Na Câmara, Joênia Wapichana costuma
abrir discursos em língua tradicional. 'Valores indígenas conduzem meu trabalho
como parlamentar', afirma.
Por
Marília Marques, G1 DF
Joênia Wapichana (Rede), deputada federal por Roraima — Foto: Marília
Marques/G1
"Kaimen!" – é com esse "bom dia" na língua do povo
Wapichana que a deputada federal Joênia Batista (Rede) costuma abrir os
discursos no plenário da Câmara. Eleita em 2018
por Roraima com 8,4 mil votos, a parlamentar se tornou a
primeira indígena a ocupar uma cadeira no Congresso Nacional.
Orgulhosa com a conquista, ela reconhece que nem sempre é fácil ser
diferente em meio a 513 parlamentares, em sua maioria
homens, brancos e que usam terno e gravata. A deputada
afirma que foi barrada duas vezes na portaria da Casa.
"No primeiro dia, checaram duas vezes se eu era deputada ou não,
mas agora o brochinho [parlamentar] facilita várias situações."
Por ocasião do Dia da Mulher, o G1 foi até o gabinete
231 do anexo IV da Casa conhecer a trajetória da mulher que, pelos próximos
quatro anos, vai trocar o convívio diário com seu povo, pelo dia a dia na
capital do país.
Mulher Wapichana
Joênia Wapichana, eleita deputada federal, foi a primeira indígena a se
formar em Direito no Brasil — Foto: BBC
Aos 46 anos, a parlamentar coleciona feitos inéditos no currículo.
Advogada, Joênia Wapichana é considerada a primeira indígena a se formar em
direito no Brasil, em 1997, pela Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Ela também se tornou mestre pela Universidade do Arizona, nos Estados
Unidos, e, no ano passado, foi premiada pela Organização das Nações Unidas
(ONU) pela atuação na área de direitos humanos. O prêmio já foi entregue a
personalidades como Nelson Mandela e Martin Luther
King.
Deputada Joênia Wapichana (Rede) em reunião com ministros, deputados de
Roraima e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) — Foto: Divulgação
Wapichana no Congresso
Com a "fala mansa" comum ao seu povo, como gosta de dizer,
Joênia explicou ao G1 que prioriza levar ao Congresso, e para
a vida, os aprendizados que a cultura indígena proporcionam.
"São os valores indígenas, como a escuta e a diplomacia, que
conduzem meu trabalho como parlamentar."
Joênia lembra que está no início do trabalho no prédio onde representa o
povo. Ela diz que, aos poucos, irá conquistar o espaço de indígenas, mulheres e
dos brasileiros da Amazônia na capital do poder.
"Dificuldades existem, mas vou conquistando os espaços aos poucos,
com a calma wapichana."
Joenia Wapichana, 43, foi a primeira mulher indígena eleita para a
Câmara dos Deputados — Foto: Reprodução/Facebook/Joenia Wapichana
Mulheres na política
Para Joênia, a entrada na política foi "por necessidade dos povos indígenas"
e não somente por escolha. Este ano, a eleição da parlamentar contribuiu para
a bancada feminina
na Câmara de Deputados alcançar 77 cadeiras. O número de
deputadas corresponde a 15% da composição da Casa.
"Sei que temos bastante desafios pela frente. O Congresso só tem 77
deputadas mulheres, mas foi um avanço", afirma.
Joênia Wapichana, eleita deputada federal, foi a primeira indígena a se
formar em Direito no Brasil — Foto: BBC
Para a deputada que assumiu o primeiro mandato, o ar de novidade na
capital do país trará desafios que, segundo conta, serão superados "com a
experiência de sempre ouvir os mais velhos e ser diplomata".
"O fato de eu ter mais de 20 anos formada em direito me deu uma
qualidade técnica de me manifestar e entender os procedimentos em qualquer
lugar. Fui preparada para assumir esse papel."
"O conhecimento que tenho das minhas prioridades torna meu trabalho
mais organizado. Sei o que quero, o que propor e onde quero chegar",
afirma.
"Meus objetivos estão bem claros, então consigo me posicionar e
saber quais caminhos trilhar."
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