POR Arnold Coelho Jornalista MTB 0006446/BA
Um pouco do que penso para o futuro dessa cidade
Primeiro é importante deixar claro que este texto se apoia pouco em dados técnicos ou estudo político e científico. Trata-se apenas de um pensamento pessoal, de alguém que vive Ibicaraí há quase 30 anos e que, nos últimos 15, percorreu parte da extensão territorial do município, andando e observando de perto o enorme potencial hídrico, agrícola e turístico dessa cidade - riquezas evidentes, mas ainda pouco exploradas pelos nossos governantes.
Segundo dados do IBGE, Ibicaraí possui cerca de 23 quilômetros quadrados, o equivalente a aproximadamente 23 mil hectares, assim distribuídos: cerca de 11.500 hectares de mata, 8.500 hectares de pastagens e o restante dividido entre área urbana e áreas mistas. Com uma população de 21.665 pessoas (Censo 2022), com estimativa de um pequeno crescimento entre 2024 e 2025, que passa da casa dos 22 mil habitantes.
O município é cortado pelo Rio Salgado, que delimita duas realidades econômicas distintas: ao norte, um corredor de montanhas onde predomina a cultura do cacau; ao sul, uma região mais quente, com economia baseada na pecuária leiteira.
POTENCIAL AGRÍCOLA E HÍDRICO
Além do cacau, o lado norte do município produz, ainda que de forma desordenada e artesanal, uma grande diversidade de culturas: mandioca, aipim, inhame, banana (prata e da terra), jenipapo, pinha, jaca em abundância, laranja, limão, pitanga, acerola, abacaxi, cajá, milho, feijão-de-corda, cana-de-açúcar, além de horticultura, flores exóticas e pontos isolados de piscicultura. Tudo isso sem acompanhamento técnico adequado. Segundo relato do amigo André Luiz Evangelista, em outros tempos Ibicaraí também produziu café, algodão e fumo.
Nesse mesmo corredor de montanhas encontram-se as maiores riquezas naturais do município: mais de 110 nascentes que abastecem diariamente a cidade, além de importantes recursos minerais, como grafita (grafeno) e manganês - minerais cuja extração, segundo especialistas, poderia levar décadas e trazer riqueza para a cidade. Entretanto, nenhuma dessas riquezas supera a importância da água.
A região sul da Bahia, onde está localizada a cidade de Ibicaraí, tem uma precipitação natural de chuva durante o ano que ultrapassa 1.500, de acordo com o Governo do Estado (2011/2020), o que ajuda na manutenção das nossas nascentes no lado norte da cidade.
Nossas nascentes nascem a partir da região da Patioba, abastecendo o distrito de Salomeia, no lado oeste do município. Nas montanhas da região do Luxo, ao longo da estrada do Jacarandá, diversas nascentes nascem no topo da serra formam o Ribeirão do Luxo, afluente do Rio Salgado, responsável por abastecer a represa do saudoso Iris Benevides, no bairro do Luxo (Paletó).
Na estrada rural da Fazenda Sossego, seguindo pelo assentamento Santa Maria, passando pelas fazendas Cruzeiro do Sul, Cachoeirinha, seguindo até o Makakoassado e o sítio Cantinho da Paz (Senhora de Fátima), nascem diversas nascentes que descem das duas montanhas que protegem todo o seu percurso.
Mais adiante, ainda nesse corredor de montanhas, está a barragem da Tupã, localizada no meio da Serra do Córrego Grande, que atualmente responde por mais da metade do consumo diário de água da cidade. Segundo o estudo do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) de Ibicaraí (2010) essa barragem recebe água de aproximadamente 64 nascentes.
No lado leste do município, a Serra da Banha abriga diversas outras nascentes que abastecem as fazendas daquela região, o distrito Emílio Izabel (41) e o Ribeirão da Jussara, que leva água aos distritos de Cajueiro Novo e Cajueiro Velho.
O problema hídrico de Ibicaraí existe, principalmente pela ausência de uma barragem de acumulação. No entanto, a solução também está diante de nós: preservar esse corredor de montanhas por meio de políticas públicas ambientais eficazes e colocar em prática o PSA. O proprietário rural que possui nascente em sua terra precisa ser reconhecido como agricultor de água e remunerado pelo município para preservar esse patrimônio natural.
Agricultura: investir para produzir e fixar o homem no campo
Ibicaraí é um município de origem agrícola, com uma zona rural extensa e viva. Para fortalecer esse setor, são necessários investimentos básicos, começando por um cronograma anual de recuperação das estradas vicinais e ramais, facilitando o escoamento da produção do pequeno agricultor e pecuarista.
É fundamental que o poder público municipal disponha de uma equipe técnica com um agrônomo que circule regularmente pelas propriedades rurais, ouvindo demandas simples, muitas vezes resolvidas com boa vontade e planejamento. E para isso a Secretaria de Agricultura já possui duas motocicletas devem ser utilizadas pela secretaria para atender diretamente ao homem do campo.
