O fato de não estar no mercado de
trabalho por um tempo não é mal visto por recrutadores e empresas. Mas
candidato deve justificar essa ausência, segundo especialistas.
Por
Marta Cavallini, G1
Candidato espera ser atendido em posto de recrutamento — Foto: Ely
Venâncio/EPTV
Na procura pela vaga de emprego, uma dúvida comum do candidato é como
justificar o tempo sem trabalho.
Afinal, o fato de não estar no mercado por um tempo é mal visto por
recrutadores e empresas? Se o candidato souber como “justificar” essa ausência,
não, segundo especialistas.
“Nos currículos que avaliamos atualmente, ficar sem trabalhar é uma
situação extremamente normal. O número de profissionais que têm um espaço entre
uma passagem profissional e outra é muito grande. Isso é um movimento natural
das empresas que estão passando por um aperfeiçoamento ou uma inovação e
diminuem o quadro”, diz Bruno Lourenço, sócio da Vittore Partners, consultoria
de recrutamento especializada nos mercados jurídico, tributário, compliance e
relações governamentais.
Segundo ele, é natural que o profissional fique um tempo sem trabalhar,
e isso não tem problema nenhum. “Da mesma forma que não há problemas com o
profissional que resolve se dedicar a um projeto paralelo. Sai de uma
multinacional, por exemplo, e decide se dedicar ao seu próprio projeto, empreender
ou construir um novo negócio. Isso é muito positivo e tem que estar no
currículo das pessoas”.
Análise do currículo
O headhunter garante que a análise do currículo não leva em conta o
tempo que o profissional ficou sem trabalhar. Pelo contrário: se durante esse
período o profissional usou o tempo para se aperfeiçoar, estudar, empreender ou
se arriscar em um novo projeto, tudo isso é extremamente válido. “Pois disso
ele tira experiências ricas que provavelmente não teria em uma empresa ou
dentro de seu trabalho anterior”, comenta.
E de que forma o candidato pode colocar esse período sem trabalho no
currículo? Segundo o recrutador, é pedido para que o candidato coloque de uma
maneira bem clara o que ele fez nesse período. Por exemplo, se ele parou de
trabalhar em julho de 2018 e voltou somente em janeiro de 2019, deixar claro no
currículo o que ele fez nesse período. Se foi algum curso, a construção de um
novo negócio, a dedicação a uma ONG ou um projeto paralelo, por exemplo.
“Isso é sempre positivo. Porque na hora em que o entrevistador abordar o
candidato sobre essa fase, ele trará, realmente, as experiências ricas que teve
e as atividades desenvolvidas que não teria a oportunidade de desenvolver em
suas posições anteriores. É favorável porque o profissional não vai ficar em
casa sem fazer nada, ele realmente estuda e tenta se desenvolver de outra
maneira em outro negócio”.
Lourenço ressalta que no currículo devem ser colocadas apenas as
passagens relevantes. “Então é claro que, se o indivíduo foi tirar férias com a
família, ele não deve colocar. Mas se ele foi viajar para o exterior para
estudar ou fazer algum curso, pode colocar sim, e é muito bem-vinda a
informação”, explica.
E se o profissional fez “bicos” durante o desemprego? Segundo Lourenço,
se nesse trabalho o profissional doou horas para ser conselheiro em uma ONG, é
excelente. Mas se é uma atividade sem tanta relevância profissional, não vale a
pena colocar.
De acordo com a especialista em RH e fundadora do site Admirável Emprego
Novo, Renata Felix, quem não exerceu nenhuma atividade remunerada enquanto
esteve fora do mercado de trabalho deve usar aquilo que fez como base para as
competências desenvolvidas nesse período. Se atuou no seu próprio negócio ou
ajudou alguém da família, se fez trabalho voluntário ou intercâmbio, se cuidou
dos filhos ou se aproveitou um sabático, tudo isso trouxe conhecimento que
levou ao desenvolvimento de competências.
“As competências são características únicas de cada profissional e elas
são a parte mais importante de um currículo. Justificar um período sem
trabalhar fica mais fácil quando você oferece ao entrevistador aquilo que você
desenvolveu enquanto estava focado em outras atividades”, diz.
Ela afirma que um profissional capaz de mostrar suas competências no
currículo tem muitas chances de conseguir um bom emprego, tenha ou não um
buraco no currículo. “O importante é mostrar suas capacidades e o
comprometimento com a oportunidade que lhe é oferecida”, completa.
Entrevista
E na entrevista? Como ele pode expressar de forma positiva esse período
de pausa?
Segundo Bruno Lourenço, a melhor forma de o profissional expressar isso
de maneira positiva na entrevista é mostrar o que de fato foi realizado ao
longo desse período. Quais as conquistas obtidas com as atividades feitas no
período sabático ou de trabalho em outro projeto, o que foi realizado daquilo
que foi planejado e quais foram as vitórias.
“Independentemente do projeto, o mais importante, para os recrutadores,
é que tipo de experiência foi obtida, as dificuldades enfrentadas, os
obstáculos e os aprendizados finais, que deixam a trajetória vitoriosa de
alguma forma”, explica.
E se o profissional foi empreendedor, mas fechou o negócio e agora quer
voltar para o mercado formal?
Lourenço afirma que, mesmo que o projeto tenha dado errado, os
recrutadores querem saber o que o candidato aprendeu com isso. “Hoje, há
inúmeros casos de startups que não passam do quinto ano de vida e os
profissionais provenientes conseguem emprego depois. Principalmente porque eles
tiveram experiências que são necessárias em outros negócios ou companhias”,
afirma.
Razões para ficar fora do mercado
De acordo com Renata Felix, é preciso entender por que o candidato ficou
um período sem trabalhar formalmente.
Alguns motivos para não trabalhar por um período são mais simples de
comunicar aos recrutadores, diz ela. Há quem se afaste do trabalho por prioridades
com a saúde, e falar sobre isso na entrevista não deve ser tabu, pois faz parte
da vida de todos.
“Uma demissão pode ser um momento difícil e esse rompimento inesperado
traz mudanças na vida de qualquer profissional. Muita gente aproveita o desligamento
de uma empresa para refletir sobre sua carreira, sua vida e toma a decisão de
aproveitar temporariamente o período de outras maneiras. Com a conveniência do
seguro-desemprego, há a possibilidade de reestruturar a rotina e pensar melhor
sobre o futuro”, afirma.
Renata cita que a saída de um emprego também costuma ser aproveitada
para estudar para concursos. “É uma prática comum, mas que exige muito esforço
e acaba esgotando quem não consegue a vaga. Quando voltam ao mercado, esses
profissionais precisam se posicionar. Se parou de trabalhar para estudar para
concursos e agora quer voltar ao mercado de trabalho, é preciso justificar esse
tempo da maneira correta”, ressalta.
Depois de entender e esclarecer os motivos para esse tempo fora do
mercado de trabalho, fica mais fácil entender como justificá-lo, garante
Renata.
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