Pesquisadores
brasileiros desenvolveram uma vacina contra o câncer e obtiveram bons
resultados nos testes realizados em camundongos. O resultado foi publicado na
revista científica "Frontiers of Immunology".
A vacina usa
células tumorais do próprio indivíduo que receberá o tratamento e secreta
citocina GM-CSF, que estimula a proliferação e a maturação de diferentes tipos
de células de defesa, para evitar que as células tumorais se multipliquem
descontroladamente no organismo.
"A vacina
consiste em modificar células tumorais para que produzam imunomoduladores.
Estes imunomoduladores estimulam as células de defesa do organismo a
identificar e eliminar o câncer", disse o pesquisador Marcio Chaim
Bajgelman, que coordena o estudo no Laboratório Nacional de Biociências, no
Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Os pesquisadores
testaram diferentes combinações de células tumorais geneticamente modificadas
para desenvolver a vacina, que foi aplicada em camundongos com câncer de pele.
Os resultados foram positivos.
"Nossos
estudos demonstraram a possibilidade de curar o câncer em experimentos com
animais. Além disso, uma observação interessante foi que animais curados e
redesafiados com novos tumores apresentaram uma resposta duradoura,
sugerindo-se o desenvolvimento de uma memória imunológica antitumoral",
avalia Bajgelman.
Por que o câncer de pele?
Para o estudo,
os pesquisadores injetaram as células tumorais de um melanoma altamente
agressivo nos animais. A ideia era colocar os animais em uma situação
semelhante ao que acontece com humanos, em que o tumor se desenvolve a partir
de células próprias e o sistema imunológico age nestas células.
O resultado
mostrou que o sistema imunológico daqueles que tinham recebido a vacina
conseguiu responder ao câncer. Em alguns animais, o tumor foi eliminado
completamente.
"Sendo
assim, animais que não recebem a terapia desenvolvem tumores e animais
submetidos a terapia têm o sistema imune estimulado para erradicar o
câncer", diz o pesquisador.
Eles também já
trabalham para desenvolver a vacina que funcione com outros tipos de câncer:
"Além do modelo de melanoma também estamos investigando outros modelos que
utilizam células derivadas de câncer de mama e câncer de próstata. O câncer é
uma doença multifatorial que apresenta características que podem variar entre
indivíduos, por esse motivo pacientes podem responder de forma diferente aos
tratamentos".
No futuro
Nas próximas
etapas no estudo, a vacina será testada em tecido humano proveniente de
amostras clínicas de pacientes removidas em cirurgias para avaliar o desempenho
in vitro. Se esta etapa for bem sucedida, os cientistas planejam fazer ensaios
no que chamam de "animais humanizados", simulando os efeitos no corpo
humano.
"A
transferência desta tecnologia para o mercado depende da conclusão destes
ensaios pré-clínicos e posterior realização de ensaios clínicos, que seguem
requisitos preconizados por comissões e órgãos regulamentadores. Estes ensaios
seguem um cronograma padrão, de cerca de 8 anos para chegar ao mercado",
explica Bajgelman.
O trabalho vem
sendo conduzido no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Centro
Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), durante o doutorado de
Andrea Johanna Manrique Rincón, sob a coordenação do pesquisador Marcio Chaim
Bajgelman.
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