O município conta com alguns assentamentos e associações que produzem alimentos e também necessitam de acompanhamento técnico contínuo. O campo clama por cursos de capacitação, manejo da terra, técnicas de plantio, irrigação e reaproveitamento de resíduos, entre outros. Parte do alimento que chega em nossa mesa é produzido pela agricultura familiar. Esse setor precisa de mais investimento e atenção.
Outro setor que precisa ser fomentado é o turismo rural ecológico. O meio rural de Ibicaraí é rico em história, belas e bucólicas fazendas de cacau, áreas de mata preservada, trilhas e inúmeras nascentes. O Balneário da Patioba é um exemplo claro de como uma antiga fazenda pode ser transformada em espaço de lazer, descanso e contemplação da natureza.
Revitalizar a Feira Verde próxima à Vila Emílio Izabel, às margens da BR-415, servindo como apoio para o pequeno agricultor daquela região é necessário. Outro ponto importante é tirar do papel o projeto do Viveiro Municipal, que vai servir para fornecer mudas nativas, exóticas e, principalmente, de cacaueiros, a preços simbólicos para o pequeno agricultor. O homem do campo precisa estar devidamente cadastrado e assistido e precisa voltar a plantar cacau e morar na roça - uma tendência que já começa a ressurgir.
No lado sul do município, onde predomina a pecuária leiteira, os investimentos precisam focar na abertura de poços artesianos em pontos estratégicos para os momentos de seca no verão, além da instalação de tanques de resfriamento de leite. Infelizmente, o único tanque enviado pelo Estado para Ibicaraí, foi instalado em uma área de predominância do cacau, evidenciando a falta de planejamento técnico na época.
Mais do que solicitar recursos, é preciso estudar e definir corretamente onde instalar tanques, casas de farinha e poços. Os interesses políticos precisam ficar de lado para que os investimentos cheguem a quem realmente precisa. Quem mais conhece o município somos nós e por isso o benefício que chega para o campo precisa ir para quem realmente precisa. Temos alguns poços artesianos no município sem uso, por estar em pontos e locais com água.
Como disse um dia o saudoso presidente Juscelino Kubitschek:
“Se investirmos cinco anos na agricultura, teremos cinquenta anos de fartura.”
INFRAESTRUTURA
SAAE
A infraestrutura é um dos grandes gargalos de Ibicaraí, especialmente no que diz respeito ao abastecimento de água. O SAAE precisa de modernização urgente, com melhorias na Estação de Tratamento de Água (ETA), implantação de um floculador e um decantador, instalação de hidrômetros nas casas e distritos de Ibicaraí, substituição de antigas adutoras de amianto por tubos de PVC e, sobretudo, a construção de uma barragem de acumulação de porte médio.
Embora uma barragem seja a solução ideal, o alto custo e a proximidade com barragens já existentes em Itapé e Floresta Azul dificultam a obtenção de recursos estaduais ou federais.
Uma alternativa viável está no topo da Serra do Córrego Grande, na fazenda de Abel de Furtuoso, onde existe uma barragem de médio porte que pode ser recuperada. A estrutura abriga mais de dez nascentes e poderia servir como reserva estratégica nos períodos de seca.
É importante dizer que a barragem fica em área particular o município precisa levar uma boa proposta para os proprietários disponibilizarem o local para ser alagado, além da reforma e ampliação da barragem. Uma sessão de uso de pelo menos 30 anos com uma boa remuneração mensal do local resolveria o problema.
SANEAMENTO BÁSICO
Este é, talvez, o desafio mais complexo do município. Ibicaraí não possui rede de esgoto mista nem Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Todo o resíduo produzido na cidade é despejado no Rio Salgado, transformando o nosso rio em um gigantesco esgoto a céu aberto.
A solução exige planejamento de médio e longo prazo, com a implantação de redes separadas para água pluvial e fluvial e esgoto e a construção de pequenas ETEs, reaproveitando os resíduos coletados pelas ETEs e transformando em adubo orgânico, que pode ser ofertado para o pequeno agricultor. Um projeto piloto poderia ser iniciado no novo loteamento (que está sendo construído) com 150 casas no bairro do Luxo.
Pensando nos próximo 20 anos, o município poderia aproveitar a topografia natural de descida e criar um canal lateral ao Rio Salgado, conduzindo os resíduos até a região da “Represa de Lauro”, onde seria implantada uma ETE Central. Seria uma solução definitiva e sustentável.
Como iniciar com esse ousado projeto de modernizar nossas redes de esgoto, criar ETEs e trocar nossas adutoras e investir no SAAE?
