PGR tem até 15 dias para se
pronunciar. Michel Temer e Rocha Loures foram indiciados por suspeita de
organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Por Patrícia Falcoski, TV Globo —
São Paulo
00:00/04:35
PF indicia Temer, a filha Maristela e mais 9 pessoas no inquérito dos
portos
A Polícia Federal entregou na tarde desta terça-feira (16) ao Supremo
Tribunal Federal (STF) o relatório final do inquérito dos Portos, que indicia o
presidente Michel Temer por organização criminosa, corrupção passiva e lavagem
de dinheiro.
Além de Temer, a PF indiciou outras dez pessoas, entre as quais a filha
dele, Maristela Temer, e o coronel João Baptista Lima Filho, amigo do
presidente. A Polícia Federal pediu o bloqueio de bens de todos os suspeitos e
a prisão de quatro deles. (Veja lista de nomes ao final da reportagem)
O indiciamento significa que a Polícia Federal concluiu haver indícios
suficientes dos crimes imputados aos investigados.
O caso foi encaminhado pelo ministro do Supremo Luís Roberto Barroso
para a Procuradoria Geral da República (PGR), que tem até 15 dias para se
pronunciar por meio de parecer e decidir se apresenta ou não denúncia à
Justiça. Se a PGR denunciar Temer ao STF, a Câmara dos Deputados terá de
autorizar o prosseguimento do processo.
A conclusão do delegado da PF Cleyber Malta Lopes, que comandou a
investigação, é que o presidente Michel Temer editou decreto de acordo com
interesses do setor portuário, em troca de benefícios ilícitos. Para o
delegado, Temer possui influência no Porto de Santos há mais de 20 anos.
Em maio de 2017, Temer ampliou de 25 para 35 anos o prazo de contratos
de concessões de empresas portuárias, podendo chegar a até 70 anos.
A defesa do presidente Michel Temer informou que não teve acesso ao
relatório da Polícia Federal. Veja o que afirmaram os demais indiciados ao
final desta reportagem.
Bloqueio de bens e pedidos de prisão
Barroso afirmou que vai esperar manifestação do MP sobre pedidos de
bloqueio de bens e pedidos de prisão, mas já determinou que os quatro que
tiveram pedidos de prisão sejam impedidos de deixar o país (veja lista de
alvos de pedido de prisão ao final da reportagem).
"Aguardarei a manifestação do Ministério Público quanto aos
requerimentos de sequestro e bloqueio de bens, assim como do pedido de prisão
preventiva. Determino, no entanto, desde logo, a proibição de se ausentarem do
país aos investigados que tiveram sua prisão processual solicitada pela
autoridade policial."
Denúncias de propina e indiciamentos
O inquérito dos
Portos foi aberto pelo STF, a pedido do então procurador da
República, Rodrigo Janot, após a delação de executivos do Grupo J&F, que
denunciaram pagamentos de propina a agentes políticos, entre eles Michel Temer
e o ex-assessor dele, Rodrigo Rocha Loures, envolvendo decreto editado por
Temer.
O principal articulador do decreto, que serviu de ponte entre as
empresas do setor portuário e Temer, foi Rodrigo Rocha Loures. Ele é ex-deputado
federal e ex-assessor especial da Presidência, homem de confiança de Temer.
Rocha Loures e Michel Temer fazem parte do núcleo político do esquema,
segundo o inquérito, e foram denunciados por organização criminosa, corrupção
passiva e lavagem de dinheiro.
O presidente nega que o decreto tivesse essa finalidade desde o início
das investigações. Empresas alvo do inquérito também negam o pagamento de
propina.
Já o Coronel João Batista Lima Filho, foi indiciado pela PF por
organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele também foi
alvo de pedido de prisão.
Lima é amigo do Presidente há mais de 30 anos, desde que foi assessor
militar de Temer, na época em que ele era Secretário de Segurança Pública de
São Paulo, na década de 1980, e também sócio da empresa de arquitetura
Argeplan.
A suspeita da PF é a de que a empresa tenha sido usada para receber
propina do setor portuário, pelo Coronel Lima e seu sócio, Carlos Alberto
Costa, em nome do presidente Michel Temer. Carlos Alberto Costa também foi
denunciado por organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O filho de Costa e diretor da Argeplan, Carlos Alberto Costa Filho, foi
indiciado por lavagem de dinheiro, assim como o contador da empresa, Almir
Martins Ferreira.
