Por G1
O Ministério
Público Federal (MPF) disse que o depoimento de Rosilene da Luz Ferreira, que
trabalhou como cozinheira no sítio em Atibaia (SP), foi realizado de maneira
legal e que não houve coação ou condução coercitiva, conforme relatou o marido
dela, Lietides Pereira Vieira, em audiência na Justiça.
O depoimento de Rosilene foi
colhido no dia 4 de março de 2016, mesmo dia em que foi deflagrada a 24ª fase da Lava Jato e que o ex-presidente Lula foi
alvo de um mandado de condução coercitiva.
A força-tarefa da Lava Jato acusa Lula de receber
propina proveniente de seis contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht
e a OAS. Os valores foram repassados ao ex-presidente em
reformas realizadas no sítio, dizem os procuradores.
Lula nega as
acusações e diz não ser o dono do imóvel, que está no nome de sócios de um dos
filhos do ex-presidente. Além do ex-presidente, outras 12 pessoas são rés no
processo.
Lietides Pereira
Vieira também trabalhou no sítio como eletricista. Ele foi ouvido na condição
de testemunha de Fernando Bittar no processo que apura a propriedade do sítio,
no último dia 20 de junho.
O eletricista
disse, segundo o MPF, que houve coação por parte das autoridades ao levar a
esposa dele da casa dela para depor no sítio.
Lietides Pereira Vieira foi ouvido na
condição de testemunha de desfesa do Fernando Bittar em processo que investiga
sítio de Atibaia (Foto: Reprodução)
Segundo ele, a
mulher foi levada com o filho do casal, de oito anos, e prestou depoimento por
cerca de uma hora até ser conduzida novamente para casa. "Ela me contou
que eles falaram: 'a senhora vai ter que ir lá depor, prestar alguns
esclarecimentos'".
Lietides disse
ainda que o filho do casal foi levado junto para o local do depoimento e que
ele precisou de tratamento psicológico com a pediatra e psicológica porque ele
ficou muito tenso.
O MPF afirmou
que Rosilene se dispôs a ir ao sitío de Santa Bárbara para falar com a
força-tarefa. Isso porque, conforme o MPF, o equipamento para a gravação do
áudio do depoimento estava com pouca bateria, inviabilizando a tomada do
depoimento na casa de Rosilene.
Conforme os
procuradores, então foi proposto que o depoimento fosse tomado à tarde na própria
residência da testemunha. Segundo eles, a cozinheira ponderou que nesse horário
trabalharia em outro local e que, para ela própria, seria melhor que o
depoimento fosse realizado ainda pela parte da manhã.
"Como a
equipe comandada pelo Delegado Mauat e encarregada da tomada dos depoimentos
somente encerraria os trabalhos no sítio após o meio dia, a testemunha se
dispôs a comparecer na base operacional da PF no sítio Santa Barbara para
formalizar e prestar depoimento ainda pela manhã, desde que pudesse se deslocar
na viatura da Polícia Federal até o local onde seria colhido o depoimento e
nela ser trazida de volta a sua residência a tempo de não se atrasar para o
trabalho”, diz trecho da manifestação dos procuradores entregue à Justiça.
Quanto à
presença do filho de Rosilene no sítio, os procuradores disseram que foi uma
decisão dela mesma, sem nenhuma ingerência do Ministério Público ou dos
policiais de apoio. "Ele - o menor - poderia ter permanecido junto com o
esposo ou companheiro, por decisão exclusiva de seus genitores", disse o
MPF.
O que disse o marido de Rosilene
Após ser
questionado pela defesa do empresário Fernando Bittar durante o depoimento, o
eletricista Lietides Vieira disse que no dia em que foi deflagrada a 24ª fase
da Operação Lava Jato, policiais e procuradores foram até sua casa, por volta
das 6h, e levaram a esposa para prestar depoimento no sítio em Atibaia (SP) sem
apresentar mandado.
Segundo ele, a
mulher foi levada com o filho do casal, de oito anos, e prestou depoimento por
cerca de uma hora até ser conduzida novamente para casa.
"Ela
me contou que eles falaram: 'a senhora vai ter que ir lá depor, prestar alguns
esclarecimentos'".
Ele disse que,
primeiro, pediram o documento dela e assinaram um papel. Na sequência, o
eletricista contou que tinha consulta médica marcada e que ficou sabendo que a
esposa e o filho tinham sido levados por telefone quando ela ligou.
"Meu filho
faz tratamento psicológico com a pediatra e psicológica até hoje, porque ele
ficou muito tenso. Ele ficou muito com medinho, meu filho adoeceu. Meu filho
ficou uns oito dias em que ele dormia comigo atracado no meu pescoço, com
medo", relatou.
Lietides é irmão
de Élcio Vieira, caseiro do sítio atribuído a Lula, e conhecido como Maradona.
Ele diz ter prestado serviços no sítio e que a mulher, esporadicamente, fazia
limpeza no local.
De acordo com o
eletricista, depois de ser questionado pela defesa do ex-presidente, a mulher
teve que responder, entre outras perguntas, sobre Lula. "Eles perguntaram
para ela se ela já tinha visto o ex-presidente Lula no sítio", contou.
Vieira afirmou
ainda que a esposa que trabalhava para Bittar também causou problemas à saúde
dela. "A gente vem de família simples e humilde. E a gente não tem esse
tipo de parâmetro, de presenciar uma cena assim, doutor. Então isso foi um
abalo gigantesco para ela e para o meu filho", disse.
Depois de pedir
esclarecimentos sobre pagamentos pelos serviços prestados no sítio, Moro
questionou o eletricista sobre o episódio da mulher e do filho. O juiz quis
entender o motivo do fato nunca tinha sido mencionado e como a defesa de Bittar
sabia.
O advogado
interferiu e explicou que soube por meio do irmão do eletricista. Moro disse
que o fato seria apurado. "Me causa um pouco de surpresa que esse assunto
venha à tona de surpresa durante uma audiência e nunca tenha sido trazida ao
juízo anteriormente", afirmou o juiz.
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