Eu penso na criação de uma taxa de manutenção de nascentes e esse dinheiro arrecadado mensalmente deveria cair em uma conta independente onde um conselho (de meio ambiente) pudesse fiscalizar e esse recurso seria investido parte no Pagamento por Serviço Ambienta (PSA), na preservação das nossas nascentes e parte na reestruturação das nossas redes de esgoto e nossas adutoras.
Quem pagaria essa conta? O povo! A taxa viria na conta de água, com isenção dos consumidores que pagam a taxa mínima e acrescentando R$ 1,00, R$ 1,50 e R$ 2,00 nas outras três faixas de consumidores e uma taxa extra mensal, para o comerciante local ou até mesmo uma pequena fatia extraída do ISS e das licenças ambientais. A médio prazo teríamos resultado e solução para o problema do esgoto de Ibicaraí, e o Rio Salgado agradeceria.
CALÇAMENTO E ASFALTO
Apesar de termos uma cidade quase toda calçada, a população sofre com os constantes reparos e as famosas operações tapa-buracos, proveniente do grande excesso de “barro borrachudo” no nosso subsolo. A Infraestrutura local precisa repensar a fórmula e fazer um estudo detalhado do nosso subsolo.
Como falei em outro tópico sobre saneamento básico, a troca e reestruturação da nossa rede de esgoto precisa vir acompanhada de uma revitalização das nossas vias com calçamento sextavado ou asfalto. O Governo do Estado tem um programa que está asfaltando boa parte dos municípios baianos. Alguém precisa chegar lá com um projeto em mãos e pedir. Se não pedir não chega e nesse caso é preciso deixar as divergências de lado e acontecer uma união em prol do melhor para Ibicaraí.
SAÚDE
Na atenção básica, Ibicaraí apresenta bons indicadores, com 100% de cobertura por meio de 11 Unidades de Saúde da Família. Existem falhas, como a falta de dentistas (em alguns postos) e os recessos de fim de ano com a falta de profissionais para atender a população. Doença não espera! Mas, é importante dizer que o serviço funciona.
O principal desafio está na média e alta complexidade. Uma solução estratégica seria pactuar o hospital (que já foi do Estado e hoje funciona como um grande posto avançado). Penso que regionalizar para atender Ibicaraí, Floresta Azul, Santa Cruz da Vitória e Itaju do Colônia seria a solução.
A estrutura existente comporta esse atendimento e desafogaria Itabuna e Ilhéus, além de aquecer o comércio local, gerando emprego e renda e movimentando a economia da cidade, fortalecendo o comércio, restaurantes, farmácias e transporte (táxi e mototáxi) dentro da cidade. Mas, para isso acontecer é preciso algumas coisas como o querer fazer; sentar com as cidades vizinhas e conversar e montar uma grande comitiva até Salvador e expor a ideia para o Governo do Estado.
É preciso avançar também na regulação, ampliar equipes médicas, fortalecer a Farmácia do Povo e garantir ambulâncias nos distritos. A saúde de Ibicaraí é boa, mas pode (e deve) continuar melhorando.
EDUCAÇÃO
Se existe um setor que sempre nos orgulhou foi a Educação. A extinta Faculdade Montenegro levou o nome de Ibicaraí para toda a Bahia e ainda hoje temos uma boa rede de ensino, tanto pública quanto privada. Tanto o estado como o município atendem bem o nosso aluno, faltando para os mesmos os cursos técnicos, para no primeiro momento entregar o jovem ao mercado de trabalho com alguma qualificação.
Apesar de termo uma boa educação, ainda sinto falta de um grande colégio estadual dentro do modelo que o Governo do Estado tem fornecido para muitas cidades baianas, tem um muito bom em Floresta Azul. O Governo do Estado precisa olhar para Ibicaraí!
Precisamos urgentemente de um concurso público; requalificação dos nossos profissionais de Educação e junto com a requalificação, uma política real de reajuste salarial. O educador precisa estar qualificado e bem remunerado.
INDÚSTRIA
Esse é o sonho de consumo de todo cidadão ibicaraiense que um dia viu ou ouviu falar da Coca-Cola. Independentemente do que seja feito ou como foi ou será feito, o atual ou futuro gestor ou gestora de Ibicaraí só vai marcar e fincar o seu nome na rica e bonita história de Ibicaraí, se conseguir via Governo do Estado ou Federal ou através da iniciativa privada uma indústria que gere pelo menos 200 empregos diretos para a cidade. Isso é um fato irrefutável e necessário para colocar de vez Ibicaraí de volta no rumo do progresso.
Tudo que descrevi parece um tanto utópico (sei que haverá divergências, pois toda unanimidade é burra), mas é real e possível, precisando apenas de muito trabalho, planejamento, seriedade com o erário público, continuidade no trabalho e o principal: dá o chute inicial. Se alguém começa, e dá certo, o próximo governante (com certeza) dará continuidade.
Arnold Coelho
Moro aqui e sonho com uma Ibicaraí cada vez melhor
















