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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Dono de academia que barrou jovem por 'parecer marginal' é indiciado no PI

Empresário afirmou que jovem de 17 anos, negro e tatuado, 'parecia bandido'.

Acusado de racismo, homem pode pegar de um a três anos de reclusão.

Fernando Brito
Do G1 PI

Como toda mãe fiquei revoltada, eu amo meu filho, disse Katia (Foto: Fernando Brito/G1)"Como toda mãe fiquei revoltada, eu amo meu filho", disse Katia (Foto: Fernando Brito/G1)
A Polícia Civil do Piauí indiciou o proprietário de uma academia localizada na Zona Sul de Teresina por ter impedido um jovem de frequentar o seu estabelecimento porque ele teria a 'aparência de um marginal'. O caso foi denunciado pela mãe do rapaz na Delegacia de Proteção aos Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias em Teresina ainda em março de 2015 e agora o dono da academia deve responder na justiça por racismo.
Após quatro anos na academia, jovem é barrado por 'parecer marginal' (Foto: Fernando Brito/G1)
Após quatro anos na academia, jovem é barrado por
'parecer marginal' (Foto: Fernando Brito/G1)
As informações foram confirmadas pelo delegado Emir Maia, que comandou as investigações que resultaram no inquérito encerrado na ultima sexta-feira (26).

Segundo ele, a Polícia chegou à conclusão do caso através do depoimento de testemunhas que presenciaram a prática discriminatória. O caso agora segue para a Justiça e, segundo o delegado, cabe à promotoria do Ministério Público julgá-lo.

"Chegamos à conclusão de que o professor, proprietário da academia onde o jovem malhava, expulsou ele por discriminação e racismo. Diante de informações testemunhais, nós o indiciamos e demos por encerrado o caso, que será enviado à justiça ainda nesta semana", disse.

Ainda segundo o delegado, se julgado como culpado, o dono da academia pode pegar de um a três anos de prisão. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível.

A mãe do jovem, Katia Rejane de Sousa, que é professora e orientadora social, contou que não se calaria frente ao processo e pediu que o juiz fosse sensível ao caso para que o homem seja penalizado.

"A repercussão do caso até trouxe comentários negativos, como já esperávamos. Infelizmente isso mostra que o ser humano ainda é muito preconceituoso e julga muito as pessoas pelo que elas são, e em muitos casos, como o do meu filho, julgam pela aparência. A denúncia foi simplesmente para que a justiça fosse feita, para fazer com que ele reconheça que agiu de forma preconceituosa. Trabalho com violação de direitos e não poderia deixar ou admitir que o meu filho passasse por isso", contou a mãe.

Segundo o cientista social, Marcondes Brito, que é mestre em políticas públicas e pesquisador na área da juventude, violência e tráfico de drogas, o racismo no Brasil, que para ele é um dos países mais preconceituosos do mundo, possui uma peculiaridade muito grande, que se refere à questões fenotípicas, ou seja, de aparência. E isso, segundo ele, se refere muito à questões de estigma que o país enfrentou com a escravidão.

"Esses comportamentos nascem daquilo que a gente partilha como valor e é passado de geração em geração. A educação é uma forma forte de quebrar isso, isso se a educação fosse voltada para o mundo da vida. Se você estuda, aprende os conteúdos temáticos e de que deve respeitar o outro, mas você vivencia constantemente situações de comportamentos de discriminação, e sem fazer uma reflexão crítica, você passa a assimilar que a criminalidade, por exemplo, está sempre ligada à pobreza, e especificamente à cor, e à aparência", contou.

Entenda o caso
Em março de 2015, Katia Rejane de Sousa, de 41 anos, registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Proteção aos Direitos Humanos e Repressão às Condutas Discriminatórias em Teresina depois que o filho foi impedido de frequentar a academia onde já treinava. A justificativa dada pelo proprietário da academia, segundo ela, teria sido porque o rapaz teria a 'aparência de marginal'. O fato aconteceu no bairro Monte Castelo, Zona Sul de Teresina.

Na época, o G1 entrou em contato com o proprietário da academia, mas ele informou que desconhecia o fato relatado pela mãe do jovem. Ele contou ainda que a queixa não chegou ao seu conhecimento e negou a existência de casos de discriminação dentro do estabelecimento.

A Polícia Civil foi instigada a investigar o caso e concluiu na sexta-feira (27), através de depoimento de testemunhas, que o proprietário praticou racismo

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