Oncologista de 74 anos já ocupou cargo entre 2005 e 2010.
Jornal destaca Vázquez como presidente mais votado dos últimos 70 anos.
O candidato esquerdista e ex-presidente Tabaré Vázquez foi eleito, neste domingo (30), o sucessor de José Mujica no Uruguai. Vásquez venceu Luis Lacalle Pou, candidato de centro-direita, no segundo turno das eleições presidenciais no país. O novo mandato começa em 1° de março de 2015.
De acordo com o jornal "El Observador", Vázquez é o presidente mais votado dos últimos 70 anos, considerando os votos válidos. Com a vitória, este será o terceiro mandato consecutivo da Frente Ampla no país.
De acordo com a Corte Eleitoral do Uruguai, com 100% das seções apuradas, Vázquez somava 1.226.105 votos (53,6%) contra 939.074 (41,1%) do candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou. Tabaré Vázquez, socialista e oncologista de 74 anos, já foi presidente do Uruguai entre 2005 e 2010.
Em seu primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados provisórios, Vázquez pediu um grande acordo nacional para atender a áreas-chave como segurança, educação, saúde e infraestrutura.
"Em termos de desenvolvimento econômico e social legítimo e duradouro é fruto de (...) trabalhos compartilhados. Isto implica diálogos e acordos entre todos os setores e em todos os âmbitos da sociedade sobre temas vertebrais da agenda do país", declarou.
Vázquez assinalou o "orgulho" que sente com "a mostra de amor pela democracia, pelo respeito e pela tolerância" com que o país viveu a jornada, "independentemente da cor política de cada um". "Vamos cumprir até a última vírgula do programa do Frente Ampla. Dentro da Constituição e da lei tudo; fora, nada", afirmou.
"Estão convocados todos para o diálogo que queremos que seja sem preconceito, mas com lealdade, produtivo, que leve a decisões concretas e sustentáveis, e que sem ignorar ninguém e abrangendo a todos reflita a maioria, porque isto é a alma da democracia", afirmou.Vázquez se comprometeu com a multidão fazer "o máximo esforço possível" para "não decepcionar" e a "trabalhar a cada dia" para "que os uruguaios vivam cada vez melhor".
Após uma mensagem de agradecimento a, entre outros, sua equipe e a todos os cidadãos por ter feito de hoje um dia de paz, o candidato quis mandar uma saudação a seu oponente, o candidato pelo Partido Nacional (PN), Luis Lacalle Pou, e a seu companheiro de chapa, Jorge Larrañaga, além de a todos os cidadãos que lhes apoiaram.
"Não se trata de perseguir quimeras, mas de olhar de frente para a realidade e a partir dela fixar objetivos ambiciosos, mas alcançáveis", acrescentou Vázquez, para quem algumas dessas metas são "imediatas" e outras de mais longo prazo, mas todas devem ser encaradas 'com perspectiva estratégica rumo certo, condução confiável e sentido de nação".
Lacalle Pou reconheceu a vitória do esquerdista. "Há poucos minutos liguei para o dr. Tabaré Vázquez para felicitá-lo por ter triunfado legitimamente nestas eleições", declarou Lacalle Pou em seu comitê de campanha.
Quase 2,6 milhões de uruguaios estavam registrados para votar em 7.000 seções eleitorais, em um dia de fortes chuvas no país, que não afastou os eleitores das urnas.
Repercussão
Pouco após a confirmação do resultado, a presidente argentina Cristina Kirchner conversou por telefone com Vázquez e o felicitou pela vitória. O presidente eleito reafirmou o desejo de uma visita à Argentina e a intenção de estar presente na inauguração da nova sede da União de Nações Sul-Americanas (Unasur), no Equador, em dezembro, cujo prédio levará o nome de Néstor Kirchner.
O Governo do México também parabenizou Vázquez pelo resultado. "O México expressa sua satisfação com a realização de uma jornada eleitoral pacífica, democrática e exemplar, e reitera o desejo de continuar a excelente relação de amizade e cooperação que historicamente uniram ambos os países", assinalou a Secretaria de Relações Exteriores em comunicado, segundo a EFE.
