envolvido no atendimento à imprensa e
também no apoio às operações, o tenente não fechou os olhos. Nos últimos dias,
não mais que três ou quatro horas de sono.
Aihara, o rosto e a voz da corporação nesta tragédia, reconhece o peso
da responsabilidade de seu papel no acompanhamento do desastre.
“Eu não encaro isso daqui como um trabalho e, para mim, não é só um
número. Quando a gente fala de vidas humanas, se a gente tem uma informação
errada, isso daí pode impactar negativamente na vida de uma família de uma
maneira muito intensa. Então, em primeiro lugar, eu tenho noção dessa
responsabilidade. Em segundo lugar, é uma operação muito difícil, porque são
muitas agências envolvidas. São muitos dados que chegam, a gente tem que
verificar esses dados, são muitas demandas. As pessoas querem informação. A
questão das famílias, da imprensa”, diz.
Para que não haja falhas neste processo de unificação e repasse de
informações, quatro elementos são fundamentais para o tenente: serenidade,
tranquilidade, paciência e tolerância.
Apaixonado pela profissão que escolheu, Aihara, que entrou para o Corpo
de Bombeiros em 2012, acredita que conhecimento nunca é demais. Ao mesmo tempo
em que iniciou o Curso de Formação de Oficiais (CFO), o tenente começou a
faculdade de direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Acabei investindo nessas duas áreas e acabo conseguindo aplicar muitas
coisas que aprendo em uma área nas outras áreas. Aí, depois eu fiz minhas
especializações ”, diz ele em referência ao curso no Japão, feito em 2016, e o
de gestão de projetos, na Universidade de São Paulo (USP).
Solteiro, Aihara também tem o Cruzeiro como uma de suas paixões.
O tenente Pedro Aihara, porta-voz dos bombeiros — Foto: Reprodução
Assim como grande parte das pessoas que ingressam no Corpo de Bombeiros,
o tenente tinha a ideia que atuaria, diretamente, nas ruas.
“Acho que todo mundo quando entra no Corpo de Bombeiros tem aquela ideia
mesmo que a gente vai apagar incêndio, vai salvar pessoas. E, de fato, isso é
verdade. Mas existem várias outras funções que para a instituição trabalhar bem
são necessárias”, afirma.
Antes de se tornar porta-voz, Airaha atuava coordenando e organizando
equipes: “Em ocorrência de grande porte, a gente determina como vai ser a
atuação, quais vão ser as técnicas aplicadas. É uma espécie de
coordenador-geral daquele batalhão, em questão de operação”, explica.
Atuação no desastre de Mariana
Ele também participou das operações de busca na tragédia de Mariana, quando
o rompimento da barragem da Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton,
matou 19 pessoas e destruiu comunidades. Mas, em 2015, sua atuação foi bastante
diferente da desempenhada hoje. Na época, ele trabalhou no planejamento das
operações na zona quente do desastre.
Sempre eloquente e sem deixar perguntas de jornalistas sem resposta,
Aihara passou a representar a corporação depois de ser escalado para participar
de algumas missões que envolviam a articulação entre instituições, e o
resultado agradar seu comandante.
Tenente Aihara no curso de formação de bombeiros. — Foto:
Reprodução/Instagram
“E ele viu que eu me desempenhava minimamente bem nisso. Então, que eu
conseguia agregar essas pessoas, conseguia fazer essas reuniões, alinhar os
interesses de todo mundo. E aí vendo, essa mínima competência, quando ele foi
transferido para o comando-geral, ele também me chamou para que eu atuasse
nessa função, junto à imprensa”, afirma.
O primeiro caso de grande repercussão nacional em que Aihara representou
o Corpo de Bombeiros como porta-voz foi o incêndio na creche Gente Inocente, em
Janaúba, no Norte de Minas. Em 2017, a estrutura de uma casa que era utilizada
como creche se tornou cenário de horror depois que um vigia jogou álcool nele e
nas crianças e ateou fogo. Quatorze pessoas morreram.
Ele diz que este foi um trabalho que o sensibilizou, apesar de toda a
preparação para atuar em casos como esse.
“Foi uma ocorrência muito difícil pela característica de a gente ter
crianças, que uma situação afeta muito a gente e de presenciar de muito de
perto o sofrimento de todas essas famílias, especialmente das mães. Então, por
mais que a gente seja preparado para lidar com isso, é uma coisa que toca muito
o nosso coração”, diz.
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