Antônio Celso Grecco, sócio do Grupo Rodrimar, segundo a PF, também faz
parte do esquema e foi indiciado por organização criminosa, corrupção ativa e
lavagem de dinheiro. O diretor do grupo, Rodrigo Mesquita foi indiciado por
lavagem de dinheiro.
Outro empresário do setor portuário também fazia parte do núcleo
empresarial, segundo a PF. O sócio do Grupo Libra, Gonçalo Borges Torrealba foi
indiciado por organização criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Reforma na casa da filha de Temer
Além dos envolvidos na edição do decreto, o delegado responsável pela
investigação também indiciou a filha do Presidente, Maristela Temer por lavagem
de dinheiro.
A reforma na casa dela, em São Paulo, entre 2013 e 2015, virou alvo de
investigações depois que empresários do grupo J&F relataram repasse de 1
milhão de reais ao Coronel Lima, na sede da Argeplan, em 2014.
A arquiteta responsável pela obra e mulher do Coronel Lima, Maria Rita
Fratezi, também foi denunciada por lavagem de dinheiro.
Lista de indiciados:
1. Michel Miguel Elias Temer Lulia
2. Rodrigo Santos da Rocha Loures
3. Antônio Celso Grecco
4. Ricardo Conrado Mesquita
5. Gonçalo Borges Torrealba
6. João Baptista Lima Filho
7. Maria Rita Fratezi
8. Carlos Alberto Costa
9. Carlos Alberto Costa Filho
10.
Almir Martins Ferreira
11.
Maristela de Toledo Temer Lulia
Indiciados alvos de pedido de prisão
preventiva
1. João Baptista Lima Filho
2. Carlos Alberto Costa
3. Maria Rita Fratezi
4.
Almir Martins Ferreira
Veja o que disseram os indiciados:
- A defesa do presidente Michel Temer informou que não teve acesso ao
relatório da Polícia Federal.
- Por meio de nota, o Grupo Libra informou que "não teve acesso ao
conteúdo do relatório da Polícia Federal e, portanto, não vai se
manifestar."
- A defesa do Coronel Lima informou que "recebeu com perplexidade a
notícia do pedido de prisão formulado em seu desfavor". "O Sr. Lima
há um ano e meio encontra-se permanentemente em sua residência, afastado de
suas atividades profissionais, dedicando-se exclusivamente aos cuidados de sua
saúde. Seus advogados vêm mantendo contato frequente com as autoridades
policiais e judiciárias envolvidas, prestando todas as informações que lhes
foram solicitadas.[...] Não se verifica, portanto, qualquer razão a justificar
o pedido de prisão preventiva apresentado nesta data pela Polícia
Federal." Os advogados disseram ainda que o pedido de prisão é
"desnecessário e desprovido de fundamento legal".
- O advogado de Rocha Loures, Cezar Bittencourt, informou que ainda não
teve acesso ao relatório policial e, portanto, "não há como se manifestar
globalmente". "Nesse inquérito, Rocha Loures não estava sendo
investigado pelos crimes organizado e lavagem de dinheiro! Mas, certamente, não
há elementos para a PGR oferecer denúncia contra Rocha Loures!"
- A defesa de Carlos Alberto Costa e Maria Rita Fratezi afirmaram que
"seus clientes nunca deram causa a qualquer pedido de prisão, sempre se
colocando à disposição das autoridades". "Esperam serenidade tanto da
PGR quanto do STF na apreciação de medida tão grave e desproporcional,
aguardando que eventual exercício de suas garantias fundamentais não sejam
considerados em seu desfavor."
- Rodrimar afirmou que não foi indiciada e nem citada, e por isso não
vai se manifestar, mas declarou que os dois ex-executivos citados deixaram a
empresa no início do ano.
- A defesa de Carlos Alberto Costa e de Maria Rita Fratezi afirmou que
os clientes nunca deram causa a qualquer pedido de prisão, estando sempre à
disposição das autoridades. A defesa disse, ainda, que espera serenidade da PGR
e do STF na apreciação de medida, que considera grave e desproporcional.
-A defesa de Maristela Temer não respondeu ao contato da reportagem.
Até a última atualização, a reportagem não havia conseguido contato com
as defesas de Almir Martins Ferreira, Antonio Celso Grecco, Gonçalo Torrealba e
Ricardo Mesquita
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