Herença de Mujica
O futuro presidente, que deve assumir em 1o. de março de 2015, receberá um país com uma economia forte, que fechará em 2014 seu 12o. ano de crescimento consecutivo, mas com o desafio de resistir às turbulências que seus vizinhos, gigantes como Brasil e Argentina, enfrentam.
"Em um contexto mundial de transição para um mundo menos amigável para as economias emergentes, com um dólar mais forte, com taxas de juros mais altas e com 'commodities' depreciadas, o Uruguai tem pela frente três ajustes pendentes: o do setor fiscal, onde temos um déficit insustentavelmente alto, o dos preços relativos e o do mercado de trabalho", analisou o economista Javier De Haedo.
O novo presidente herda alguns temas complicados que Mujica deixará para o governo, como a implementação da venda de maconha nas farmácias uruguaias.
Médico de profissão, o presidente eleito manifestou certas reticências quanto a esta polêmica lei, mas assinalou que vai mantê-la. Advertiu, no entanto, que será feita uma avaliação rígida sobre o impacto que possa vir a ter sobre a sociedade.
Vázquez terá, além disso, o desafio de suceder o popular 'Pepe' Mujica, que conquistou o mundo com sua simpatia, austeridade, seus discursos a favor da paz e contra o consumismo.
No entanto, ele deixou o poder em 2010 com uma histórica popularidade de quase 70%, depois de aprovar reformas tributárias e de saúde, implementar um plano de emergência social e o Plano Ceibal, que dotou todos os escolares com um computador.
Combatente incansável da lei antitabaco e primeiro esquerdista a governar o Uruguai, Vázquez ocupará pela segunda o vez o cargo de presidente.
Com um estilo sóbrio e voz de comando dentro da FA, nasceu em uma família operária e trabalho como carpinteiro e auxiliar administrativo até que conseguiu pagar seus estudos de Medicina.
"Venho de um lar muito humilde e estudei em escola pública. Sou produto disso e me sinto profundamente grato e comprometido com a sociedade uruguaia", assegurou em uma entrevista recente.
Graduado em 1969, dedicou sua carreira à oncologia, depois que, entre 1962 e 1968, sua irmã, sua mãe e seu pai morreram devido a um câncer.
Tabaré e a esposa María Auxiliadora se conheceram na adolescência em uma quermesse e se casaram quando ele tinha 23 anos e cursava o segundo ano de Medicina. Juntos, formaram uma família de quatro filhos, um deles adotado, e onze netos.
Curiosamente, um dos máximos dirigentes da esquerda uruguaia fez sua carreira universitária longe da militância estudantil na turbulenta década de 1960, na qual Mujica tomou das armas no Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, algo que atribuiu a suas obrigações familiares.
Depois de mais de uma década como dirigente do modesto clube de futebol Progresso, em 1983, Vázquez se uniu de forma clandestina ao Partido Socialista, iniciando uma carreira política meteórica. Logo foi eleito prefeito de Montevidéu em 1989.
Como candidato à presidência, depois de tentativas frustradas em 1994 e 1999, Vázquez conseguiu a vitória em 2004.
Além das reformas promovidas, reiniciou as investigações contra os repressores da ditadura.
Mas nem tudo foram flores para o socialista ao longo de seu mandato e vetar uma lei que legalizava o aborto se transformou em um dos momentos mais difíceis para seu governo, já que a decisão criou uma forte polêmica dentro da FA.
No entanto, a polêmica maior chegou em 2011, já estava fora do governo, quando confessou que aventou a possibilidade de um conflito bélico com a vizinha Argentina pela instalação de uma fábrica de celulose em um rio limítrofe, para o que pediu apoio dos Estados Unidos.
Ante as críticas da Argentina e de dentro de seu próprio partido, Vázquez pediu desculpas ao país vizinho e se retirou da política por algum tempo, mas voltou ante o clamor da FA e da população.
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