Remédio vendido como natural possuí substâncias químicas como corticoides.
Comercialização do medicamento é proibida pela Anvisa desde 2013.
Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) analisaram amostras do remédio Seiva da Moreira, vendido na internet e no comércio de rua como um produto de origem natural, e descobriram que o medicamento, além de não ser fitoterápico, pode fazer mal à saúde. A comercialização da substância é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2013, mas as cápsulas ainda são fabricadas e distribuídas em laboratórios caseiros irregulares.
O rótulo da Seiva da Moreira, também vendida com o nome de Leite da Moreira, diz que o uso é indicado para o tratamento de dores de cabeça, bursite, picada de insetos, asma, sinusite, garganta inflamada, dor nas pernas, cólicas, varizes, frieira, torcicolo, micoses, coceira, dor na coluna, celulite, distensão muscular, torção, luxação e até mesmo rachadura dos pés. Além disso, o pote diz que o produto é feito à base de plantas.
“São cápsulas pequenas com sais transparentes ou brancos, que não lembram de jeito nenhum o extrato de planta. Nós encontramos substâncias que não são fitoterápicas, são analgésicos e anti-inflamatórios”, disse o coordenador de pesquisas tóxicofarmacológicas da UFG, Luiz Carlos da Cunha. Além disso, alguns frascos contém até mesmo corticoides, utilizado contra inflamações.A doutora em farmacologia Isanete Bieski explica que a Moreira é um arbusto que também é chamado de amora-do-cerrado. “Ainda estamos estudando atividade farmacológica para atividades anti-inflamatórias”, diz. Entretanto, os pesquisadores descobriram que o medicamento vendido com o nome da planta, contém, na verdade, diversas substâncias químicas.
Segundo Luiz, essas substâncias podem causar problemas à saúde se houver erro na dosagem ou mistura com algum outro medicamento. “Temos variações em relação ao teor ou à dose dos anti-inflamatórios e analgésicos encontrados em cada frasco. Então, a gente sabe que é uma produção caseira, feita sem nenhum controle de qualidade”, destacou o pesquisador.
Riscos
Acreditando que estava comprando um produto natural e que não fosse causar efeitos colaterais, o aposentado Itamar Fernandes da Rocha decidiu experimentar a Seiva da Moreira. “Eu peguei e resolvi usar, porque o remédio é natural, não tinha como fazer um efeito ruim. Porém, minhas mãos ficaram com uma coceira violenta e uma temperatura altíssima, tinha que por gelo nas mãos para poder esfriar. Foi só eu parar de usar o remédio e desapareceu minha alergia”, relatou.
Alérgica a corticoides, a empresária Eliandra Nicoleto também acreditava estar ingerindo um remédio fitoterápico para tratar dores na coluna. “Em vários depoimentos que vi na internet, só trazia benefícios. Eu comecei em uma segunda-feira, com dor e foi aumentando. No segundo dia, mais dor. Chegou o sétimo dia e eu falei que ia tentar só mais um dia. Tomei de teimosa. Aí já estava de cama e não conseguia me movimentar. Fui parar no hospital”, relembra.
A professora da Faculdade de Farmácia da UFG, Leonice Tresvensol, afirma que as substâncias encontradas no medicamento devem ser indicados por um profissional. “Não são produtos para serem usados por um longo tempo. Normalmente, os corticoides são prescritos com acompanhamento médico, em virtude dos efeitos colaterais que eles podem provocar”, explicou. Esses efeitos podem começar com uma irritação estomacal até zumbido no ouvido, vertigens e insuficiência renal.
Fiscalização
Mesmo tento a comercialização proibida pela Anvisa, é possível encontrar o medicamento inclusive em farmácias. “É um produto estritamente fitoterápico. Eu tenho um laboratório. Ele é ilegal, você sabe, certo? Tem vários preços, vários laboratórios que fazem não é só o meu”, diz uma fabricante que afirmar ter um laboratório no interior de São Paulo. “A maioria dos meus clientes são farmacêuticos que compram de mim, revendem em farmácia, mas na ‘surdina’”, complementou.
De acordo com a Anvisa, a fabricação e comercialização desse produto é crime. “Quem vende esse produto no comércio eletrônico ou no comércio popular comete crime e pode sofrer pena de reclusão de 10 a 15 anos, além de multa”, disse Daniel Coradi, superintendente da Anvisa.
Para o consumidor, o maior risco é de adoecer ao tomar algo que pensa ser natural. “Essas pessoas estão utilizando substâncias sintéticas em grande quantidade e essas substâncias podem realmente causar efeitos colaterais, dependendo do indivíduo que está utilizando”, finalizou a professora da UFG, Leonice Tresvensol.
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