Entre 2011 e 2020, economia brasileira deve avançar em média 0,9% ao
ano, aponta FGV. Taxa é menor que o 1,6% da chamada 'década perdida', nos anos
1980.
Por
Luiz Guilherme Gerbelli, G1
Prédio onde funciona o Ministério da Economia; letreiro anterior era do
Ministério da Fazenda — Foto: Marília Marques/G1
A fraqueza da economia deve dar ao Brasil uma triste marca ao fim do ano
que vem. A taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da atual
década deve ser a mais baixa dos últimos 120 anos.
De 2011 a 2020, o crescimento médio do Brasil deve ser de apenas 0,9% ao
ano, projeta um estudo do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio
Vargas (Ibre/FGV). Se a previsão for confirmada, a economia brasileira vai
registrar um desempenho mais fraco até mesmo do que o observado nos anos 1980,
período chamado de "década perdida", quando o PIB avançou em média
apenas 1,6% ao ano no período.
O levantamento do Ibre utiliza como base a série histórica do PIB
apurada pelo Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea) e as projeções
para 2019 e 2020 do relatório Focus, do Banco Central, que colhe a avaliação de
analistas para a economia brasileira.
Taxas médias reais de crescimento anual em cada década
Dados em %
4,24,24,24,24,54,54,44,45,95,97,47,46,26,28,68,61,61,62,62,63,73,70,90,91901-101911-201921-301931-401941-501951-601961-701971-801981-901991-002001-102011-200246810
Fonte: Ibre/FGV, com dados do Ipea e do Banco Central
O desempenho atual é explicado, segundo os analistas, pela piora das
condições macroeconômicas do Brasil. Desde 2014, a economia brasileira tem
colhido sucessivos déficits nas contas públicas, o que levou a um aumento
acelerado da dívida do país e, consequentemente, da desconfiança com a saúde
financeira, afetando diretamente a taxa de crescimento da economia.
"Houve uma grande desarrumação da economia nesta década. Os erros
de política econômica levaram a uma queda muito forte do PIB em alguns anos e
agora produzem uma lenta recuperação", afirma o pesquisador do Ibre/FGV e
responsável pelo estudo, Marcel Balassiano.
"A saída da recessão mais recente está mais difícil por algumas
razões", afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio
Vale. "Na saída da recessão, não tínhamos disponíveis os instrumentos
clássicos de política monetária e fiscal para estimular a economia: a inflação
estava em dois dígitos e o fiscal era a origem do problema."
Além dos problemas de características mais estruturais apontados pelos
economistas, fatores pontuais têm prejudicado a retomada. Em 2018, a greve dos
caminhoneiros e a incerteza com o quadro eleitoral afetaram a atividade. A
desaceleração da economia mundial, sobretudo da Argentina, importante parceira
comercial do Brasil, também está colaborando para minar uma retomada mais
forte.
"Este ano ainda temos um pouco de resquícios desses choques: a
Argentina e o mundo seguem em desaceleração, afetando o crescimento do começo
de 2019", diz Vale.
O fraco desempenho do PIB na década atual
Evolução ano a ano da atividade econômica; dados em %
Desempenho da
atividade201120122013201420152016201720182019*2020*-4-20246
Fonte: IBGE e BC; *previsão boletim Focus
Foco no Fiscal
Se quiser acelerar o crescimento da economia nos próximos anos, o
governo vai ter de endereçar a questão das contas públicas, de acordo com
analistas. No centro do debate, está a reforma da Previdência. Ela é
considerada fundamental para o acerto das contas do governo e, dessa forma,
pode contribuir na atração de investimentos para acelerar o crescimento
econômico.
"O nosso problema fiscal é enorme e precisa ser resolvido para
permitir a volta de algum crescimento mais robusto", afirma Balassiano, do
Ibre – neste ano, a meta do governo é de um déficit de até R$ 139 bilhões.
Sem a aprovação da reforma, os analistas avaliam que o crescimento deste
ano tende a ser ainda mais baixo do que os 2% projetados atualmente.
Crise dos anos 1980
Até a década atual, o período de mais baixo crescimento do país foi
registrado nos anos 1980. Naquele período, a economia brasileira enfrentou uma
combinação perversa.
No cenário internacional, houve uma piora das condições financeiras, com
alta de juros pelas principais economias. Internamente, o Brasil passava pelo
período de redemocratização, lidando com um quadro de baixo crescimento, descontrole
fiscal e aumento da inflação - o país enfrentou vários planos de estabilização.
"Entre os principais fatores que levaram ao quadro de instabilidade
dos anos 80 está o esgotamento do modelo de industrialização promovido pelo
Estado desde os anos 30, com um endividamento público agudo", afirma a
economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro.
Em 1987, o governo brasileiro chegou a declarar moratória e suspendeu o
pagamento de credores internacionais.