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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Será que 800 mil tem o poder de anular os votos de 54 milhões de brasileiros?

Por Reinaldo Del Dotore, no 247

Segundo as informações mais recorrentes, teriam sido cerca de 800 mil os manifestantes de ontem (16/08) contra o governo Dilma, em todo o país. Algumas fontes falam em aproximadamente 500 mil, outras sugerem mais de um milhão. Especula-se se o número de manifestantes teria sido maior ou menor do que nas outras duas manifestações deste ano - parece que a de ontem teria ficado em uma posição intermediária. Questiona-se também se a quantidade de manifestantes nos eventos contra o governo Dilma seria maior ou menor do que aqueles que saíram em passeatas para apoiar o governo.

Todos esses números e especulações são absolutamente irrelevantes. Explico.

É óbvio que a quantidade de brasileiros que gostaria de ter participado das manifestações de ontem é muito maior do que a daqueles que efetivamente saíram às ruas. Certamente, haveria mais do que dez ou vinte milhões de pessoas que engrossariam a multidão, e não foram por motivos os mais diversos: moram em regiões distantes nas quais não houve passeatas, não puderam ir por motivos pessoais, por preguiça, por medo, etc.

Da mesma forma, o número de cidadãos que gostaria de participar de manifestações pró-Dilma é muito maior do que os números, por exemplo, de 1º de maio, e os motivos da não-participação são idênticos. Não tenho dúvidas de que dezenas de milhões igualmente estariam nas ruas apoiando o governo.

Eis porque considero irrelevante analisar quantas pessoas efetivamente foram à manifestação A ou B, contra ou a favor. Esses números não representam, nem de longe, o universo  daqueles que fazem oposição ou apoiam o governo federal.

O que se deve analisar é outra coisa.

Que os manifestantes tenham todo o direito de organizar passeatas contra o governo Dilma, me parece ser ponto pacífico. Faz parte da Democracia a possibilidade de os cidadãos demonstrarem seu descontentamento (ou apoio) por várias formas, inclusive por meio de manifestações nas ruas. Só mesmo quem nutre algum viés autoritário poderia discordar disso. Até mesmo integrantes do governo Dilma já deixaram bem claro (inclusive ontem à noite) que consideram perfeitamente democráticas as manifestações - e não poderia ser diferente.

Da mesma forma, é não só natural como também salutar que cidadãos se manifestem contra a corrupção, embora fosse interessante que as pessoas se informassem um pouco melhor a respeito e direcionassem sua indignação de forma racional e não emocional.

O que não é razoável, porém, é utilizar a indignação (ou suposta indignação) contra a corrupção como pretexto para pregar a derrubada de um governo legitimamente eleito, em função de discordâncias ou descontentamentos quanto à atuação do governante. Se o cidadão não gosta da condução do governo federal (e, reitero, tem todo o direito de não gostar), que mantenha acesa essa chama, que organize seus amigos, famílias e conhecidos para, nas próximas eleições, lutar pela vitória de alguma proposta de oposição. Não há, porém, no ordenamento jurídico brasileiro, a opção de se defenestrar um governo (seja ele qual for) por não se gostar dele. Esse cacoete autoritário, felizmente, não foi inserido em nossa Constituição. Cabe ressaltar que é igualmente ilegítimo tentar forçar alguma mancha de "corrupção" em quem não a carrega - e é esse o caso de Dilma (e as tentativas nesse sentido têm se mostrado, no mínimo, patéticas).

Os números efetivamente relevantes, em contraposição aos dos presentes em passeatas, são os números finais das eleições. Em outubro de 2014, os números disseram que a Presidência da República seria ocupada, pelos quatro anos subsequentes, por Dilma Rousseff. Que os manifestantes não se esqueçam disso, e que abandonem essa postura infantil do tipo "não fui escolhido pro jogo, vou levar a bola embora".

Que respeitem a vontade da maioria e, democraticamente, tentem vencer em 2018.

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