Por Arnold Coelho
Começo esse texto usando o bordão do meu saudoso amigo Eduardo Lavinsky, que diariamente – nos períodos da tarde – na redação do Jornal Agora, usava o ‘É ford, seu delegado!’ para discordar de algo errado ou que ele não concordava. Lavinsky sempre soltava esse bordão. Vale ressaltar que ele substituia o ‘foda’ pelo ‘ford’ pois tinha sempre muita mulher no recinto e ele era um cara refinado, um verdadeiro lorde inglês e não aprovava palavrões.
Eduardo, se hoje estivesse vivo, com certeza já teria usado esse bordão em algum dos seus artigos para mostrar toda a sua indignação com o fechamento da Ford na Bahia, a saída da montadora (depois de 100 anos) do nosso bom e velho Brasil Tupiniquim, além das milhares de demissões em andamento.
Hoje eu escrevo com um tom de tristeza pois serão a princípio mais de 5 mil trabalhadores que dependem desse emprego e já acordaram desempregados. Vale ressaltar que indiretamente serão mais de 50 mil empregos a menos no Brasil. Vi ontem no noticiário regional que só em Camaçari existem 14 empresas que vivem diretamente ligadas à Ford, produzindo de pneus a tapetes para esses veículos.
A cidade também recebia anualmente cerca de 150 milhões de reais só de impostos. O impacto financeiro em Camaçari será ‘monstruoso’, pois só a montadora colocava 10% de toda a receita da cidade. Lembro que Ibicaraí era uma cidade rica com a cultura do cacau e a fábrica da Coca-Cola. A chegada da Vassoura de Bruxa e a saída da Coca-Cola levaram a cidade ao fundo do poço e até hoje o município funciona como uma cidade dormitório, onde parte da população precisa sair para trabalhar fora e só volta para casa a noite para dormir.
A saída da Ford no Brasil e o fechamento de centenas de agências do Banco do Brasil (incluindo a agência de Ibicaraí, que funcionará como posto avançado) foi o cartão de boas vindas de 2021. O país caminha para uma grande recessão sem precedentes. Fiquei preocupado com a declaração do presidente do Brasil, que deixou bem claro que a Ford queria subsídio e isso ele não daria. Sem diálogo e seguindo essa linha de raciocínio outras montadoras e empresas multinacionais logo sairão. Nesse momento de pandemia precisa existir diálogo.
É fato que esse governo quer privatizar as grandes estatais, como o Banco do Brasil, a Caixa, os Correios, a Eletrobras e a Petrobras. O fechamento de mais de uma centena de agências do BB da noite para o dia é um prenúncio de uma nova Noite dos Cristais, com uma diferença: a perseguição dessa vez não será aos judeus da segunda grande guerra e sim ao funcionalismo público na esfera federal.
O governo fala em enxugar a máquina pública e em um desmonte desse modelo que aí está, reduzindo gastos e custos. No papel a ideia é gastar menos, mas, por outro lado, esse mesmo governo que prega economia no serviço público, deu aumento salarial às forças armadas, ao Judiciário e não cortou nenhum benefício da classe política. Fica claro que mais uma vez quem vai pagar a conta é o pobre povo brasileiro e eu vou ter que repetir o bom e velho bordão do meu saudoso amigo Lavinsky: “É FORD, SEU DELEGADO!”
Arnold Coelho
Pagador de impostos
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